domingo, 16 de setembro de 2018

Myanmar | Suu Kyi defende prisão de jornalistas da Reuters


Rompendo o seu silêncio sobre o caso, algo que lhe rendeu muitas críticas no exterior, Aung San Suu Kyi defendeu ontem a condenação a sete anos de prisão de dois jornalistas da agência Reuters, acusados de espionagem enquanto investigavam o massacre de muçulmanos “rohingyas”.

“(A sentença) não tem nada a ver com a liberdade de expressão, mas com a Lei de Segredos Oficiais”, disse a líder birmanesa, durante o Fórum Económico Mundial para o Sudeste Asiático, que terminou ontem em Hanói, capital do Vietname.

“Eles não foram condenados por serem jornalistas, mas porque a Justiça decidiu que violaram a Lei de Segredos Oficiais”, insistiu a vencedora do prémio Nobel da Paz, apelando ao respeito pelo funcionamento do Estado de Direito e assegurando que os dois jornalistas têm o direito de recorrer da sentença.

Os repórteres Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram presos na noite do dia 12 de Dezembro, após um encontro com dois agentes policiais que, segundo os acusados, lhes entregaram documentos supostamente confidenciais. Na altura, os jornalistas, que foram condenados no início deste mês, investigavam um massacre de membros da minoria muçulmana “rohingya” na aldeia de Inn Dinn, no estado de Rakhine.

Foram acusados pelas autoridades de terem obtido documentos secretos sobre a operação militar em Rakhine, que o Exército de Myanmar lançou há um ano, após uma série de ataques de um grupo insurgente “rohingya” contra postos de fronteira. Mais de 700 mil “rohingyas” fugiram para o Bangladesh devido a esta ofensiva militar, sendo que investigadores da ONU encontraram elementos de “genocídio intencional”.

Por outro lado, Suu Kyi admitiu que o Exército birmanês poderia ter “gerido melhor” a crise dos “rohingyas”, que provocou o êxodo para o Bangladesh. “Claro que há coisas nas quais, ‘a posteriori’, a situação poderia ter sido melhor tratada”, admitiu, ao ser questionada pelo seu apresentador no Fórum.

“Mas, acreditamos que, para garantir a segurança e a estabilidade a longo prazo, devemos ser justos com todas as partes, e o Estado de Direito deve ser aplicado a todos. Não podemos escolher quem deve ser protegido pelo Estado de Direito”, acrescentou.

Myanmar não reconhece a cidadania dos “rohingyas”, que são considerados imigrantes bengalis e, por isso, sujeitos a discriminação, incluindo restrições à liberdade de movimentos.

Jornal Tribuna de Macau com agências internacionais |14.09.2018

Na foto: A líder de facto de Myanmar manifestou apoio à decisão da Justiça birmanesa de condenar dois jornalistas da agência Reuters, assegurando que o veredicto não envolve a liberdade de expressão

Sem comentários: