Díli, 23 nov (Lusa) - Um grupo de
27 jornalistas timorenses conclui hoje uma formação sobre "literacia
orçamental", conduzida com o apoio, entre outros, de vários especialistas
portugueses, no âmbito de um projeto do Camões e da União Europeia (UE).
Helena Garrido, a jornalista
portuguesa que coordenou a formação, disse à Lusa que foi uma "experiência
extraordinária" que, espera, ajude a que a cobertura do Orçamento Geral do
Estado (OGE) de 2019, atualmente em tramitação parlamentar "seja um
bocadinho melhor do que a de anos anteriores".
Analisando as duas semanas de
formação, Garrido disse ter ficado surpreendida com o facto de algumas
dificuldades de língua não terem sido problemáticas e, em particular, por
confirmar que a falta de conhecimento sobre estas matérias não é muito
diferente da dos alunos que encontra em Portugal.
"A falta de conhecimento não
é muito diferente de alguns alunos portugueses. Admito que exista a ideia de
que é pior, mas não é muito pior", afirmou.
Como exemplo deu a matemática
para jornalistas onde, diz, "a falta de conhecimento de à-vontade em lidar
com números não é aqui muito diferente do que aquela que encontramos em
Portugal".
Igualmente interessante, disse,
foi o facto de alguma falta do domínio da língua portuguesa acabar por ter
servido para ela própria, se forçar a usar uma linguagem mais simples e
acessível, algo que é importante no dia-a-dia dos jornalistas.
Num dos exercícios, e já a pensar
no OGE de 2019, os formandos escolheram os temas que consideraram prioritários
para as contas públicas.
"Se em Portugal as
hierarquias de temas eram impostos, funcionários públicos e pensionistas, aqui
escolheram saneamento básico, a educação, o Fundo Petrolífero e as
estradas", afirmou.
Intervindo no encerramento da
formação, o secretário de Estado da Comunicação Social, Merício Akara,
enalteceu o apoio de Portugal no setor da comunicação social a Timor-Leste, a
que soma esta iniciativa.
"As finanças públicas são
uma área de extrema importância em Timor-Leste. E ter jornalistas com capacidade de
informar de forma clara e sempre em língua portuguesa sobre esse assunto é
fundamental", disse.
O embaixador de Portugal em Díli,
José Pedro Machado Vieira, sublinhou a importância de ações como esta para
ajudar a melhorar "as competências dos jornalistas no acompanhamento dos
temas relativos à economia e finanças públicas e, em especial, aos assuntos
orçamentais e de supervisão das contas públicas".
"São temas complexos e muito
exigentes, mas de enorme importância para a qualidade das decisões de escolha
pública e o uso eficiente das finanças públicas. No final desta formação, os
jornalistas participantes estarão mais capacitados para analisar as questões
orçamentais e financeiras", referiu.
"A ação dos jornalistas será
agora mais rigorosa e mais responsável, melhorando assim o funcionamento das
instituições democráticas, a possibilidade de acompanhamento por parte dos
cidadãos mais informados e, com este, contribuir para a qualidade das opções do
Estado e do Governo", disse.
Alexandre Leitão, embaixador da
União Europeia em Díli destacou a importância dos jornalistas no reforço da
democracia e da boa governação.
"A comunicação social tem um
papel absolutamente determinante para a boa governação como tem para a
democracia. A comunicação social é talvez o principal instrumento de
comunicação entre o poder político e o resto da sociedade", disse.
A iniciativa foi desenvolvida
pela Unidade de Implementação do Camões, do Programa da UE de Parceria para a
Melhoria da Prestação de Serviços através do Reforço da Gestão e da Supervisão
das Finanças Públicas em Timor-Leste (PFMO).
Cofinanciado pela UE e
implementado com o modelo de cooperação delegada pelo Camões - Instituto da
Cooperação e da Língua, o projeto PFMO é um dos mais amplos programas de apoio
institucional em Timor-Leste.
O projeto conta com um
financiamento de 12 milhões de euros através do 11.º Fundo Europeu de
Desenvolvimento e de cerca de 600 mil euros do Camões, e divide-se em dois
componentes essenciais, nomeadamente o apoio orçamental ao Ministério das
Finanças e o fortalecimento e capacitação institucional.
ASP // PJA
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