Hong
Kong, China, 03 jun (Lusa) -- A investigadora Louisa Lim, que escreveu um livro
sobre o movimento pró-democracia de Tiananmen, considera que "a China tem
sido notavelmente bem-sucedida em eliminar a memória" da repressão de há
26 anos, mantendo-a em curso.
Louisa
Lim disse ter ficado "chocada com o nível de ignorância sobre as mortes
dos estudantes chineses em 1989" enquanto se dedicava à investigação que
resultou no livro "The People's Republic of Amnesia: Tiananmen
Revisited", publicado no ano passado.
"Quando
eu mostrava a fotografia icónica do homem à frente do tanque em Pequim, 85% dos
estudantes não faziam ideia do que mostrava a imagem ou de onde tinha sido
tirada", recordou à agência Lusa.
Para
Louisa Lim, "apesar do advento da Internet, a China tem sido notavelmente
bem-sucedida em eliminar a memória do movimento de Tiananmen e a sua repressão
mortífera" e "o facto de estes acontecimentos (...) estarem
amplamente esquecidos mostra o quão bem-sucedido o Governo tem sido em
intimidar a geração que os viveu e testemunhou".
"Pequim
tem conseguido tornar o preço da memória tão elevado que poucos estão dispostos
a pagá-lo", frisou.
A
madrugada de 04 de junho de 1989, quando o Governo decidiu pôr fim a quase dois
meses de protestos pró-democracia na capital e em outros pontos do país
mobilizando o exército, que saiu para a rua com tanques e disparou contra civis
desarmados, continua a ser um tema tabu. "Em termos de discussão pública,
é evidente que não há movimentos nesse sentido", frisou.
"Pelo
que temos visto até agora da era (do Presidente chinês) Xi Jinping, não há
sinais de qualquer avanço para uma reavaliação do movimento de Tiananmen. Pelo
contrário, tem havido uma tendência clara para punir quaisquer atos de
homenagem àqueles que morreram, até mesmo eventos de pequena escala, realizados
à porta fechada", adiantou.
A
académica ligada à Universidade de Michigan sustentou que "grupos de
direitos humanos no exterior estimaram que mais de 150 pessoas foram detidas ou
colocadas em prisão domiciliária no período de preparação para o aniversário do
ano passado".
"É
notável que a repressão não terminou com o aniversário, mas está em curso,
nomeadamente com a detenção do ativista Chen Yunfei, que enfrenta acusações de
incitação à subversão contra o poder do Estado e de instigar problemas após ter
visitado, em março último, o túmulo de um estudante morto em 1989,"
afirmou.
Louisa
Lim referiu ainda a publicação de uma carta aberta de 11 estudantes chineses no
estrangeiro, que motivou na semana passada uma resposta contundente do Global
Times, num editorial onde se lê que "a sociedade chinesa chegou a um
consenso para não debater o incidente de 1989".
"O
Global Times denunciou que os estudantes tinham sido alvo de 'lavagem cerebral
por forças estrangeiras hostis'. (...) Mas talvez este artigo tenha sido ele
próprio muito temido, uma vez que a versão chinesa foi apagada do 'site' pouco
tempo depois, demostrando que ainda não há espaço para a discussão
pública", referiu.
O
livro de Louise Lim, que revisita Tiananmen, aborda também a contestação na
cidade de Chengdu, outro "choque" com que a investigadora se deparou:
"Fui à procura de testemunhas, que me deram diários, fotografias e relatos
de atos extraordinários de brutalidade. O próprio Governo admitiu que oito pessoas
morreram em Chengdu, incluindo dois estudantes, mas a imprensa estrangeira
nunca conseguiu acompanhar esta questão".
"Foi
dececionante aperceber-me o quão facilmente os acontecimentos que estão de fora
da visão da imprensa ocidental podem ser esquecidos", concluiu.
FV
(ISG) // JMR
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