Um
legado divino e um luto que parecia eterno. Um ano depois da morte do rei
tailandês, o povo vai chorar por Bhumibol Adulyadej, num funeral avaliado em 80
milhões. O sucessor semeia reticências.
Há
pouco mais de um ano morreu Bhumibol Abulyadel, o rei da Tailândia que esteve
no trono durante sete décadas. As bandeiras, nas escolas e edifícios oficiais,
desceram no elevador da normalidade e estacionaram a meia haste. O luto ameaçou
até o stockde roupa preta, conta este artigo do El País. A história aqui é que o luto
durou um ano: o rei elevado a semideus será cremado esta quinta-feira.
Bhumibol
Adulyadej, que era venerado na Tailândia, onde é visto como uma figura
unificadora no país marcado por rivalidades políticas, chegou ao poder a 9 de
junho de 1946. A Tailândia, lembra outro artigo do El País, teve 19 Constituições e 19
golpes de Estado em 80 anos. O homem que nasceu nos Estados Unidos e estudou na
Suíça, sucedeu ao irmão mais velho, Ananda, que apareceu misteriosamente
baleado na cabeça no seu quarto no palácio real de Banguecoque.
No
início do reinado, já depois da abolição da monarquia absoluta no país, em
1932, o papel do rei foi ensombrado por uma série de líderes militares fortes.
Mas com o apoio de outros membros da família real e alguns generais, Bhumibol
Adulyadej fortaleceu o papel da monarquia, com uma série de visitas às
províncias mais remotas e através de numerosos projetos de desenvolvimento
agrícola.
Apresentado
como um semideus e benfeitor da nação, as suas imagens são omnipresentes no
país e o culto da personalidade foi reforçado após o golpe de Estado de 22 de
maio de 2014, realizado pelos militares em nome da defesa da monarquia.
A
cremação do rei divino terá lugar esta quinta-feira, no palácio em Ayuttaya, a
antiga capital, numa cerimónia onde se esperam milhares de tailandeses. Neste
evento nem elefantes vão faltar, pois simbolizam a monarquia daquele país, explica este artigo do Globo.
Este artigo do The Guardian conta que os melhores
artesãos do país trabalharam durante dez meses num crematório de ouro de 50
metros, que representa o Mount Meru, o centro do universo budista e hindu, onde
os reis tailandeses voltarão da morte. Essa estrutura terá imagens do rei em
vida, outras associadas à mitologia, e até duas estátuas dos seus cães
favoritos.
A
logística não é brincadeira. A cerimónia que durará cinco dias terá milhares de
voluntários, músicos e outros participantes. Segundo o mesmo artigo do The
Guardian, estarão ao serviço quase 80 mil seguranças. E o povo? Bom, esperam-se
cerca de 250 mil pessoas. Desde a morte do rei, a 13 de outubro de 2016, mais
de 12 milhões de pessoas prestaram homenagem diante do caixão.
Haverá
regras, já publicadas em panfletos e jornais, muitos estabelecimentos
encerrados, muitas lágrimas, flores e a proibição de tirar selfies. Haverá
isso tudo, incluindo o amanhã. E amanhã pertence ao príncipe Maha
Vajiralongkorn, um homem polémico, questionado pelo seu próprio povo, um
"errante".
Vajiralongkorn
foi designado o sucessor oficial há mais de 35 anos, conta este artigo do El País, embora o povo prefira
alegadamente a sua irmã. Desde então, este futuro rei, que estudou no Reino
Unido e na Austrália, tem somado alguns episódios pouco coincidentes com a
reputação do seu pai. A "trajetória impecável", como lhe chama o
diário espanhol, vacilou depois das crises amorosas que viveu. Três casamentos,
três casamentos falhados. A história até mete detenções de familiares da última
ex-mulher e títulos reais retirados.
Este
futuro rei tem fama de mulherengo, um título que está entranhado na sociedade
tailandesa. Há também vídeos e imagens que o comprometem. Mas é provável que
não se oiça ninguém a falar sobre o assunto, pois quaisquer difamação, insulto
ou ameaça estão previstos na lei com uma pena de até 15 anos de prisão.
Segundo
este artigo do El País, vários documentos recolhidos pelo WikiLeaks davam conta
da reticência de vários diplomatas, inclusivamente o embaixador norte-americano
no país, relativamente a Vajiralongkorn. À medida que a saúde do rei piorava,
aumentava e melhorava a saúde política de Vajiralongkorn, participando em mais
atos oficiais. Aos 64 anos, um errante vai herdar um país das mãos de um
semideus. Pelo meio, há um funeral que custa perto de 80 milhões de euros.
Hugo
Tavares da Silva com Sónia Santos Silva | TSF
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