Díli, 15 out (Lusa) - Acionistas
da seguradora timorense NITL trocaram hoje acusações sobre a responsabilidade
pela situação da empresa que levou à intervenção do Banco Central de
Timor-Leste (BCTL) e à apresentação de suspeitas de vários crimes financeiros
ao Ministério Público.
Em causa, está uma queixa
entregue pelo BCTL por suspeitas de fraude e lavagem de dinheiro, em particular
"um número de sérias irregularidades procedimentais e financeiras em
violação da Lei dos Seguros, incluindo desvio de fundos, cometidas por altos
responsáveis" da National Insurance Timor-Leste (NITL).
Eugene Ong, sócio minoritário da
NITL, acusou, em declarações à Lusa em Díli, o sócio maioritário, Collin Yap,
de ter desviado fundos para despesas pessoais e dinheiro para projetos noutras
empresas.
Collin Yap vive atualmente em
Singapura e nega qualquer irregularidade, acusando o BCTL de "motivações
políticas".
"O que o BCTL fez foi contra
a lei. Nenhum dos diretores foi chamado para entrevistas ou questionado. Nunca
me chamaram. E eu ofereci-me, diretamente a responsáveis do BCTL, para ir lá e
ser entrevistado. E eles nunca quiseram", afirmou Yap.
Ong possui 30 por cento da
empresa mas nunca fez parte do Conselho de Administração, que é nomeado por
Collin Yap (40%) e da empresa que este detém, a First Capital (30%).
Num dos seus comunicados sobre o
caso, em novembro de 2017, o BCTL contradiz essa informação, explicando que na
sua investigação notificou "os infratores envolvidos para que se
pronunciassem sobre os factos imputados, tendo a referida entidade e os seus
membros, apresentado defesas para o efeito".
O BCTL analisou
"exaustivamente" as "defesas apresentadas" - que nunca
identifica diretamente - tendo decidido condenar a NITL, um ex-membro e membros
do seu Conselho de Administração "pela prática de diversas infrações
simples, graves e muito graves".
Eugene Ong explica que a sua
motivação se deveu ao facto da empresa, segundo os seus responsáveis, não estar
a fazer dinheiro - apesar do aumento em clientes e valores assegurados e de
negócio no valor de 5 milhões de dólares por ano.
"Dei conta de que havia
valores elevadíssimos de despesas pessoais do Colllin cobrados à empresa.
Brincos de diamantes, viagens de ski ao Japão. Coisas que normalmente não
poderiam fazer parte dos gastos de uma empresa", afirmou.
Segundo documentos a que a Lusa
teve acesso, existem detalhes de compras de brincos de diamantes e outros
gastos (de outubro de 2014), em folhas de despesa da NITL em que a assinatura
de quem realizou as despesas e as autorizou era a mesma: Collin Yap.
O maior impacto nas contas da
empresa, porém, foi o desvio de 2,5 milhões de dólares da NITL para a empresa
Timor Capital Partners Asia (TCPA) - de que Collin Yap é sócio - para financiar
um projeto de construção de um hotel no enclave de Oecusse Ambeno, explica Ong.
Essa autorização de "avanço
de dinheiro" está num documento, a que a Lusa teve acesso, datado de 30 de
junho de 2014 e assinado pelos quatro membros do Conselho de Administração:
Collin Yap, Francisco Pereira, Thokur Shetty e Fong Ngang Seng.
Em parte, devido a esse desvio de
fundos, diz Ong, a NITL não pagou à sua resseguradora cerca de 1,2 milhões de
dólares, valor correspondente ao seguro das centrais elétricas timorenses em
2015, disse Ong.
"Esse documento é legitimo,
foi um empréstimo legitimo entre empresas. Dos 2,5 milhões, apenas foram
transferidos 1,9 milhões", garante Yap que diz estar desligado de
Timor-Leste "desde 2015", embora se mostre disponível para ser ouvido
pelo BCTL e para responder perante o Ministério Público.
Ong explica que depois de
confirmar a situação em que se encontrava a empresa foi ele próprio, em 2016,
denunciar a situação junto do Banco Central de Timor-Leste (BCTL), a entidade
que tem a tutela de supervisão do setor dos seguros no país.
Ong explica que a NITL tinha uma
"excelente reputação" no mercado, com mais de 500 clientes -
incluindo entidades internacionais como embaixadas e o Governo - e que essa
credibilidade se reforçou com o pagamento do maior desembolso de seguro: 1,3
milhões de dólares por um incêndio num armazém em Díli.
"É muito triste porque fomos
os primeiros e éramos líderes de mercado. E agora vemos outras empresas a comer
o mercado que nós fizemos e que credibilizámos", afirmou.
ASP // PJA
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