Rompendo o seu silêncio sobre o
caso, algo que lhe rendeu muitas críticas no exterior, Aung San Suu Kyi
defendeu ontem a condenação a sete anos de prisão de dois jornalistas da
agência Reuters, acusados de espionagem enquanto investigavam o massacre de
muçulmanos “rohingyas”.
“(A sentença) não tem nada a ver
com a liberdade de expressão, mas com a Lei de Segredos Oficiais”, disse a
líder birmanesa, durante o Fórum Económico Mundial para o Sudeste Asiático, que
terminou ontem em Hanói, capital do Vietname.
“Eles não foram condenados por
serem jornalistas, mas porque a Justiça decidiu que violaram a Lei de Segredos
Oficiais”, insistiu a vencedora do prémio Nobel da Paz, apelando ao respeito
pelo funcionamento do Estado de Direito e assegurando que os dois jornalistas
têm o direito de recorrer da sentença.
Os repórteres Wa Lone e Kyaw Soe
Oo foram presos na noite do dia 12 de Dezembro, após um encontro com dois
agentes policiais que, segundo os acusados, lhes entregaram documentos
supostamente confidenciais. Na altura, os jornalistas, que foram condenados no
início deste mês, investigavam um massacre de membros da minoria muçulmana
“rohingya” na aldeia de Inn Dinn, no estado de Rakhine.
Foram acusados pelas autoridades
de terem obtido documentos secretos sobre a operação militar em Rakhine, que o
Exército de Myanmar lançou há um ano, após uma série de ataques de um grupo
insurgente “rohingya” contra postos de fronteira. Mais de 700 mil “rohingyas”
fugiram para o Bangladesh devido a esta ofensiva militar, sendo que
investigadores da ONU encontraram elementos de “genocídio intencional”.
Por outro lado, Suu Kyi admitiu
que o Exército birmanês poderia ter “gerido melhor” a crise dos “rohingyas”,
que provocou o êxodo para o Bangladesh. “Claro que há coisas nas quais, ‘a
posteriori’, a situação poderia ter sido melhor tratada”, admitiu, ao ser
questionada pelo seu apresentador no Fórum.
“Mas, acreditamos que, para
garantir a segurança e a estabilidade a longo prazo, devemos ser justos com
todas as partes, e o Estado de Direito deve ser aplicado a todos. Não podemos
escolher quem deve ser protegido pelo Estado de Direito”, acrescentou.
Myanmar não reconhece a cidadania
dos “rohingyas”, que são considerados imigrantes bengalis e, por isso, sujeitos
a discriminação, incluindo restrições à liberdade de movimentos.
Jornal Tribuna de Macau com
agências internacionais |14.09.2018
Na foto: A líder de facto de
Myanmar manifestou apoio à decisão da Justiça birmanesa de condenar dois
jornalistas da agência Reuters, assegurando que o veredicto não envolve a
liberdade de expressão
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