sábado, 15 de julho de 2017

Diskursu PR Taur Matan Ruak iha Parlamentu Nasional | QUEDA OU ASCENÇÃO DE UM PATRIOTA?


Em Fevereiro de 2017 Taur Matan Ruak, então presidente da República timorense, fez um discurso contundente e sem rodeios visando duas figuras históricas de Timor-Leste, Xanana Gusmão e Mari Alkatiri, dirigentes dos dois partidos mais votados no país, CNRT e FRETILIN, respetivamente. As acusações constam no texto dessa data que encontram a seguir, em português, retiradas do jornal Público em peça elaborada por Luciano Alvarez. Acima é incluído o vídeo desse discurso, expresso em tétum. Foram, sem dúvida, declarações retumbantes que puseram por semanas Timor-Leste em polvorosa.

Indubitavelmente que Taur Matan Ruak aproveitava o momento para anunciar diretamente ao país sobre as suas discordâncias relativamente aos partidos aliados que então já eram – e ainda são – governo. Taur já visava a formação do seu partido, o Partido da Libertação Popular (PLP) e as eleições que agora, em 22 de Julho, vão ocorrer. Com o PLP na corrida eleitoral. Taur espera que o PLP seja eleito o partido político mais votado e assim ascender democraticamente ao cargo de primeiro-ministro. Fazendo desse modo questão de implementar as políticas que preconiza serem as melhores para as populações e para o país. 

Aquele discurso, em fevereiro, foi o pontapé de saída do “derby” que agora está a decorrer entre os três partidos políticos, o CNRT, a FRETILIN e o PLP. Dois contra um, com Taur empenhado na luta em que acreditará até ao seu último fôlego. Ao que se sabe essa luta decorre renhidamente. Taur, presidente do PLP, não baixa os braços e apresenta aos timorenses as alternativas políticas e de pendor anticorrupção, conluio e nepotismo de que vem acusando os dois líderes dos partidos oponentes que se aliaram e são governo.

Por ser um discurso histórico e de toda a importância, ou não, na influência, ou não, que poderá ter no resultados destas eleições legislativas que se realizam exatamente de hoje a uma semana, respescámos o discurso em narração de texto e na voz do então PR de Timor-Leste. Em 22 de Julho, perante o resultado do eleitorado timorense, teremos o comprovativo das inconsequências ou consequências causadas pelo efeito do discurso de Taur Matan Ruak, assim como de como os timorenses eleitores vêem o candidato a primeiro-ministro Taur Matan Ruak, que enquanto Presidente da República concluiu que preferia governar o país em vez de ser praticamente só um assistente das políticas ditadas pelos dois principais partidos políticos, o CNRT e a FRETILIN. Xanana e Alkatiri.

Em 22 de Julho o que acontecerá? Qual será a resposta dos timorenses expressa nas urnas de voto? Qualquer observador que acompanhe Timor-Leste pode vaticinar mas o grau de probabilidades de acertar ou aproximar-se dos resultados da luta entre Taur e os outros seus dois contendores, Xanana e Alkatiri, é improvável. Certo é que CNRT e FRETILIN têm sido os dois maiores e mais votados partidos políticos. Juntos possuem uma vasta maioria de lugares no Parlamento timorense. Situação que Taur corajosamente desafia e a que quer pôr cobro. Se conseguir sairá vencedor. Se não conseguir e somente levar o PLP a terceiro partido político mais votado, tal resultado será considerado irrelevante e a figura histórica de Taur poderá cair por terra. Tenha ele as razões que tiver na jogada política que proclamou em Fevereiro no discurso perante o parlamento timorense. Afinal está mais em causa a sobrevivência política de Taur Matan Ruak do que do “sempre-em-pé” Xanana Gusmão e do seu semelhante Mari Alkatiri. Ambos aliados contra o igualmente heróico Taur, que acha que encarna na maior perfeição possível as contestações, os interesses e os sonhos dos timorenses. Que vença o melhor para todos os timorenses.

A seguir, o texto em português sobre o histórico discurso de Taur Matan Ruak no parlamento de Timor-Leste. Continue a ler.

MM | AV | TA


Presidente de Timor acusa Xanana e Alkatiri de beneficiarem amigos e familiares

Taur Matan Ruak e o governo timorense estão em rota de colisão e o Presidente não se coibiu de comparar os actuais privilégios dos políticos com os do tempo do ditador indonésio Suharto.

A tensão política em Timor volta a estar no vermelho. A recusa do Presidente, Taur Matan Ruak, em renovar o mandato ao chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) divide o Governo e o chefe de Estado, estando mesmo em cima da mesa uma eventual destituição do Presidente.

Em plena crise, Ruak foi ontem ao Parlamento para falar ao país e as suas palavras não podiam ter sido mais duras. O Presidente acusou os dois principais dirigentes políticos do país, Xanana Gusmão e Mari Alkatiri, de beneficiarem amigos e familiares em contratos do Estado, comparando os privilégios de políticos com os do tempo do antigo ditador indonésio Suharto.

Xanana Gusmão, líder histórico da resistência timorense, antigo Presidente, antigo primeiro-ministro, líder do Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), partido mais votado em Timor, é actualmente e por sua vontade ministro do Planeamento e Investimento Estratégico.

Já Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin) e ex-primeiro-ministro, era até há não muito tempo o principal crítico de Xanana Gusmão e da corrupção que dizia minar o país, mas abrandou a sua actividade política desde que, em 2014, foi nomeado presidente da Autoridade da Região Administrativa Especial de Oecussi, gerindo investimentos de vários milhões de dólares na região.

E a intervenção de Taur Matan Ruak no Parlamento não podia ter sido mais crítica para estes dois homens. “Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para ter poder e privilégios”, acusou.

“Um vírus que se está a espalhar”

Com a discussão sobre a corrupção sempre viva no debate político timorense e com ex-governantes em tribunal acusados deste ilícito, o Presidente timorense disse estar “triste” por Xanana tomar conta de Timor-Leste e Mari tomar conta do Oecusse. E falou mesmo de “um vírus que se está a espalhar”. “O princípio básico da democracia é a confiança. Sem isso a democracia não funciona”, acrescentou.

Ruak lembrou ainda um encontro com o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo, no início do mês, em que lamentou que Xanana e Alkatiri “tenham beneficiado tanto dos contratos do Estado”. “O senhor primeiro-ministro perguntou-me se eu queria fazer inspecção. Eu disse-lhe que não, que estava apenas a falar do descontentamento que se sentia sobre os privilégios. Com o Suharto também acontecia”, afirmou.

A declaração ao país através do Parlamento deve-se ao momento de tensão política que se vive em Timor em torno do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, o major-general Lere Anan Timur.

Ruak não seguiu a proposta do Governo de renovação do mandato de Lere. O Presidente defende a exoneração do actual CEMGFA e a nomeação do brigadeiro-general Filomeno da Paixão de Jesus para o cargo.

Destituição à vista?

Desde sexta-feira da semana passada que está feita uma proposta de destituição que apenas necessita de 14 deputados subscritores. Depois será necessária uma votação no Parlamento que recolha dois terços dos votos, seguindo a proposta para o tribunal de recurso. Para que o processo possa avançar, falta a publicação do decreto no Jornal da República, o que ainda não aconteceu.

Sobre esta matéria Xanana Gusmão pediu um parecer ao constitucionalista português Pedro Bacelar Vasconcelos, que defende que o Presidente timorense cometeu uma inconstitucionalidade ao nomear Filomeno Paixão para o lugar de Lere. Alega o parecer que Ruak não obedeceu ao princípio da obrigatoriedade de decisão conjunta com o Governo, ao rejeitar a proposta do executivo.

Contactado pelo PÚBLICO Pedro Bacelar Vasconcelos recusou-se a fazer qualquer comentário sobre o parecer, por “não querer interferir sobre questões de Timor-Leste”.

Vasconcelos, um dos obreiros da Constituição de Timor e que mantém contactos com o Parlamento do país, afirmou estar preocupado “com a tensão” que se vive em Timor. “Há uma tensão que ultrapassa os limites mínimos de solidariedade entre órgãos de soberania num Estado de direito”, referiu.

Confrontado pelo PÚBLICO pelo facto de Xanana estar a usar o seu parecer contra o Presidente da República em actos públicos, o actualmente deputado do PS e presidente da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias disse que a forma como o Xanana usa o parecer “é lá com ele”. “Eu tenho acompanhado a situação com grande preocupação e não me vou pronunciar”, acrescentou.

Alguns actores políticos timorenses admitiam nos últimos dias que Ruak pudesse ele próprio apresentar a renúncia à Presidência, mas o chefe de Estado optou por partir para o ataque. E sobre o conflito em torno do CEMGFA afirmou: “Eu não tenho problemas com o Governo. Mas o Governo usa o argumento do Lere para atingir o Presidente. O Presidente continua disponível para discutir no Parlamento nacional para encontrar uma solução para o caso.”

A tensão entre Ruak e o Governo e o Parlamento não é de agora. O Presidente elegeu o combate à corrupção e o combate à pobreza como grandes pilares da sua Presidência desde que tomou posse, em 2012.

Ao longo destes anos visitou a quase totalidade dos 442 sucos (aldeias) existentes e não tem parado de criticar o Governo devido aos níveis de corrupção e chamando a atenção para o estado de pobreza em que vive o povo. O Presidente tem vindo ainda a denunciar o enriquecimento surpreendente de políticos e dos seus familiares e a existência de contratos do Estado “entregues a amigos”.

Ruak tem também apontado o dedo ao Governo por falta de aposta em áreas como a Saúde e a Educação, segundo ele relegadas para segundo plano face aos grandes projectos.

Há uns meses, o Presidente pediu a documentação e estudos de viabilidade de dois grandes projectos: Oecussi e Tasi Mane (costa sul e que inclui uma refinaria). Até hoje nada foi entregue ou esclarecido ao chefe de Estado. Quanto ao projecto de Oecussi, uma equipa apresentou-se na Presidência há duas semanas para fazer uma apresentação ao Presidente, mas sem a presença do líder do projecto, Mari Alkatiri. Dúvidas sobre estes dois projectos levaram mesmo o Presidente a vetar o Orçamento do Estado de 2016. O Parlamento voltou a aprovar o documento e Ruak foi obrigado a dar a sua aprovação.

A tensão política promete continuar nas próximas semanas, com a grande dúvida de se vai mesmo avançar um processo de destituição do Presidente, Taur Mantan Ruak.

Ivo Valente, ministro da Justiça de Timor, encontra-se em Portugal, tendo assinado nesta quinta-feira um protocolo de cooperação com o Ministério da Justiça português, mas, após a cerimónia, recusou-se a responder a perguntas dos jornalistas.

Luciano Alvarez | Público | em 25 fevereiro 2017

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