Macau,
China, 30 ago (Lusa) - Cerca de 100 patrões de empregadas domésticas
protestaram hoje, nas ruas de Macau, contra o que consideram abusos das
profissionais, depois de um bebé ter morrido após agressões de empregada
vietnamita.
A
morte de um bebé de dois meses na sexta-feira, no Hospital Conde de São
Januário, que alegadamente foi abanado violentamente pela empregada, foi o
grande pretexto dos manifestantes, que admitem tratar-se de um caso extremo,
mas queixam-se de "muitos pequenos problemas".
Com
vagas insuficientes nas creches, é comum as famílias de Macau empregarem uma
trabalhadora doméstica a tempo inteiro - parte delas reside mesmo com os
patrões. Ainda assim, e sendo estas trabalhadoras altamente requisitadas, a
profissão é, em grande parte, pouco regulada, motivo de queixas, tanto da parte
laboral como patronal.
"Queremos
que o Governo reconheça o problema com as empregadas domésticas. As agências
[de recrutamento] não são reguladas. Permite-se às pessoas entrarem com vistos
de turistas para procurarem emprego. Não há regulação sobre quem pode vir
ajudar-nos em casa", critica Ao Ieong, presidente da União de Empregadores
dos Serviços Domésticos de Macau.
Em
concreto, a união deseja que o Governo avance com legislação própria para o
trabalho doméstico, considerando que a lei laboral "não se aplica
bem" a estes casos.
Macau
conta, no entanto, com uma lei da contratação de trabalhadores não-residentes
que estipula, entre outras coisas, que os trabalhadores não-locais têm de
regressar ao seu país de origem por seis meses em caso de cessação do contrato
- nos casos excecionais em que tal não é obrigatório, como despedimentos sem
justa causa, têm seis meses para encontrar um novo trabalho em Macau, mas
sempre na mesma área.
Os
empregadores queixam-se que é comum as empregadas quererem mudar de família ao
fim de alguns meses ou começarem a fazer limpezas nos casinos, onde os salários
são superiores.
"Toda
a gente tenta conseguir mais dinheiro, tentam mudar de família ao fim de alguns
meses. Se outra família oferecer mais 500 patacas [cerca de 50 euros], vão-se
embora, não seguem o contrato", queixa-se Ao Ieong.
A
união não vê o caso do bebé que não resistiu às lesões como "uma
consequência direta da situação da lei", mas acredita que muitos dos que
participaram no protesto "têm muitos pequenos problemas". "Temos
casos de pessoas que têm empregadas que deram palmadas nas crianças, não são
casos muito graves, mas são problemas", diz.
Sofia,
de 28 anos, mãe de um bebé, não tem queixas da sua empregada - é, aliás, graças
a ela que pôde comparecer na manifestação, explicou - mas diz-se preocupada com
as histórias dos outros. "Não ouviu a notícia do bebé que morreu? Os meus
amigos tiveram tantos problemas, coisas roubadas, empregadas que trabalham
pouco e saem muito", comenta.
Posição
semelhante tem Su, de 33 anos, que não tem queixas da empregada que toma conta
dos seus dois filhos: "Estamos muito indignados com o caso da empregada
vietnamita que causou a morte do bebé de dois meses. As pessoas contam muitos
casos de violência na Internet. Além disso, as empregadas acabam sempre por ir
para os casinos e causam problemas às famílias. Quero que o Governo mude a lei,
de modo a que a qualidade das empregadas seja superior."
Justin
e Kasia já se despediram de empregadas duas vezes: no primeiro caso, a
trabalhadora decidiu trocar as lides domésticas por um restaurante; no segundo
foram eles que a despediram porque "tentou roubar coisas" e os
"enganava".
"O
mais importante é que não mudem a natureza do trabalho e se despeçam para ir
para o casino. Muitas trabalham alguns meses e depois querem mudar", diz
Kasia, que acredita que existem "casos escondidos" de violência para
com crianças.
"A
lei é estúpida. Mesmo que deixem o emprego temos de lhes pagar o bilhete de
volta ao país de origem. Esperamos que a lei possa ser mudada. Não é justo para
nós, a lei só protege o empregado", remata.
ISG//
ATR
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