Ao ler os comentários (emocionais) da ex-deputada Ana Gomes em relação ao líder histórico da Resistência Timorense, publicados há alguns dias em vários órgãos de comunicação social, fiquei perplexo e escandalizado pela significativa falta de discernimento e de desconhecimento que esta dirigente do Partido Socialista português tem sobre a realidade actual timorense.
O observador menos atento, é minha convicção, após ter lido os comentários da Senhora, percebe de imediato que houve um objectivo premeditado em tentar colocar a figura mítica de Timor-Leste numa situação constrangedora e humilhante, como fazem os “Amigos da Onça”, quiçá, ao serviço de terceiros interesses.
Em termos de significação de conceitos e para me posicionar sem equívocos, considero que a expressão “amigo da onça” foi criada há muitos anos e tem como significado “figura malandra, debochada e irónica que gosta de levar a melhor sobre os outros”.
As expressões utilizadas pela Senhora Ana Gomes ao referir-se ao ex-Comandante das “Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste” (FALINTIL), Kay Rala Xanana Gusmão, referidas em órgãos de comunicação social, tais como:
“ar maltrapilho e perturbado”;
“até por temperamento, ele era dado a algumas atitudes coléricas”;
“foi de boca aberta que se viu o antigo Presidente a dormir ao relento”;
“parece estar desequilibrado”;
“admito que seja por questões do foro neurológico”;
que o estado do Katuas Xanana “pode ser resultado da velhice ou frustração por perder o poder”;
entre outras,
São a principal razão de ser da minha indignação pelo requinte utilizado por Ana Gomes em tentar ridicularizar uma figura histórica de Timor-Leste, amada pelo povo maubere, mas, igualmente muito grave, por ausência de qualquer fundamentação de carácter político, científico ou social.
Recordar alguns desequilíbrios de Ana Gomes
Como todos sabemos a ex-candidata presidencial, formada em direito, chefiou a missão diplomática portuguesa na Indonésia durante a luta de libertação, reconheço, com alguns aspectos positivos. Contudo, o temperamento desta senhora que conheci há mais de 30 anos na residência do Embaixador Fernando Reino, em Sintra, onde também estava a Senhora Carla Grijó, entre outros (não refiro os nomes por razões de ordem estratégica pessoal e partidária), é extremamente autoritário e muito emocional, agindo com frequência sem racionalidade, quase sempre sem fundamentação, apenas por impulso, amiúde de forma espalhafatosa.
Apenas com dois exemplos ilustrativos, demonstro o grau de ostentação, vaidade e arrogância desta dirigente do Partido Socialista português.
Quem não se recorda, em 2020,
desta mesma Ana Gomes, após ter visitado Cabo Verde, ter feito uma série de
denúncias contra o antigo Embaixador da União Europeia (UE)
No processo, em que a grande
iluminada Ana Gomes foi a denunciante, o então Embaixador da UE, José Manuel
Pinto Teixeira, agora Embaixador da Ordem de Malta
Ora, num processo iniciado por
Ana Gomes junto da União Europeia, posteriormente arquivado (!)
Um outro caso igualmente
escandaloso passou-se no âmbito das eleições na Etiópia,
O desconhecimento da situação política e social de Timor-Leste
As “análises” superficiais e abusivas de Ana Gomes não passam de comentários parciais e subjectivos e denotam o total desconhecimento da mesma em relação ao desenvolvimento político-partidário e social em Timor-Leste.
A dirigente do PS português, para espanto meu, ainda não percebeu qual é a actual disparidade entre as cidades e os campos em Timor-Leste, aliada à desigualdade social que cresce de dia para dia, e muito menos qual é o grau de envolvimento de Kay Rala Xanana Gusmão neste processo da actual luta de libertação.
Será que Ana Gomes compreende que a paralisação do sector agrícola de Timor-Leste é de tal forma gritante que a produção nacional nem consegue competir nos mercados “tradicionais”? E a total destruição dos combatentes da Pátria e dos bens que o país produziu à custa do seu suor e sangue? Tem noção de qual é o ponto de situação? Os diplomados que são produzidos nas universidades timorenses são absorvidos pelo mercado e pela sociedade? Será que Ana Gomes se apercebe da pobreza quantitativa e qualitativa que assola os sectores mais marginalizados da sociedade? Será que a preocupa sentir que as crises sociais podem passar a ser ininterruptas?
Perante a grave situação social, económica e política que atravessa Timor-Leste, Ana Gomes está preocupada porque Kay Rala Xanana Gusmão tem um “ar maltrapilho”? O que é ser “maltrapilho”? Vestir T-shirt e calças? Mahatma Ghandi, especialista em ética política, pelas suas vestes, também era “maltrapilho”? Está preocupada com a “velhice” de Kay Rala Xanana Gusmão, com 74 anos de idade, enquanto o Presidente do seu país tem 81 anos?
Afinal, quem “parece desiquilibrado”? Quem é a senhora, enquanto jurista, para produzir juízos de valor em relação ao estado de saúde do líder histórico da resistência timorense ao ponto de admitir que “haja questões de foro neurológico e que as mesmas se tenham agravado”?! Por acaso a Senhora é psicóloga clínica ou médica psiquiátrica? Elaborou algum exame médico à distância?
Senhora Ana Gomes, (grande) amiga da onça, não estrague a boa imagem de Portugal em Timor-Leste, penitencie-se, e ponha-se no seu lugar!
M. Azancot de Meneses -- PhD em Educação / Universidade de Lisboa
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