Pante Macassar, Timor-Leste, 20
set (Lusa) - O presidente da Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno
(RAEOA), Mari Alkatiri, disse hoje que está, com a sua equipa, a trabalhar nas
recomendações de um relatório de auditoria da Câmara de Contas timorense sobre
o projeto do enclave timorense.
Em declarações à Lusa, Alkatiri
desdramatizou igualmente a decisão do Congresso Nacional da Reconstrução
Timorense (CNRT), maior partido da coligação do Governo, de solicitar uma
auditoria adicional à RAEOA, afirmando que ele próprio já a tinha pedido.
"A auditoria que se está a
pedir já foi pedida por mim quando fui primeiro-ministro. Eu próprio pedi a
auditoria porque também quero saber exatamente como as coisas têm andado",
disse Alkatiri, que chefiou o VII Governo, minoritário, entre 2017 e as eleições
antecipadas deste ano.
Alkatiri reagia assim ao conteúdo
de uma carta de Xanana Gusmão, presidente do CNRT, ao Presidente da República,
em que diz que o seu partido vai propor uma comissão parlamentar para
investigar as responsabilidades "financeiras e disciplinares" por
infrações detetadas no projeto do enclave de Oecusse.
"A bancada do CNRT (...) irá
tomar a iniciativa de propor que seja constituída uma comissão de inquérito do
Parlamento Nacional a fim de que se assegure a execução das responsabilidades
financeiras e disciplinares por infrações detetadas pela Câmara de Contas,
neste volumoso dossier", escreve Xanana Gusmão na carta enviada a 10 de
setembro ao chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, e obtida hoje pela
Lusa.
O conteúdo do parecer, em que são
detetadas várias alegadas irregularidades, não foi até agora revelado
oficialmente pelo Tribunal de Recurso, mas partes do texto têm sido divulgadas
nas últimas semanas nas redes sociais timorenses.
Na carta, Xanana Gusmão diz que
vai distribuir cópias do relatório à imprensa. Excertos do documento têm sido
divulgados por páginas do CNRT e de alguns militantes do partido no Facebook.
Questionado sobre o relatório,
Mari Alkatiri remeteu declarações para mais tarde.
"Não quero comentar
publicamente sobre o relatório porque ainda estamos a responder às
recomendações. O relatório dá um prazo de seis meses, que vai até fevereiro de
2019, para trabalhar sobre as recomendações", explicou.
Alkatiri lamentou ainda o que diz
ser o "objetivo político" de divulgar elementos parciais do relatório
nas redes sociais, recordando que este "não é o primeiro relatório da
Câmara de Contas sobre instituições do Estado, mas o único que tem sido
politizado por uma certa corrente".
No rescaldo das eleições
antecipadas de maio - ganhas com maioria absoluta pela coligação AMP (que
integra o CNRT) - os líderes Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak (atual
primeiro-ministro) tinham afirmado que esperavam que Mari Alkatiri, líder da
Fretilin, se demitisse do cargo na RAEOA.
Os líderes da AMP chegaram mesmo
a prometer afastar Alkatiri na primeira reunião do Conselho de Ministros.
Questionado sobre esse aspeto,
Alkatiri disse que está no cargo porque foi empossado para tal pelos órgãos
correspondentes que "podem agora tomar decisões contrárias".
"Isso em nada me ofende. Se
me tivesse resignado ou demitido seria mais difícil tornar as coisas mais
claras [no que toca à auditoria]. Mas acho que tem havido mais ponderação por
parte do órgão de tutela e do senhor Xanana Gusmão, para não me tirar
daqui", disse.
"Mas isso pode ocorrer a
todo o momento, claro. O meu mandato termina a 30 de julho e até lá vou fazer o
melhor possível para colaborar", afirmou.
Sobre a situação política atual
do país, Alkatiri - que não falava alargadamente aos jornalistas desde junho -
disse que decidiu afastar-se "intencional e conscientemente".
"Há aqui um jogo entre
órgãos de soberania e eu estou fora de todos os órgãos de soberania e não quis
estar implicado nas contradições entre os órgãos de soberania", disse.
"Estando fora, embora
servindo o Estado, achei que devia abster-me de me pronunciar sobre isto e
continuo com esta postura", sublinhou.
ASP // VM
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