Pequim,
16 jun (Lusa) - Luís Lino não é 'matador' na área, extremo de passes
teleguiados ou 'muro' na defesa, mas foi um dos reforços que o técnico português
de futebol André Villas-Boas trouxe esta época para os chineses do Shanghai
SIPG.
"Nem
queria acreditar", recorda Lino, 25 anos, sobre o convite para integrar o
'staff' de Villas-Boas como intérprete para chinês. "Isto caiu-me do
céu", diz.
Formado
em mandarim pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPL), o jovem tradutor
trabalhou como guia no museu do FC Porto antes de rumar, no início deste ano, a
Xangai - a 'capital' económica da China, com 24 milhões de habitantes.
No
SIPG, atual segundo classificado da superliga chinesa, Luís Lino é um
"polivalente" da tradução: "Para o que [Villas-Boas] precisar,
estou sempre pronto", afirma.
"Não
só com a equipa técnica, às vezes ajudo também o departamento médico ou o André
a comunicar uma informação", descreve. "Até coisas muito pequenas: ir
tratar de documentação, do visto ou documentos de viagem" dos jogadores.
No
Shanghai SIPG alinham quatro jogadores que falam português: os brasileiros
Elkeson, Hulk e Oscar e o defesa central português Ricardo Carvalho.
Antigo
técnico do FC Porto, clube com o qual conquistou a Liga Europa, a I Liga e a
Taça de Portugal, na época 2010/11, André Villas-Boas rumou à China em dezembro
passado.
Luís
Lino admite que "no início foi um bocado difícil", devido ao
desconhecimento sobre o vocabulário em chinês usado no futebol.
"No
que toca a questões avançadas, a questões táticas, eu comecei a desenvolver a
linguagem, termos e expressões aqui. Graças a Deus tive um apoio enorme e a
compreensão por parte do André e do resto do 'staff'. Eles têm ajudado imenso.
E eu tento retribuir, o máximo que posso", conta.
Comparado
com os restantes tradutores do Shanghai SIPG, todos chineses, Luís Lino diz
remar "contra a corrente".
"Sou
um português, a tentar traduzir para chinês. Não para a minha língua
nativa", explica.
Antes
de optar por estudar mandarim, Lino ainda pensou em tirar o curso de
jornalismo, mas no final não resistiu ao desafio de estudar uma língua "exótica"
e "muito rentável".
O
chinês mandarim é a língua mais falada do mundo e o único idioma oficial da
República Popular da China, país com 1.375 milhões de habitantes - cerca de 18%
da população mundial - e a segunda maior economia do planeta.
Em
colaboração com o Instituto Politécnico de Macau, o IPL abriu em 2006 a
primeira licenciatura em Portugal de Tradução e Interpretação Português/Chinês
- Chinês/Português.
O
Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino de
chinês, está também já implantado em quatro universidades portuguesas - Aveiro,
Coimbra, Lisboa e Minho.
Desde
o ano passado, o ensino de mandarim foi introduzido em algumas escolas
portuguesas, ao nível do secundário e do terceiro ciclo, como alternativa de
língua estrangeira.
Em
São João da Madeira, no norte de Portugal, aulas de mandarim estão, desde 2012,
disponíveis para alunos dos 3.º, 4.º e 5.º ano do ensino básico.
Luís
Lino diz que estudar chinês exige "muito esforço e dedicação", mas
que não se trata de um "bicho de sete cabeças".
"Como
é uma língua que não estamos habituados a ouvir no dia a dia, muitas pessoas
têm uma noção errada. Quando [os estudantes] começam a aprender como é que o
chinês funciona, quais é que são os hábitos que levam a uma boa aprendizagem, a
maior parte dessa mística desaparece e torna-se uma língua tão acessível como
qualquer outra", acrescenta.
Para
o jovem, o futuro passa pelo futebol.
"É
uma área que eu sempre gostei", conta. "Agora que cheguei aqui, quero
tentar fazer uma carreira que dure".
JOYP
// NF
Sem comentários:
Enviar um comentário