Um
reitor timorense defendeu que Governo, Igreja e sociedade civil devem fomentar
parcerias para ajudar os timorenses a dominar a língua portuguesa, que
considerou essencial para a ciência e conhecimento técnico.
"Timor-Leste
tem que ter a consciência de que deve dominar o português. Sem ele, perdemos a
nossa identidade linguística própria no mundo de hoje", disse Domingos
Alves, reitor do Instituto Filosofia e Teologia de Fatumeta (IFTF).
No
3.º Congresso Nacional da Educação, o padre timorense rejeitou o que disse
serem comentários "inúteis e infrutíferos" dos que se referem à
língua portuguesa como "língua dos colonialistas", e disse que
aprender a 5.ª língua mais falada no planeta "é uma mais-valia".
"É
o nosso objetivo na educação atingir a qualidade de ensino. Para isso deve
haver unidade de pensamento nacional na educação e não cada um puxar a brasa à
sua sardinha", afirmou.
"Timor-Leste
não é um campo de fazer experiências ao sabor de quem tem mais poder, mas sim
um lugar onde os planos devem ser bem preparados", considerou.
Ainda
que o inglês possa ser mais fácil de aprender, "não é por ser fácil que
identifica um povo", especialmente no caso dos timorenses que usaram o
português "como língua da resistência" e que, apesar das carências de
se "ensinar no mato" muitos falavam e escreviam corretamente, disse.
Os
cursos de inglês "estão espalhados em todos os cantos de Díli", disse
Domingos Alves, que aludiu a dificuldades dos docentes para ensinar a língua
portuguesa, o que pode explicar a ausência de cursos de português.
"Para
que o processo da educação em Timor-Leste possa alcançar a sua perfeição e
qualidade, o Ministério da Educação deve envidar todos os esforços necessários
para aprimorar a qualidade dos seus professores e tornar fácil a aprendizagem
da língua portuguesa", considerou.
"Para
isso tem à sua volta instituições de parcerias, entre as quais a igreja, que
pode contribuir imenso nesta luta comum", referiu.
O
padre lembrou o papel pioneiro da igreja no setor educativo em Timor-Leste e
insistiu que o Governo deve facilitar a abertura de novos colégios, internatos
ou semi-internatos "que obrigam os alunos a estarem mais tempo na educação
diária".
Um
esforço que também ajudará a "combater a indolência e apatia escolar e o
baixo nível intelectual dos jovens" e as carências educativas do início da
escolaridade que criam jovens com "uma vacuidade de pensamento crítico,
reflexivo e lógico".
Alves
juntou a sua voz à dos que defendem um aumento do orçamento para a educação,
que ronda apenas 6% do Orçamento do Estado timorense, mas desafiou igualmente o
setor privado, a sociedade civil e a própria igreja a "tomarem a peito a
questão importantíssima da educação".
Domingos
Alves destacou os desafios demográficos, considerando que num país onde cerca
de metade da população tem menos de 15 anos o Governo tem, a curto e médio
prazo, que apostar nos ensinos primário e técnico.
Entre
outros aspetos, o responsável defendeu mais e melhor formação de professores,
apoiando a ideia de criação de uma escola de raiz para docentes.
Em
termos históricos, Domingos Alves disse que a independência de Timor-Leste se
deve, paradoxalmente, à presença colonial portuguesa e aos esforços
independentistas dos timorenses.
Se
navegadores e missionários portugueses não tivessem chegado a Timor, "não
estaríamos independentes, seríamos certamente uma das províncias da Indonésia e
não seríamos católicos mas muçulmanos", considerou.
Diário
de Notícias, em 15 de Maio de 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário