quinta-feira, 15 de novembro de 2018

PR timorense rejeita que o seu pedido de visita ao Vaticano volte a ser votado


Díli, 14 nov (Lusa) - O Presidente timorense rejeitou hoje que o seu pedido de visita ao Vaticano, chumbado pela maioria do Governo no parlamento, volte a ser votado, considerando que se insere num "boicote sistemático" a toda a ação externa do chefe de Estado.

Em declarações aos jornalistas, Francisco Guterres Lu-Olo considerou "estranho" que depois de chumbar o voto, e após uma suposta reavaliação da liderança da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), as bancadas da maioria tenham decidido reconsiderar o assunto.

"Não foi a primeira vez que o parlamento cancelou uma visita. E nem digo cancelou: digo mesmo que foi um boicote sistemático do parlamento, em relação a todas as minhas visitas. A visita ao Vaticano foi o último boicote que a maioria parlamentar fez. Sobre as outras visitas nem se pronunciaram", considerou.

Na semana passada o Parlamento Nacional timorense chumbou a deslocação do Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo, ao Vaticano, devido à "situação do país", naquela que foi a quarta recusa a uma viagem ao estrangeiro do chefe de Estado.

As bancadas do Governo continuam a contestar o impasse em torno da nomeação de alguns membros do Governo que o primeiro-ministro indigitou e a quem o Presidente da República não deu posse, alguns por terem processos na justiça e outros por possuírem "um perfil ético controverso".

Questionado sobre a questão, Lu-Olo considerou que "não tem legitimidade nenhuma" os argumentos das bancadas do Governo.

"Não vejo legitimidade nenhuma. O facto de ter uma maioria, não significa que a maioria tem toda a razão. É preciso pensar um bocadinho", afirmou.

"Eu disse, mesmo antes de submeter o meu pedido para esta visita, que há problemas internos que devem ser resolvidos dentro da nossa própria casa e que não têm nenhuma relação com a visita do Presidente da República fora do país", considerou.

Lu-Olo falava aos jornalistas depois de uma curta reunião com o presidente do Parlamento Nacional, Arão Noé Amaral, que lhe transmitiu a vontade das bancadas do Governo reagendarem a votação sobre o seu pedido de autorização de visita ao Vaticano, chumbado na semana passada.

"No plenário de ontem [terça-feira], as bancadas da AMP pediram para reagendar a questão e depois de um debate chegou-se a acordo para que entrasse em comunicação com o senhor Presidente sobre este assunto", explicou.

"Não quero comentar a motivação das bancadas. Isso é sua competência. Eu estou aqui apenas como gestor e para comunicar ao senhor Presidente", afirmou.

O chefe de Estado disse que o parlamento tinha tomado a decisão e que na sequência do chumbo escreveu ao papa a informar que era "impossível ao Presidente visita o Vaticano por causa do chumbo" do parlamento.

O chumbo à visita do Presidente da República foi fortemente contestado na sociedade timorense, maioritariamente católica, suscitando amplo debate e críticas à postura das bancadas do Governo.

O presidente da Conferência Episcopal timorense considerou que os consecutivos vetos do parlamento a deslocações ao estrangeiro do Presidente da República, incluindo o chumbo à visita ao Vaticano, "não ficam bem a Timor-Leste".

"Não sei o que está por detrás, o que os leva a vetar sistematicamente a saída do Presidente. Mas acho que isto não fica bem a Timor. Pelo menos não promove o nome de Timor na cena internacional. Acho que os órgãos de soberania não podem funcionar por ajuste de contas", disse Basílio do Nascimento.

ASP // SB

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