Rui Peralta, Luanda – Página Global
Bitcoin
(BTC) é uma moeda, ou melhor, uma cripto-moeda (termo utilizado para as moedas
digitais passiveis de encriptação) e um sistema de pagamento
"online", baseado num protocolo de código aberto, independente de
qualquer autoridade central. Um BTC pode ser transferido por um computador ou
telemóvel sem recurso a uma instituição financeira intermediária. Este conceito
foi introduzido em 2008 por um grupo denominado Satoshi Nakamoto que designou
este sistema electrónico de pagamento “peer to peer” (P2P). O conceito Bitcoin
também se refere ao software de código aberto que este grupo projectou para
utilizar-se a moeda e a respectiva rede P2P.
A
BTC utiliza bancos de dados distribuídos pela rede P2P para registar as
transacções e utiliza a
encriptação
para proteger e assegurar as transacções e o uso da moeda, evitando
falsificações, duplicações de movimentos, etc. Os usuários podem transaccionar
directamente uns com os outros sem intermediário. As transacções são registadas
no “blockchain” uma espécie de livro-razão de contabilidade pública. São
permitidas transferências semianónimas e as BTC podem ser salvas em forma de
arquivos, ou em serviços de carteira online provido por terceiros.
As
BTC podem ser enviadas para qualquer parte do mundo ou para qualquer pessoa que
tenha um endereço bitcoin. A topologia P2P e a ausência de uma administração
central inviabiliza a manipulação (por parte de autoridades financeiras ou de
governos) da emissão e do valor da moeda ou que induza inflação “imprimindo”
notas. No entanto isto não impede que grandes movimentos especulativos por
parte da oferta ou da procura possam provocar oscilações no valor da BTC.
Como
comprar, Investir e Acumular BTC
O
BTC é um produto tecnológico (uma tecnologia) e, também, uma moeda. Pode ser
adquirido de duas formas: 1) o comprador adquire a quantidade de BTC necessária
para o investimento ou aquisição a realizar 2) o comprador adquire a moeda para
acumular capital.
O
software da Bitcoin produz os endereços Bitcoin para cada entidade que adquire
BTC. O proprietário de cada endereço possui uma palavra passe com a qual
efectua as suas aquisições, investimentos e transacções. Ao comprar BTC para o
seu endereço, o comprador gera uma carteira. Estas carteiras podem ser
autogeridas pelo proprietário ou podem ser co-geridas entre o proprietário e o
software. A autogestão da carteira oferece maior privacidade, mas é
aconselhável apenas para que tem um bom domínio em informática, ou se sinta
confortável com a aplicação informática. Claro que a autogestão da sua carteira
comporta mais riscos, como, por exemplo, esquecer a palavra-passe, o computador
ser invadido por hackers e a palavra-passe ser roubada, etc.
A
BTC pode ser adquirida através de serviços como Coinbase, Circle, itBite,
Gemini e a operação será efectuada através da sua conta bancária. Pode também
adquirir por troca com outros usuários que pretendam a sua moeda local, além de
serviços como a Bitcoin ATM (por ATM) ou agências de câmbio como a Local
Bitcoins ou a Mycelium Local Trader.
Se
não tem qualquer plano para investir as suas BTC pode, simplesmente acumulá-las
até arranjar um, ou investir no GBTC, um produto financeiro que em algumas
legislações fiscais comporta vantagens tributárias.
Algumas
desvantagens do investimento em BTC
1) Os
parâmetros da moeda podem ser alterados. A quantidade de BTC está limitada a 21
milhões. Em cada 4 anos são introduzidas novas BTC no mercado o que gera
desvalorização periódica, pelo menos em ciclos de 4 anos;
2) Ataques
á rede. É certo que a descentralização e a inexistência de uma autoridade
central, impede que a rede deixe de funcionar, pois não existe um nucelo
central a ser atacado. De qualquer forma os ataques cibernéticos às carteiras
de investimento dos usuários constituem um risco que deve ser levado em conta.
3) Bloqueio
á moeda. Este é um problema complexo e que pode tornar-se frequente. Suponha-se
que, por exemplo, que o tráfego no ciberespaço chinês fica bloqueado para o
exterior durante 24 horas ou mais. OS usuários chineses continuarão a utilizar
o sistema mas a rede desconhece os valores das suas transacções. Isto implicará
diferentes valores no mercado para as mesmas aquisições, uma vez que na China
as transacções efectuar-se-ão ao valor último indicado, enquanto no resto do
mundo se efectuarão on-line. Em última análise este factor poderá ter sérias
implicações no valor da BTC.
4) O
risco das autoridades nacionais pretenderem centralizar, no seu espaço, as
transacções em BTC. É um risco real, se atendermos a algumas manifestações
“anti-globalizadoras” que andam nos gabinetes de determinados núcleos do Poder.
5) Volatilidade.
A BTC é um investimento volátil. Esta volatilidade aumenta em função da
pluralidade de culturas de investidores, ou seja das diferentes abordagens aos
investimentos. Por exemplo: os investidores chineses têm um comportamento
similar ao jogador de casino. Esta abordagem, quando cruzada com as maiores
precauções dos investidores europeus, ou com a abordagem de poker dos
norte-americanos torna imprevisíveis os resultados.
Algumas
vantagens do investimento em BTC
1) Ascendente
número de usuários e negócios em BTC. Isso permite uma valorização da moeda.
Por isso o aumento da procura não tem um impacto significativo nos preços, conforme
se pode verificar em 2015, em que as transacções cresceram exponencialmente,
mas os preços não sofreram aumentos significativos e, em alguns, casos nem
subiram.
2) A
BTC é a primeira moeda digital a ser movimentada no mercado internacional. Tem
uma capitalização de 6,5 mil milhões de USD, enquanto as duas moedas digitais
directamente competidoras (Ripple e Litecoin) têm uma capitalização de 268
milhões e 164 milhões de USD, respectivamente.
3) A
BTC cresce de importância e de valor no mercado. Tem cada vez mais utilizações
e aplicações.
4) Moeda
ideal para os investimentos em novas tecnologias. Por outro lado é possível o
desenvolvimento de novas plataformas tecnológicas alicerçadas exclusivamente em
BTC e moedas digitais, além de tornar possível gerar novas concepções de
investimento em sectores alternativos e por sectores alternativos.
5) Diversificação
do portfolio de investimentos. A diversificação no seio dos usuários da BTC
(indivíduos, famílias, pequenos investidores, tecno-investidores, investidores
em fuga da crise, etc.), as suas diferentes origens culturais, cria
oportunidades únicas de investir em sectores alternativos, ou de estabelecer
negociações que de outra forma não seriam efectuadas.
A
BTC em África
No
continente africano a oferta e a procura de moeda digital é crescente. Empresas
africanas como a Igot, Beam, BitPesa e a BitX, demonstram uma performance
crescente. As remessas de emigrantes africanos para os seus respectivos países
e das comunidades imigrantes que residem em África são um nicho de mercado
importante e que representam um factor fundamental para a implementação da
moeda digital no continente.
Os
cerca de 30 milhões de africanos que vivem na diáspora enviam para África cerca
de 40 mil milhões de USD por ano. Os custos dessas remessas são elevados e
geram lucros de cerca de 1,4 mil milhões de USD a empresas como a Western Union
e a Money Gram, que dominam os mercados africanos, com quotas de mercado acima
dos 50%. Por outro lado as restrições inerentes a esse sistema (tecto de 200
USD por envio) dificulta os envios, além de que muitas economias africanas
ainda não entenderam a importância da emigração e os respectivos sistemas
bancários não aproveitarem devidamente esse nicho de mercado.
A
BTC permite a redução de custos e de tempo. A maioria das empresas de
transferências em BTC pratica taxas de 3%, muito menos que as taxas praticadas
pelo sistema bancário. Por outro lado a transferência em BTC são efectuadas em
minutos, da emissão á recepção, coisa que no sistema tradicional demora dias
(ou semanas). Estes factores revelam-se de extrema importância para o
crescimento de usuários na rede BTC.
Mas
a remessas em BTC resolve, ainda, um outro problema que afecta muitos
africanos: a conta bancária. Em muitos casos os cidadão africanos (por
diferentes motivos e razões, desde os baixos salários, inexistência de
rendimentos fixos, por habitarem em áreas rurais, etc.) não possuem conta
bancária. Com a remessa em BTC esse problema fica resolvido, uma vez que a BTC
pode ser armazenada no telemóvel e ser utilizada por essa via.
África
é um mercado de grande consumo e de grande utilização de telemóveis. E esse
factor, aliado á instabilidade bancária e monetária representa uma enorme
vantagem na utilização da BTC. A Igot efectuou, em 2014, cerca de 600 mil
transacções por telemóvel e em 2015 mais de 1 milhão de transacções. Este
crescimento é similar nas restantes empresas.
A
3 e 4 de Março deste ano terá lugar em Johannesburg, África do Sul, a
Conferência BTC África. Este evento é uma prova da crescente importância que a
moeda digital representa para o continente africano e para os seus cidadãos. A
BTC representa para África um instrumento de desenvolvimento. Saibamos
utilizá-lo de forma eficaz, como utilizámos as armas da libertação nacional em
África.
Sem comentários:
Enviar um comentário