Díli,
24 out (Lusa) - Ações violentas de um grupo de jovens que tentou forçar a
entrada na embaixada portuguesa em Díli, por alegado descontentamento com a
demora no processamento dos seus pedidos de nacionalidade, obrigaram ao
encerramento da missão diplomática na segunda-feira.
Fonte
diplomática disse à Lusa que já na semana passada um grupo de jovens tentou
forçar a sua entrada na embaixada e que nos últimos dias tinham circulado
mensagens nas redes sociais contra a missão diplomática.
"Havia
grupos a tentar fomentar outros para que durante o horário de atendimento
fizessem alguma coisa. Informámos as autoridades timorenses da situação",
disse a fonte.
"As
pessoas têm que compreender que com desacatos, pontapés, gritos e insultos não
conseguem nada e que a embaixada fica encerrada para que percebam que eventuais
infratores estão a castigar e prejudicar o atendimento de todas as outras
pessoas", disse.
Também
explicou que houve "casos complicados e graves na semana passada",
que os funcionários "estão a tentar o seu melhor", e que "não há
soluções ideais, pelo que todos têm que ter alguma compreensão".
A
tensão em torno da embaixada deve-se ao elevado volume de pedidos de
nacionalidade portuguesa, algo que é acessível a qualquer timorense nascido até
19 de maio de 2002, véspera da data em que Timor-Leste restaurou a sua
independência.
A
lei da nacionalidade considera que até essa data e porque Timor-Leste era um
território não auto-governado sob administração portuguesa, todos os cidadãos
timorenses nascidos até então podem solicitar a nacionalidade.
Isso
implica que, em média, a embaixada receba diariamente cerca de 60 pedidos de
nacionalidade, com longas filas de pessoas a alinharem-se diariamente à porta
da embaixada, a qual mudou este mês para novas instalações.
Além
do volume em si, os processos tornam-se mais complicados porque apresentam, em
muitos casos, apenas documentos de paróquias ou provas inadequadas de registo
de nascimento, tendo aumentado os casos de fraude.
No
passado, muitos dos processos eram enviados para a Conservatória dos Registos
Centrais em Lisboa e, perante dúvidas, eram devolvidos a Timor-Leste para
verificação, implicando, na prática, que um funcionário consular fosse à
paróquia em causa comprovar o registo de nascimento.
Há
cerca de um ano a embaixada alterou os procedimentos e agora realiza as
verificações de todos os pedidos em Timor-Leste, antes sequer dos processos
serem enviados para Lisboa, procurando assim minimizar as possibilidade de
rejeição e consequentes atrasos adicionais.
Muita
da documentação e dos registos oficiais foram destruídos na violência de
setembro de 1999, depois do referendo da independência, e as paróquias acabam
por ser, na grande maioria dos casos, a única fonte de registo.
Até
recentemente, porém, apenas a diocese de Baucau permitia a verificação dos
livros de registos de batismo, com as outras duas do país, Maliana e Díli, a só
"muito recentemente" autorizarem essa consulta, segundo fonte
consular.
Com
um número reduzido de funcionários, as verificações fazem com que a embaixada
fique ainda com menos pessoas disponíveis para tratar dos documentos já que têm
que ir, fisicamente, para zonas do país muitas vezes mais remotas ou de difícil
acesso.
"O
volume é enorme e as pessoas são informadas, logo desde o início quando começa
o processo, de que não podemos de forma alguma determinar um prazo para que a
verificação seja levada a cabo", disse.
"Não
é fácil levar isto a cabo especialmente porque só mesmo muito recentemente é
que as dioceses de Díli e Maliana autorizaram a embaixada a consultar os
livros", explicou.
A
grande maioria dos timorenses que solicitam nacionalidade nem sequer vai para
Portugal, usando o passaporte português apenas como 'bilhete' de acesso a
empregos noutros pontos da Europa, especialmente a Irlanda e o Reino Unido.
Muitos
conseguem, através de amigos já nesses países, contratos ou pelo menos
promessas de trabalho ainda antes de terem conseguido a nacionalidade pelo que
perante a demora se tornam "mais agressivos".
"São
60 pedidos de nacionalidade por dia, o que significa 60 pedidos de verificação
por dia. As pessoas não podem pensar que isto é feito de um dia para o
outro", disse a fonte da embaixada.
"Mas
não é aceitável este comportamento. Não se insulta e agride funcionários, não
se impede o funcionário de fechar o portão e não se começa a filmar dentro da
embaixada", considerou.
ASP
// FV.
Sem comentários:
Enviar um comentário