Pequim, 12 set 2020 (Lusa) -- A
União Europeia e a China reúnem-se na segunda-feira numa cimeira extraordinária
virtual, num momento em que a Europa sente crescente frustração, face à
ausência de reformas estruturais na economia chinesa, segundo um analista.
O Presidente chinês, Xi Jinping,
vai reunir-se por videochamada com a chanceler alemã, Angela Merkel, o
Presidente francês, Emmanuel Macron, e os presidentes do Conselho Europeu e da
Comissão Europeia, Charles Michel e Ursula von der Leyen, respetivamente.
Uma cimeira extraordinária
UE/China esteve marcada para setembro em Leipzig, na Alemanha, mas a pandemia
de covid-19 levou ao seu cancelamento.
Os dirigentes europeus e chineses
já se tinham reunido por videoconferência en 22 de junho.
Segundo a agenda do Conselho
Europeu, além das relações económicas e comerciais, a reunião será consagrada
às alterações climáticas, a "outras matérias internacionais e assuntos
preocupantes", assim como à resposta à pandemia.
A UE está a negociar com a China
um potencial acordo de investimento que visa proteger os interesses comerciais
europeus na segunda maior economia do mundo.
As negociações para o acordo, que
tornaria mais fácil, por exemplo, aos investidores da UE comprarem
participações em empresas chinesas, visando tornar a relação recíproca,
arrastam-se há vários anos, alimentando a frustração dos líderes europeus e uma
"mudança na postura" face à China, explicou à Lusa o sinólogo francês
François Godement.
O conselheiro para a Ásia no
Institut Montaigne, em Paris, considerou que a União Europeia (UE) passou da
"crença exagerada" de que o envolvimento com a China "traria
mudanças por si só e integração", para uma postura de "cautela e
desafio", visando garantir que "os seus interesses não são desafiados
diretamente pela China".
Parte desta frustração deve-se à
ausência de reformas estruturais na economia chinesa, algo que resultou já numa
guerra comercial e tecnológica entre Pequim e Washington.
"Trata-se de uma admissão
fundamental por parte da UE sobre a falta de reforma e abertura na China. É
realmente sobre a era de Xi Jinping", apontou o analista, numa referência
ao atual Presidente chinês, que reverteu décadas de reformas económicas e
reforçou o domínio do Partido Comunista Chinês sobre a economia.
"As exigências dos europeus
são estruturais: libertar o mercado chinês de subsídios, abrir contratos
públicos e a indústria dos serviços", resumiu o sinólogo francês.
A mudança de posição da Europa
ocorre, no entanto, com mais discrição do que nos Estados Unidos, que passaram
a definir a China como a sua "principal ameaça", apostando numa
estratégia de contenção das ambições chinesas em todas as frentes.
Bruxelas adotou, nos últimos
anos, várias "medidas defensivas", incluindo a criação de um
mecanismo de triagem do investimento externo e um outro para travar aquisições
hostis durante a pandemia do novo coronavírus.
A Comissão Europeia aconselhou
ainda os Estados-membros a aplicarem "restrições relevantes" aos
fornecedores considerados de "alto risco" nas redes móveis de quinta
geração (5G), incluindo a exclusão dos seus mercados para evitar riscos
"críticos", numa alusão ao grupo chinês das telecomunicações Huawei.
"A Europa não segue as
mudanças de estratégia da administração dos Estados Unidos sob [Donald] Trump.
Não soa tão hostil ou agressiva. Estas medidas defensivas foram tomadas sem
nomear a China", notou Godement.
O analista disse, porém, que
apesar da discordância entre os dois lados do Atlântico em vários assuntos, a
atual administração norte-americana tem feito um esforço para formar uma frente
comum contra Pequim.
"Em muitas outras áreas, a
aliança precisa de ser recriada, mas no que toca à China há uma discussão
vigorosa", explicou.
"Os chineses são bons no que
eu chamaria de concessões contratuais, como prendas, para avançar com a sua agenda,
mas não concessões estruturais", apontou.
"O problema é que [estas
concessões] só são feitas a parceiros numa posição de força, e não àqueles onde
sentem fraqueza", disse.
JPI // FPA
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