Díli,
01 nov (Lusa) - Um quarto das jovens timorenses são mães antes dos 20 anos, com
a desigualdade de género, as elevadas taxas de violência sexual e a falta de
informação sobre saúde reprodutiva a contribuírem para essa situação, revela um
novo estudo.
O
estudo mostra que em muitos dos casos as gravidezes precoces são
"frequentemente e rapidamente seguidas por casamentos" contribuindo
para que 20% das adolescentes com 18 anos já estejam casadas.
"As
desigualdades de género profundamente enraizadas - incluindo altas taxas de
violência contra as mulheres e barreiras à saúde reprodutiva - desempenham um
papel nestes dados preocupantes", refere o estudo, que ouviu mulheres em
várias zonas urbanas e rurais timorenses.
Encomendado
pelo Grupo de Mulheres Parlamentares de Timor-Leste, o estudo foi realizado
pela Secretaria de Estado da Juventude e Desporto do VI Governo em conjunto com
o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e com a organização Plan
International.
Falta
de informação e os elevados níveis de violência contra as mulheres em
Timor-Leste - muitas das gravidezes resultam de violações - contribuem para que
o problema assuma "dimensões preocupantes", segundo responsáveis
envolvidos no estudo.
"Temos
atualmente um índice de 60% de violência entre parceiros íntimos em
Timor-Leste", notou Candie Cassabalian, especialista da UNFPA, citada numa
nota sobre o estudo.
O problema, referiu, é ampliado porque as restrições sociais normais tornam o acesso a contracetivos difícil, especialmente sem o consentimento dos maridos ou parceiros.
O problema, referiu, é ampliado porque as restrições sociais normais tornam o acesso a contracetivos difícil, especialmente sem o consentimento dos maridos ou parceiros.
"Mulheres
casadas, independentemente da sua idade, têm muito pouco controlo sobre o seu
próprio corpo e a sua fertilidade. Por isso, rapidamente, mulheres jovens
acabam por ter muitas crianças, o que lhes limita as oportunidades e as
escolhas ainda mais", frisou Cassabalian.
O
estudo refere que outro dos fatores que contribui para o problema é a falta de
uma educação sexual compreensivel. Algumas das mulheres e adolescentes ouvidas
para o estudo admitiram que não sabiam nada sobre sexualidade.
"Apesar
de a educação sexual fazer parte do currículo das escolas, muitas vezes os
professores não se sentem à vontade para divulgar a informação", explicou
Lala Soares, especialista de género do Plan International.
"Em
alguns casos contam-nos que quando chegam a este capítulo, rasgam as páginas
dos livros", acrescentou.
Mais
do que um diagnóstico do problema quantitativo e qualitativo do problema, o
estudo pretendia investigar formas de prevenção que ajudem a minimizar as
gravidezes na adolescência e os casamentos precoces.
Ainda
que o casamento seja o passo seguinte a uma gravidez não intencionada, muitos
pais e líderes comunitários lamentam a sua elevada prevalência, segundo o
estudo, que nota, porém, que o contexto social e familiar torna difícil às
jovens falarem abertamente de temas como a sexualidade.
"Com
a comunidade a enfatizar nos jovens a ideia de abstinência total, muitas dos
relacionamentos dos adolescentes ocorrem em total clandestinidade. Isso impede
os jovens de poderem fazer perguntas ou de ter acesso a informação e serviços
adequados", refere o estudo.
O
documento mostra que jovens, tanto rapazes como raparigas, sabem muito pouco
sobre os seus próprio corpo - ainda que quase todos tenham ouvido falar sobre o
sexo. E revela que "não sabiam os riscos de gravidez, HIV ou outras
doenças sexualmente transmitidas, como funcionava o sistema reprodutivo ou até
os sinais de gravidez".
"Quer
os jovens quer os pais pareciam desconhecer os riscos de saúde associados à
gravidez na adolescência", nota ainda.
O
estudo analisou ainda o acesso dos jovens a métodos contracetivos que considera
estarem "fora do alcance de jovens solteiros" e que "para jovens
mulheres casadas, também são usados raramente".
As
mulheres, nota, "estão sob pressão para ter mais filhos rapidamente e
muitas acreditam que há inúmeras consequências negativas para a saúde se usarem
contracetivos", com os preservativos, por exemplo, a serem vistos como uma
"licença para atividade sexual imoral".
"O
resultado é um número ainda maior de gravidezes na adolescência depois do
casamento, desta vez com uma pressão considerável da comunidade sobre a jovem
para que continue a aceitar estar grávida", refere a mesma análise.
ASP//
ATR
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