Díli,
23 out (Lusa) - Uma equipa luso-timorense está esta semana em Timor-Leste a
avaliar uma eventual expansão do projeto Centros de Aprendizagem e Formação
Escolar (CAFE) para outras zonas do país, disse à Lusa a vice-ministra da
Educação timorense.
Lurdes
Bessa explicou que três representantes timorenses e igual número de
representantes portugueses vão avaliar vários aspetos do projeto dos CAFE
(conhecidas antes como escolas de referência), que constitui o maior programa
luso-timorense de apoio ao ensino do português em Timor-Leste.
"O
programa apresentado pelo Governo dá ideia de ampliar o projeto das atuais
capitais de município para os postos administrativos e, para que isso possa
ocorrer, temos que avaliar e ver o que está a correr bem e mal", disse à
Lusa em Díli.
"Só
corrigindo é que depois podemos expandir o projeto que tem tido, globalmente,
uma avaliação positiva, mas que importa precisar com detalhe. Estes são
projetos de escola modelo, mas temos que corrigir o que importa corrigir",
disse.
A comissão bilateral de acompanhamento do projeto CAFE foi estabelecida pelos respetivos Ministros da Educação de Timor-Leste e Portugal e "é constituída todos os anos para avaliar e acompanhar o desenvolvimento" do projeto.
A comissão bilateral de acompanhamento do projeto CAFE foi estabelecida pelos respetivos Ministros da Educação de Timor-Leste e Portugal e "é constituída todos os anos para avaliar e acompanhar o desenvolvimento" do projeto.
Além
de "problemas de coordenação" e de aspetos como o avanço, ou não, no
processo de formação dos docentes timorenses - um dos elementos vertebrais do
projeto -, Lurdes Bessa quer ver analisados "outros componentes
essenciais".
"Temos
que melhorar as burocracias para reduzir atrasos nos pagamentos. Penso que a
coordenação está muito concentrada aqui em Díli. Há que dar mais autonomia às
escolas e procurar um maior envolvimento dos docentes na comunidade e com
outras escolas", referiu.
"E
queremos também avaliar melhor todo o processo de contratação e avaliação dos
professores timorenses, dos portugueses e da coordenação", sublinhou
ainda.
Lurdes
Bessa admitiu alguma surpresa pela marcação da visita de avaliação para esta
semana, uma das semanas mais intensas do sistema educativo timorense já que
decorrem os exames do fim de ciclo que envolvem mais de 47 mil alunos.
"É
uma semana muito intensa de trabalho para o Ministério em todo o país",
afirmou.
Em
janeiro, durante uma visita a Timor-Leste, a a secretária de Estado dos
Negócios Estrangeiros e Cooperação (SENEC), Teresa Ribeiro, explicou que o
projeto seria alvo de uma avaliação independente, durante a qual "todas as
matérias serão devidamente equacionadas e estudadas e também ponderadas as
melhores soluções".
Presente
nas capitais dos 13 municípios timorenses, envolvendo cerca de 80 docentes
estagiários de Timor-Leste, 130 professores portugueses e mais de sete mil
alunos, o projeto das escolas de referência (CAFE) é o elemento mais importante
do programa de apoio ao ensino do português em Timor-Leste.
Cofinanciado
pelos dois países, o projeto tem sido afetado por vários problemas, com atrasos
no envio dos docentes de Portugal e longos atrasos no pagamento de componentes
salariais por parte de Timor-Leste.
A
coordenação do projeto tem sido criticada por dezenas de docentes que relataram
ser vítimas de ameaças e intimidação quando tentam denunciar os problemas que
afetam o projeto.
Falta
de critérios claros de avaliação dos docentes, que determinam quais os
contratos de docentes a renovar, e a elevada percentagem de professores que não
querem renovar a permanência em Timor-Leste atestam ainda o mal-estar.
Questionam
ainda a falta de transparência sobre os critérios de avaliação para renovação
de contratos e para a escolha dos coordenadores de cada CAFE, "a desumanidade"
com que alguns docentes são tratados e outras decisões tomadas pela coordenação
central.
Recentemente,
alguns docentes questionaram um documento que tiveram de assinar os professores
que pretendessem renovar contratos em Timor-Leste, onde as coordenadoras do
projeto davam conta de informações para "evitar contratempos ou
ajustamentos".
De
acordo com o documento, os atrasos nos pagamentos "continuarão a ser uma
realidade, prevendo-se entre três a 45 meses para a concretização do pagamento
do primeiro complemento e subsídios".
Nesse
documento, os docentes do projeto de dois Estados constitucionalmente laicos
são informados, entre outros aspetos, da obrigatoriedade de participarem
"em cerimónias religiosas, como por exemplo, na animação de uma eucaristia
num sábado ou domingo, independentemente das crenças religiosas de cada
um".
Entre
as tarefas que os docentes têm que cumprir há a formação de professores, pais,
encarregados de educação e funcionários, além de ajudarem a implementar
"projetos dentro e fora da escola" e dar apoio a licenciados e outros
formandos.
Os
estudos realizados pelo Governo timorense mostraram que, apesar de tudo e em
grande parte pela maior capacidade dos professores e pelas melhores
metodologias de ensino, os CAFE mostram ter resultados melhores do que as
restantes escolas do ensino público timorense, apesar de os currículos serem
idênticos.
ASP
// EJ
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