quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Ex-primeiro-ministro timorense quer debate sobre compra de ações de consórcio petrolífero


Díli, 21 nov (Lusa) - O ex-primeiro-ministro timorense Mari Alkatiri, líder da maior força da oposição, defendeu hoje um debate nacional alargado sobre a operação de compra pela petrolífera Timor Gap das ações da ConocoPhillips no consórcio do Greater Sunrise.

"Precisamos de um debate nacional sobre esta questão porque o processo não só não tem sido claro, como tem sido muito obscuro", disse o líder da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), em declarações à Lusa.

Mari Alkatiri defendeu o debate numa publicação divulgada na página pessoal na rede social Facebook, quando o Presidente de Timor-Leste, Francisco Guterres Lu-Olo, está a analisar um conjunto de alterações legislativas, aprovadas pelo Parlamento, para permitir essa operação.

Em setembro, o representante especial para a questão do Mar de Timor, Xanana Gusmão, concluiu em nome do Governo timorense a compra de 350 milhões de dólares (312 milhões de euros) pela participação de 30% que a ConocoPhillips detém no consórcio dos campos petrolíferos do Greater Sunrise.

No intuito de financiar a operação da ConocoPhillips, o Parlamento timorense aprovou recentemente uma alteração legislativa ao diploma sobre operações petrolíferas para por fim do limite de 20% à participação máxima que o Estado pode ter em operações petrolíferas.

Essa alteração, que introduz ainda uma exceção ao regime de visto prévio da Câmara de Contas, está atualmente na Presidência da República para ser promulgada.

"O Fundo Petrolífero é um fundo soberano e a sua própria lei define como pode investir e que processo seguir. O processo é controlado por três órgãos de soberania - Governo, Parlamento Nacional e Presidente e mais dois +órgãos consultivos", disse.

"Importa perceber bem qual a intenção do curto circuito que se definiu na nova lei. Se não, cria-se um Estado dentro do Estado", disse à Lusa.

Alkatiri, que atualmente preside à Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), disse não ser contra o projeto de desenvolvimento da costa sul do país, Tasi Mane, relacionado com o projeto do Greater Sunrise, mas que é preciso mais debate tanto sobre o projeto em si, como sobre a compra de ações.

"Eu quero ser claro. Não sou contra o desenvolvimento de Tasi Mane. Mas sendo um mega-projeto deve haver estudos e gostaria que houvesse transparência e que todos nós possamos ter conhecimento desses estudos", disse.

Ao aludir à potencial volatilidade das bolsas e do preço do petróleo e o impacto no valor das ações da Conoco, Mari Alkatiri indicou ainda não ter visto qualquer projeção sobre a evolução dessas questões.

"Não sou contra o investimento, sou a favor, mas um investimento que não seja para infraestruturas básicas a nível territorial ou nacional, pode ser tão volátil como sãos voláteis as ações", disse.

"As ações que vamos adquirir custam mesmo 350 milhões, ou não. Até podem custar mais ou menos", afirmou.

Além da alteração legislativa referida, o Governo incluiu os valores para a operação na proposta de lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) como transferência para o Ministério do Petróleo e Minerais e para a Timor Gap.

ASP // EJ

Sem comentários: