Díli,
15 set (Lusa) - O novo ministro do Estado de Timor-Leste, José Ramos-Horta,
considerou hoje que a líder da Birmânia, (Myanmar) Aung San Suu Kyi, está
"entre a espada e a parede" na questão dos direitos da minoria
muçulmana rohingya.
Em
declarações à Lusa sobre este tema, o também conselheiro para a Segurança
Nacional e antigo Nobel da Paz considerou que "é preciso prudência e
equilíbrio na comunidade internacional sobre a perceção da situação em
Myanmar".
Suu
Kyi, disse Ramos-Hora, "não tem qualquer poder, baseado na última
Constituição, em relação às forças armadas e à polícia de fronteira e
imigração, e não é ela que nomeia do chefe do Estado Maior das Forças Armadas
nem o ministro da Defesa".
Criticar
a líder birmanesa, defendeu Ramos-Horta à Lusa, "é prematuro e não é justo
porque ela está sozinha em Myanmar e perante os militares, perante a linha dura
dos budistas, dos monges ultranacionalistas, que estão a fomentar o ódio racial
religioso lá".
O
que é preciso, argumentou, "é identificar os verdadeiros responsáveis do
lado do Governo, os militares, e do outro lado, os extremistas dos 'rohingya',
mas no meio é o povo inocente que é a maior vítima".
A
antiga dissidente birmanesa e Nobel da Paz, acrescentou o agora ministro
timorense, "está entre a espada e a parede", porque é criticada pela
comunidade internacional, por um lado, por não defender os rohingya, e pelos
militares mais radicais, por outro, por não fazer o suficiente contra esta
minoria.
Para
Ramos-Horta, "em Myanmar há um problema grande que não existiu na África
do Sul nem em Timor-Leste, que é esta grande animosidade étnica e
religiosa", havendo "mais de 20 grupos armados, cada um deles baseado
na etnia".
"É
uma situação extremamente complexa de gerir", admitiu Ramos-Horta, que se
considera "uma das vozes mais consistentes sobre este tema desde há muito
tempo", lembrando que em julho de 1994 ministrou "clandestinamente o
primeiro curso de direitos humanos" a todos os grupos envolvidos no
conflito.
Segundo
a ONU, mais de 379.000 rohingya refugiaram-se no Bangladesh desde finais de
agosto para fugir à repressão do exército birmanês, que lançou uma operação
militar no oeste do país após uma série de ataques da rebelião rohingya.
O
porta-voz não usou o termo rohingya, mas bengali, a palavra normalmente usada
na Birmânia, onde se considera que aquela minoria migrou ilegalmente do
Bangladesh.
As
autoridades da Birmânia, de maioria budista, não reconhecem a cidadania aos
rohingya, cerca de um milhão de pessoas, impondo-lhes múltiplas restrições,
incluindo a privação de liberdade de movimentos.
Suu
Kyi, ex-dissidente birmanesa e Nobel da Paz, tem sido criticada por defender a
atuação do exército por várias personalidades, entre as quais o dalai lama e os
também Nobel da Paz Malala Yousafzai e Desmond Tutu.
ASP/MBA
// ANP
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