Os
países lusófonos devem intensificar a cooperação entre si para ajudar a
fortalecer os Ministérios Públicos e magistrados e aumentar a eficácia do
combate ao crime organizado e transnacional, defendeu hoje o presidente do
Parlamento timorense.
"O
crime organizado e transnacional esbateu as fronteiras dos Estados soberanos e
requer destes uma atuação concertada, em vários domínios, em especial, no
combate aos fenómenos criminais", disse Aniceto Guterres Lopes, na
abertura do 15.º encontro de Procuradores-Gerais da Comunidade de Países de
Língua Portuguesa (CPLP), que começou hoje em Díli.
"A
globalização e os desafios que trazem impõem que intensifiquemos a cooperação
entre os Estados-membros da CPLP e a Região Administrativa de Macau, em
especial, entre os Ministérios Públicos e os seus magistrados, com vista a
aumentar a eficácia no combate ao crime organizado e transnacional",
defendeu.
O
encontro de Díli conta com a participação dos procuradores-gerais de Angola,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e
Timor-Leste, que vão analisar, até sexta-feira, instrumentos e mecanismos de
cooperação, cibercriminalidade e tráfico de droga, entre outros.
No
discurso de abertura, Aniceto Lopes referiu-se aos "constrangimentos
específicos" que Timor-Leste enfrenta, tanto por o país estar ainda a
construir as suas instituições, como pela localização geográfica que suscita
preocupações adicionais: uma ilha numa zona de importância económica, política
e militar com várias rotas de comunicação marítima.
"O
mar a norte de Timor é especialmente importante, pela sua profundidade, para a
passagem de meios navais de interesse estratégico. A sul, o Mar de Timor é de
vital importância para Timor-Leste, já que é aí que se encontram os recursos
naturais mais importantes para o seu desenvolvimento, riqueza e bem-estar
económico e social", destacou.
Numa
altura em que Timor-Leste ainda está a tentar fechar a sua soberania na região,
com negociações de fronteiras com a Austrália e a Indonésia, o país olha com
mais urgência para "o desafio do combate a um conjunto de atividades
ilegais que têm lugar nesse espaço marítimo, como são o movimento de cidadãos
ilegais, o narcotráfico, o tráfico de pessoas e de mercadorias", frisou.
Sobre
a situação interna, o presidente do Parlamento timorense referiu-se às
"patogenias políticas e sociais decorrentes de prolongado conflito"
que se refletem com o "fenómeno muito particular de violência comunitária
com origem em grupos de artes marciais" e ainda as carências do sistema
judicial de Timor-Leste.
"O
nosso sistema judicial e as nossas instituições judiciárias estão ainda em
processo de construção e, por isso, os nossos magistrados, apesar do louvável
esforço que fazem, têm pouca experiência, que se faz sentir em quase todos os
domínios", afirmou.
Para
o presidente do Parlamento Nacional timorense, o encontro de Díli mostra a
"forte vontade em tirar o máximo proveito" da história e valores
comuns da comunidade lusófona e a vontade de "partilhar experiências e
conhecimentos, num invulgar espírito de solidariedade institucional".
"A
consolidação da CPLP passa necessariamente pela robustez institucional dos
Ministérios Públicos, traduzido no reforço das capacidades técnicas e
científicas dos seus magistrados, que deverão conduzir ao aumento visível da
eficiência e da eficácia da atuação dos Ministérios Públicos nos vários
domínios da sua intervenção, em especial na resposta aos fenómenos criminais,
com vista a contê-los num nível comunitariamente aceitável", disse.
Reiterando
uma defesa da independência da justiça, Aniceto Lopes considerou não haver
razões para duvidar do esforço em consolidar esse principio e que a sua
presença, um político, num encontro do setor judicial "não belisca, em
nada, a autonomia" do Ministério Público timorense ou da CPLP.
SAPO TL | Lusa
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