Timor-Leste
Geografia
Antiga colónia portuguesa, invadida por tropas da Indonésia em
1975, é o primeiro novo país independente a surgir no século XXI.
Tem uma área de 15 007 km2 e, em
O seu território corresponde à metade oriental da ilha de Timor, situada no vasto
arquipélago indonésio, nas proximidades da Austrália.
Clima
Timor possui um
clima de características equatoriais, com duas estações anuais determinadas
pelo regime de monções.
A fraca amplitude térmica anual é comum a todo o território e só o regime
pluviométrico tem alguma variabilidade regional. Podem considerar-se três zonas
climáticas: a situada mais a norte é a menos chuvosa (menos de
A montanhosa zona central regista muita precipitação e um período seco de
quatro meses. Por fim, a zona menos acidentada do Sul, com planícies de grande
extensão expostas aos ventos australianos, é bastante mais chuvosa do que o
Norte da ilha e tem um período seco de apenas três meses.
Economia
O investimento secular de Portugal na sua
colónia timorense não foi suficiente para a desenvolver adequadamente, tendo
esta permanecido pobre até aos nossos dias. Foram, no entanto, construídas
algumas infraestruturas de saúde, ensino e transportes depois da Segunda Grande
Guerra.
O comércio de sândalo - uma das principais mercadorias do território - perdeu
importância e a sua única fonte de rendimento passou a ser uma modesta produção
de café.
O contributo dado pela Indonésia na
construção de infraestruturas foi superior ao de Portugal, apesar de
corresponder também a interesses próprios, como o do transporte mais rápido de
tropas ou da absorção sociocultural indonésia e descaracterização da cultura
própria timorense.
Grande parte das edificações foi destruída por grupos pró-indonésios no período
que se seguiu à declaração de vitória dos independentistas: bancos, hotéis,
escolas, centros de saúde, etc. A já débil economia timorense foi completamente
arrasada, tendo ficado dependente da cooperação
internacional para a sua reconstrução.
População
A população está estimada em 1 231 116 habitantes (2015) e a esperança média de
vida é de 67,72 anos.
A sociedade timorense conviveu durante quase três décadas com a opressão e a
violência. Simultaneamente, exibiu uma capacidade de resistência e uma vontade
de ser parte ativa no seu destino verdadeiramente ímpares, característica que
ofusca qualquer outra.
A heterogeneidade étnico-cultural é evidenciada pelos seus dialetos, variadas
línguas, materiais produzidos ou diferentes estilos arquitetónicos. Apesar de
maioritariamente católicos, os timorenses não se podem considerar inteiramente
convertidos, a avaliar pela rica tradição oral composta por lendas e mitologias
que remontam a tempos pré-coloniais.
Cerca de um terço da população existente em 1975 foi, até à entrada das tropas
das Nações Unidas, dizimada por ação indonésia.
História (clique)
Os primeiros contactos de portugueses com a ilha de Timor datam dos
inícios do século XVI: após a conquista de Malaca e
consequente domínio dos mares e do comércio da Insulíndia, o
sândalo atraiu navegadores portugueses, que terão chegado à ilha por volta de
1514; em 1556, chegavam os primeiros missionários.
A conquista foi lenta, tendo encontrado numerosos obstáculos, desde as
resistências locais até aos ímpetos expansionistas de outras nações asiáticas e
à conquista holandesa. Portugal ficaria senhor de metade da ilha, não sem
alguns problemas de soberania, que deram origem a "guerras de
pacificação".
Na Segunda Guerra Mundial a colónia foi invadida e ocupada pelos japoneses.
Entre 1942 e 1945, o território foi palco de combates que opuseram o exército
imperial japonês e uma heterogénea coligação de esforços militares (comandos
holandeses e australianos, degredados portugueses e timorenses), sem que Portugal tivesse
intervenção direta no conflito.
Com o fim da guerra, Portugal readquiriu
o domínio sobre Timor,
seguindo-se um período de quase três décadas em que não se manifestaram
movimentos independentistas. Mesmo as guerras nas colónias africanas não
encontraram eco na longínqua Timor.
A razão para a ausência de sentimentos ou movimentos defensores da
independência da colónia poderá residir no facto de o domínio português ter
funcionado, ao longo de séculos, como aglutinador de vários povos e defensor da
identidade étnica, cultural e política da região face aos vários expansionismos
em ação na Insulíndia;
além disso, a presença portuguesa não assumiu um carácter de exploração
económica, visto que a precária economia timorense era dominada por uma pequena
burguesia de origem chinesa, há muito estabelecida no território.
Após o 25 de abril de
A liberdade de formação de partidos políticos, prontamente aproveitada,
permitiu o aparecimento de diversas formações partidárias:
a União Democrática Timorense (UDT), partidária de uma autonomia
progressiva dentro do espaço imperial português, que evoluiu para a proposta de
uma independência a curto prazo; a Associação para a Integração de Timor na
Indonésia (AITI), mais tarde denominada APODETI; a Associação
Social-Democrática Timorense (ASDT), que mais tarde veio a adotar o nome de
Frente Revolucionária de Timor Leste (FRETILIN), partidária da independência
imediata; outros pequenos partidos, não reconhecidos pelas autoridades
portuguesas, como a Associação Popular Monárquica Timorense e o Partido
Trabalhista.
Os motores da política local foram os três primeiros partidos mencionados, que
o governador Lemos Pires procurou associar numa coligação que garantisse a
transição pacífica.
Em julho de 1975, Portugal reiterou
o direito do povo de Timor à
autodeterminação e à independência, não conseguindo, no entanto, refrear os
ânimos. Uma fugaz coligação entre a UDT e a FRETILIN (janeiro a maio de 1975)
falhou e Timor caiu
rapidamente numa situação de guerra civil.
A UDT tentou apoderar-se do poder por meio de um golpe de Estado, seguindo-se um
contragolpe da FRETILIN. Timor mergulhou na violência fratricida e o
governador, destituído de orientações precisas de Lisboa e sem
força militar suficiente para reimpor a autoridade portuguesa, abandonou a
capital e refugiou-se na ilha de Ataúro.
Em 28 de novembro de
Em consequência destes acontecimentos, Lemos Pires abandonou em definitivo o
território. A Indonésia justificou a invasão alegando a defesa contra o
comunismo, discurso que lhe garantiu as simpatias dos governos americano e
australiano, entre outros, mas que não impediu a sua condenação pela comunidade
internacional.
À invasão indonésia seguiu-se uma das maiores tragédias do pós-guerra. A
Indonésia recorreu a todos os meios para dominar a resistência: calculam-se em
duzentas mil as vítimas de combates e chacinas; as forças policiais e militares
usavam sistemática e incontroladamente meios brutais de tortura; a população
rural, nas áreas de mais acesa disputa com a guerrilha, era encerrada em
"aldeias de recolonização"; procedeu-se à esterilização forçada de
mulheres timorenses.
Simultaneamente, a fim de dar ao facto consumado da ocupação um carácter
irreversível, desenvolveu-se uma política de descaracterização do território,
quer no plano cultural (proibição do ensino do português, islamização), quer no
plano demográfico (javanização), quer ainda no plano político (integração de
Timor na Indonésia como sua 27.a província).
A esta descaracterização há que acrescentar a exploração das riquezas naturais
através de um acordo com a Austrália para
a exploração do petróleo do mar de Timor.
No terreno, a guerrilha não se rendeu, embora com escassos meios materiais,
humanos e financeiros e apesar de ter sofrido pesados desaires, como a deserção
de dirigentes e a perda de outros, por morte em combate (Nicolau Lobato) ou por
aprisionamento (Xanana
Gusmão).
Embora reduzida a umas escassas centenas de homens mal armados e isolados do
mundo, conseguiu alargar a sua luta ao meio urbano (manifestações de massas) e
manter no exterior uma permanente luta diplomática, para o que contou, em
muitas circunstâncias, com a compreensão e o apoio da Igreja Católica local,
liderada por D. Carlos Ximenes Belo, bispo de Díli.
Simultaneamente, no exterior, Portugal, que nunca
reconheceu nem a declaração unilateral da independência pela FRETILIN, nem a
anexação pela Indonésia,
mobilizou a comunidade internacional para a resolução do problema.
Organizações humanitárias, como a Amnistia
Internacional, denunciaram as violações dos direitos humanos e as conivências
com o invasor; a Organização das Nações Unidas recusou reconhecer a anexação,
continuando a considerar Portugal como
potência administrante, e encarregou o seu secretário geral de diligenciar no
sentido de encontrar vias diplomáticas para a resolução pacífica do conflito e
para a garantia do direito dos timorenses à autodeterminação e à independência.
A atribuição, em 1996, do Prémio Nobel da Paz a D. Carlos Ximenes Belo e a José Ramos-Horta,
porta-voz internacional para a causa de Timor-Leste, indiciou uma
consciencialização a nível internacional em relação a Timor-Leste.
Em 1998, o general Suharto deixou o poder e foi substituído pelo
vice-presidente Habibie. O regime começou então a dar sinais de abertura.
Em maio de 1999, representantes das Nações Unidas foram enviados para
Timor-Leste como observadores e para preparar o referendo sobre a
autodeterminação dos timorenses, que se veio a realizar a 30 de agosto de 1999,
obtendo o resultado de 78,5% de votos a favor da independência de Timor-Leste.
Desde então o território passou a ser denominado Timor Loro Sae.
Na sequência dos resultados, enormes massacres sucederam-se por ação indonésia,
sem que a comunidade internacional conseguisse intervir e pôr fim à violência.
No entanto, ao fim de algum tempo, uma força internacional, denominada
Interfet, foi enviada para o território com o objetivo de assegurar a paz.
A 19 de outubro de 1999, o Parlamento da Indonésia anulou o decreto da anexação
de Timor-Leste como 27.a província da Indonésia.
Xanana Gusmão,
entretanto libertado pelos indonésios, assumiu a liderança do Conselho Nacional
de Resistência Timorense (CNRT) e passou a representar Timor nas suas
ações diplomáticas pelo mundo e junto às Nações Unidas.
Iniciou-se um período de transição política até à realização de eleições,
estabelecimento da Assembleia Constituinte e independência.
A 14 de abril de 2002, Xanana Gusmão foi
eleito presidente da República e a 20 de maio o país conquistou em definitivo a
independência.
Ainda em
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