Díli,
29 abr (Lusa) - Gritos, pancadas nas mesas e críticas ao presidente do
Parlamento Nacional timorense marcaram o arranque de um debate parlamentar sem
precedentes, instado pelo maior partido, o CNRT, para eleger nova mesa do
parlamento.
A
tensão inicial surgiu quando o presidente do Parlamento Nacional, Vicente da
Silva Guterres, do Congresso Nacional de Reconstrução Timorense (CNRT), abriu o
debate sobre requerimento da bancada do seu partido para a substituição ou
eleição de presidente do Parlamento Nacional e da Mesa do Parlamento.
O
CNRT defende a eleição de uma nova mesa por perda de confiança no presidente do
Parlamento Nacional (PN).
"É
a primeira vez na história do PN e da República Democrática de Timor-Leste.
Este é um assunto muito importante para o Estado, com implicações para a vida
do povo", afirmou.
Vicente
da Silva Guterres pediu um debate com "calma e serenidade" e afirmou
que os requerentes tinham que fundar "claramente" o requerimento e
que deveria ser dado tempo a si e aos membros da mesa que o desejassem para que
também pudessem intervir.
Os
comentários de Vicente Guterres acabaram por suscitar fortes críticas da
bancada do seu partido, que interrompeu o seu discurso criticando os
comentários, inclusive com pancadas nas mesas.
Em
particular quando o presidente do parlamento disse que é responsabilidade de
todos "evitar golpes quer no órgão de soberania do PN, no Governo, na
Presidência República e também golpes militares".
Voltando
a pedir "calma e serenidade e debates sem emoção" mesmo que estejam
em causa "assuntos sensíveis", tentou depois explicar o que considera
serem os factos que causaram a crise atual.
"Estou
em causa e quero falar. Temos que dar tempo ao requerente mas temos que dar
tempo para pelo menos os visados se possam declarar. O povo não entende e há
vários deputados que não entendem", afirmou, enquanto vários deputados
diziam que se devia limitar a debater o requerimento.
Em
particular referiu-se a comentários críticos do Presidente da República no
final do ano passado, que culminaram no seu veto do orçamento, e à decisão de
exonerar o chefe de Estado maior geral das forças armadas (CEMGFA).
"Mas
a razão fundamental dos problemas com o PR é porque supostamente ele cria um
partido político. Em qualquer atitude, qualquer posição do PR, começa a
sentir-se que eu dou vantagem a esse partido político. Mas temos que ver os
factos", disse.
"Eu
fui acusado nos jornais, ouvi e li mas não respondi. Hoje eu quero usar o tempo
para esclarecer as coisas e responder ao que me foi dito, às difamações de que
fui alvo na comunicação social", insistiu.
Natalino
dos Santos, líder da bancada do CNRT, voltou a ler o requerimento, com argumentos
do fim do bloco de coligação com o Partido Democrático (PD) e depois insistiu
na legitimidade para reeleger a mesa do parlamento.
"Isto
não tem nada a ver com exoneração ou essas questões. Este requerimento é
assinado por 29 deputados do partido. Os deputados assumem cargos políticos com
base nas decisões do partido", afirmou.
"Se
há assuntos políticos a debater no partido, debatem-se na bancada ou no
partido. Aqui debatemos o requerimento. E a plenária é órgão soberano, se a
plenária decidir, a maioria estiver a favor, continua o processo para eleição.
É um processo normal", considerou.
O
líder da bancada do CNRT insistiu que Vicente Guterres "não tem a
confiança do partido e dos deputados da bancada" e, como tal, "não
tem autoridade".
"Sem
essa confiança como é que o presidente pode fazer o seu serviço? Eu sou
presidente da bancada mas se os meus colegas não tiverem confiança em mim eu
tenho que resignar. Peço ao senhor PR que se foque no requerimento e não
noutros assuntos", considerou.
Adriano
do Nascimento, do PD e vice-presidente do parlamento, insitiu que não entende
os argumentos do CNRT, afirmando que o seu partido rejeita que em algum momento
tenha violado o acordo de coligação com o CNRT.
"A
coligação não significa que não podemos ter a nossa posição. Mas sempre de um
ponto de vista do diálogo. Sempre dialogamos com o CNRT e contribuímos para
ultrapassar situações difíceis", disse.
José
Luis Guterres, líder da bancada da Frente Mudança, declarou que o seu partido
apoia a mudança, frisando que o seu partido "cumpriu a missão perante o
Estado e povo" e considerando "normal" os processos de mudanças
nas lideranças.
"Tenho
consciência tranquila de dever cumprido. Temos uma nova conjuntura, com grandes
desafios internos e internacionais. Precisamos de consenso nacional para a luta
pela construção do Estado, para defender os direitos do povo de Timor",
afirmou.
"Tanto
no governo como no parlamento devemos procurar consensos necessários para com
força e energia defender o povo de Timor-Leste. Apoiaremos a mesa eleita",
afirmou.
ASP
// DM