Díli, 14 nov (Lusa) - O
Presidente timorense rejeitou hoje que o seu pedido de visita ao Vaticano,
chumbado pela maioria do Governo no parlamento, volte a ser votado,
considerando que se insere num "boicote sistemático" a toda a ação
externa do chefe de Estado.
Em declarações aos jornalistas,
Francisco Guterres Lu-Olo considerou "estranho" que depois de chumbar
o voto, e após uma suposta reavaliação da liderança da Aliança de Mudança para
o Progresso (AMP), as bancadas da maioria tenham decidido reconsiderar o
assunto.
"Não foi a primeira vez que
o parlamento cancelou uma visita. E nem digo cancelou: digo mesmo que foi um
boicote sistemático do parlamento, em relação a todas as minhas visitas. A
visita ao Vaticano foi o último boicote que a maioria parlamentar fez. Sobre as
outras visitas nem se pronunciaram", considerou.
Na semana passada o Parlamento
Nacional timorense chumbou a deslocação do Presidente da República, Francisco
Guterres Lu-Olo, ao Vaticano, devido à "situação do país", naquela
que foi a quarta recusa a uma viagem ao estrangeiro do chefe de Estado.
As bancadas do Governo continuam
a contestar o impasse em torno da nomeação de alguns membros do Governo que o
primeiro-ministro indigitou e a quem o Presidente da República não deu posse,
alguns por terem processos na justiça e outros por possuírem "um perfil
ético controverso".
Questionado sobre a questão,
Lu-Olo considerou que "não tem legitimidade nenhuma" os argumentos
das bancadas do Governo.
"Não vejo legitimidade
nenhuma. O facto de ter uma maioria, não significa que a maioria tem toda a
razão. É preciso pensar um bocadinho", afirmou.
"Eu disse, mesmo antes de
submeter o meu pedido para esta visita, que há problemas internos que devem ser
resolvidos dentro da nossa própria casa e que não têm nenhuma relação com a
visita do Presidente da República fora do país", considerou.
Lu-Olo falava aos jornalistas
depois de uma curta reunião com o presidente do Parlamento Nacional, Arão Noé
Amaral, que lhe transmitiu a vontade das bancadas do Governo reagendarem a
votação sobre o seu pedido de autorização de visita ao Vaticano, chumbado na
semana passada.
"No plenário de ontem
[terça-feira], as bancadas da AMP pediram para reagendar a questão e depois de
um debate chegou-se a acordo para que entrasse em comunicação com o senhor
Presidente sobre este assunto", explicou.
"Não quero comentar a
motivação das bancadas. Isso é sua competência. Eu estou aqui apenas como
gestor e para comunicar ao senhor Presidente", afirmou.
O chefe de Estado disse que o
parlamento tinha tomado a decisão e que na sequência do chumbo escreveu ao papa
a informar que era "impossível ao Presidente visita o Vaticano por causa
do chumbo" do parlamento.
O chumbo à visita do Presidente
da República foi fortemente contestado na sociedade timorense, maioritariamente
católica, suscitando amplo debate e críticas à postura das bancadas do Governo.
O presidente da Conferência
Episcopal timorense considerou que os consecutivos vetos do parlamento a
deslocações ao estrangeiro do Presidente da República, incluindo o chumbo à
visita ao Vaticano, "não ficam bem a Timor-Leste".
"Não sei o que está por
detrás, o que os leva a vetar sistematicamente a saída do Presidente. Mas acho
que isto não fica bem a Timor. Pelo menos não promove o nome de Timor na cena
internacional. Acho que os órgãos de soberania não podem funcionar por ajuste
de contas", disse Basílio do Nascimento.
ASP // SB
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