sábado, 13 de junho de 2015

PERITO NO COMBATE À FRAUDE EM PORTUGAL, BURLÃO EM MACAU


Condenado em Macau por burlas na saúde, Rui Sá fazia parte de grupo de trabalho do Ministério de Saúde sobre o tema. À pergunta da Renascença sobre como tal era possível, o Governo decidiu afastá-lo do cargo.

O ex-administrador hospitalar Rui Sá, condenado na semana passada em Macau por burlas cometidas com medicamentos, era até quinta-feira membro do grupo de trabalho criado pelo Ministério da Saúde português para combater irregularidades, precisamente na área do medicamento.

Em Macau, Rui Sá foi julgado e condenado por obter medicamentos através de receitas falsas. Em Portugal, representou durante o último ano e meio a Administração Central do Sistema de Saúde num grupo que tinha como objectivo estudar o combate a esse tipo de fraudes.

À pergunta da Renascença sobre como era possível que tal pudesse continuar a acontecer, o Ministério da Saúde decidiu afastar Rui Sá.

A pergunta da Renascença apanhou de surpresa tanto a Administração Central do Sistema de Saúde, como o próprio Ministério da Saúde. Depois de verificada, levou ao afastamento, praticamente imediato, de Rui Sá do grupo de trabalho.

As duas entidades consideram inadmissível, ou até bizarro, nas palavras de uma fonte contactada pela Renascença, que Rui Sá pudesse estar envolvido na prevenção exactamente dos mesmos crimes pelos quais acaba de ser condenado.

O esquema 

Rui Sá foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base em Macau a um ano e seis meses de prisão, pena que ficará suspensa durante dois anos, se, num prazo de 30 dias, pagar 232 mil patacas (pouco mais de 25.700 euros) aos serviços locais de saúde.

Ficou provado que, entre Maio de 2011 e Abril de 2012, enquanto administrador do Centro Hospitalar Conde de São Januário, Rui Sá obteve de forma fraudulenta medicamentos no valor de 139 mil patacas (quase 15.500 euros).

Fê-lo, convencendo dois cirurgiões daquele hospital a passarem receitas médicas em nome de dois portugueses residentes em Macau, simulando 70 consultas que nunca existiram.

O tribunal entendeu que tanto os médicos, como os utentes em nome dos quais foram passadas as receitas, não conheciam o esquema e que não deveriam ser responsabilizados.

Para além disso, o tribunal condenou também Rui Sá por falsificação de documentos: alterou a folha de ponto, de forma a receber a remuneração, mesmo nos dias em que não trabalhava, entre 2006 e 2011.

Entre as suspeitas, a investigação e o julgamento, Rui Sá viria a ser despedido por justa causa em Maio de 2012, com o argumento de que violou o dever de lealdade e o dever de honestidade para com a sua entidade patronal.

Curioso é que, nem dois anos depois, viria a ser convidado pela Administração Central do Sistema de Saúde portuguesa para integrar o Grupo de Trabalho de Combate às Irregularidades Praticadas nas Áreas do Medicamento e dos Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica.

Ocupou o cargo até a Renascença questionar a administração e o ministério.

Rui Sá, afastado na quinta-feira, já foi substituído por Salomé Estevens, também indicada pela Administração Central do Sistema de Saúde.

Celso Paiva Sol - Renascença

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