Fernando Pacheco considerou não ser "descabido pensar em relações que permitam a estes países enfrentarem os problemas complexos que o passado colonial e as conjunturas difíceis da atualidade trazem".
O analista angolano Fernando Pacheco defendeu, esta segunda-feira, que as antigas potências colonizadoras devem “pedir desculpas formais” por causa da escravatura e ajudar as ex-colónias a enfrentarem as atuais dificuldades, apoiando a educação e a investigação.
“Não é de agora que eu acho que deve haver um reconhecimento da parte das antigas potências colonizadoras que conduziram o triste tráfico de escravos“, afirmou esta segunda-feira o engenheiro agrónomo, apontando a necessidade de estas reconhecerem que a escravatura foi “um crime contra a humanidade”.
Para este ex-membro do Conselho da República no primeiro mandato governamental do Presidente angolano, João Lourenço, após este reconhecimento, as ex-potências colonizadoras devem “pedir desculpas formais” relativamente à escravatura, particularizando o caso das antigas colónias portuguesas.
“Em segundo lugar, [deve-se] analisar até que ponto é que essas antigas potências colonizadoras devem assumir um papel, não chamaria de reparação, mas um papel que permitisse aos países recém-independentes, principalmente os de língua portuguesa, enfrentarem as suas dificuldades”, disse à Lusa.
Salientando que as antigas colónias portuguesas lutam com muitas dificuldades, Fernando Pacheco, 74 anos, considerou não ser “descabido pensar em relações que permitam a estes países enfrentarem os problemas complexos que o passado colonial e as conjunturas difíceis da atualidade trazem”.
No seu entender, o mais importante, neste processo, “não é pensar em dinheiro”, mas em ações sólidas, como a atribuição de bolsas de estudos a estudantes angolanos, apoio ao sistema de ensino no geral ou apoio à investigação, sobretudo agrária.
“São alguns dos exemplos que penso que não são estapafúrdios, são coisas perfeitamente viáveis e que contribuiriam bastante para a melhoria da situação dos nossos países”, realçou.
Para Fernando Pacheco, académico e antigo quadro sénior do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975), “não há dinheiro que pague a reparação e os males terríveis da escravatura” e insistiu em ajudas às instituições públicas e privadas.
“[A] ajuda que seria de fornecer aos nossos países deveria ser canalizada não apenas para instituições públicas, mas também para instituições da sociedade civil que possam, de algum modo, melhorar o desempenho e a cultura democrática dos nossos países, porque, sem isso, o desenvolvimento dos nossos países vai ser muito difícil”, declarou.
Fernando Pacheco defendeu que esta ajuda seria fundamental, sobretudo devido à forma como as elites políticas e económicas de Angola “desbaratam” os recursos atuais.
A questão das reparações às antigas colónias foi retomada na sequência de declarações do Presidente da República de Portugal durante as celebrações do 50.º aniversário da revolução de 25 de abril de 1974.
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu, no sábado, que Portugal deve liderar o processo de assumir e reparar as consequências do período do colonialismo e sugeriu como exemplo o perdão de dívidas, cooperação e financiamento.
Contudo, o Governo liderado pelo social-democrata Luís Montenegro afirmou que “não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de ações específicas com o propósito” de reparação pelo passado colonial português e que se pautará “pela mesma linha” de executivos anteriores.
Observador | Lusa
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