terça-feira, 5 de julho de 2016

Educação essencial para combater violência contra mulheres - PM timorense


Díli, 04 jul (Lusa) - A educação, a formação e as melhorias das condições socioecónomicas das famílias são essenciais para o êxito de qualquer campanha de combate à violência contra as mulheres em Timor-Leste, disse hoje à Lusa o primeiro-ministro timorense.

Rui Araújo comentava assim, em declarações à Lusa, resultados que considerou serem "alarmantes" de um estudo recente da Asia Foundation, que indica que quase 60% das mulheres timorenses foram alvo de violência física ou sexual.

"Se a família, em termos económicos, não tem condições para providenciar uma vida melhor aos seus membros, é muito fértil a violência e, até certo ponto, as pessoas pensam que essa violência tem razão de ser, baseando-se nas circunstâncias difíceis que a família enfrenta", explicou, vincando: "As pessoas sentem-se quase resignadas às circunstâncias difíceis em que vivem. E isto não se muda de um dia par ao outro. Tem a ver com a educação o desenvolvimento socioeconómico de toda a sociedade e das famílias em si".

Apesar de manifestar preocupado com os dados, e de afirmar que o Governo tem vindo a trabalhar para tentar responder ao problema, Rui Araújo, considerou que se deve perceber o contexto em que os dados foram recolhidos e a linguagem usada.

"Não estou a questionar a validade da metodologia, mas é preciso ver melhor o contexto em que os dados foram recolhidos. Há uma questão muito importante, a questão da linguagem utilizada neste tipo de pesquisas, que também faz diferença na interpretação", disse.

Recorde-se que, para a definição da metodologia deste estudo, a Asia Foundation trabalhou com as autoridades e outros parceiros locais, através de uma equipa de trabalho que incluía representantes de dois ministérios e do Departamento de Estatísticas.

Entre os indicadores preocupantes do estudo contam-se os dados sobre a perceção que os timorenses têm dessa violência, já que dois terços das mulheres timorenses consideram que devem aguentar violência dos maridos para manter a família junta e 81% vê justificado que o companheiro lhes bata se não lhe obedecerem ou cumprirem bem as tarefas domésticas.

A maioria das mulheres (81%) e dos homens (79%) considera que um marido pode bater à mulher em determinadas circunstâncias, "como quando ela lhe desobedece, quando ela não completa satisfatoriamente o trabalho doméstico".

"Mudar isso é algo que só se conseguirá a médio e longo prazo. Não é uma forma de pensar que se muda do dia para a noite. Tem a ver com a educação, com a criação de condições para que as pessoas vivam realmente longe das circunstâncias em que se possam tornar violentos", afirmou.

Rui Araújo reconheceu ainda os relatos que dão conta de um número elevado de casos de assédio sexual nas ruas, especialmente relativamente a mulheres estrangeiras, considerando que também aqui não se conseguirá soluções imediatas.

"A campanha contra a violência domestica, contra a violência em geral tem vindo a ser feita nos últimos anos. Temos que ver a forma de intensificar isso outra vez. Mas não é de um dia para o outro que se consegue eliminar isto, esta tendência de violência num país pós-conflito", reconheceu.

Recentemente têm sido divulgados nas redes sociais relatos, incluindo em vídeo, de várias mulheres estrangeiras que têm sido alvo de violência e assédio sexual nas ruas.

ASP // ARA

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