Macau,
China, 26 jan (Lusa) -- O último governador britânico de Hong Kong, Chris
Patten, afirmou que o Reino Unido arrisca não cumprir as suas promessas
relativamente à antiga colónia e "vender a sua honra" na tentativa de
alcançar acordos comerciais com a China.
Falando
no programa Newsnight da BBC, na noite de quarta-feira, Chris Patten disse que
o Reino Unido desiludiu "uma geração" de ativistas pela democracia.
A
01 de julho assinala-se o 20.º aniversário da transferência de soberania de
Hong Kong do Reino Unido para a China, após mais de um século de administração
britânica.
Londres
garante que leva muito a sério os seus compromissos para com Hong Kong.
A
antiga colónia britânica possui desde então o estatuto de Região Administrativa
Especial da China e beneficia, em princípio, de uma ampla autonomia, consagrada
no modelo 'um país, dois sistemas'.
Segundo
os termos da Declaração Conjunta Sino-britânica, firmada em 1984, a passagem de
Hong Kong em 1997 foi feita em troca de uma "elevada autonomia" e da
garantia de manutenção de uma série de liberdades, não aplicadas na China, como
de expressão, imprensa ou reunião, e de um sistema judicial independente,
teoricamente até 2047.
Contudo,
sobretudo nos últimos anos, os habitantes de Hong Kong têm notado uma erosão
desses direitos e vindo a manifestar uma crescente preocupação relativamente à
ingerência de Pequim nos assuntos do seu território.
Para
Chris Patten, o Governo britânico não tem saído "manifestamente" em
defesa de Hong Kong: "Pergunto o que terá acontecido ao nosso sentido de
honra e ao nosso sentido de responsabilidade -- particularmente no Reino Unido.
É acima de tudo uma questão britânica".
"Assinámos
a Declaração Conjunta com a China. É um tratado à luz da ONU. É suposto
comprometer-nos a defender os direitos de Hong Kong até 2047", afirmou.
Para
Patten, o Reino Unido arrisca, portanto, colocar o seu desejo de fazer negócios
com a China acima do seu compromisso para com a antiga colónia britânica.
"É
tudo por razões irrisórias, ridículas", afirmou, apontando que "o
argumento de que a única forma de se fazer comércio com a China é curvar-se à
China em assuntos políticos é um disparate, um total absurdo".
"Estou
preocupado como as pessoas estão preparadas para vender a nossa honra por
alegados negócios comerciais que na verdade nunca vão acontecer. Penso que isso
seria calamitoso. O que vamos nós representar para o mundo se isso
suceder?", questionou o último governador britânico de Hong Kong.
Anson
Chan, antiga secretária chefe de Hong Kong -- que foi 'número dois' de Patten
-- expressou, por seu turno, a sua profunda preocupação para com o
comportamento da China em relação à Região Administrativa Especial.
Citando
o exemplo do alegado sequestro dos cinco livreiros e outros abusos dos direitos
humanos, Anson Chan disse, também no Newsnight da BBC, que o próprio princípio
'Um país, dois sistemas' se encontra sob ameaça.
"Infelizmente,
o resto do mundo -- particularmente a Grã-Bretanha -- prefere fingir que não vê
o que se está a passar", apontou.
"Se
continuarem a ignorar esta erosão constante, quando acordarem para o facto de
que [a fórmula] 'um país, dois sistemas' só existe no nome, vai ser demasiado
tarde", observou Anson Chan.
DM
// VM
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