Díli, 20 fev (Lusa) - O
primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, e o ministro de Estado José
Ramos-Horta reiteraram hoje a sua confiança e do Governo em Xanana Gusmão, que
está a negociar com Camberra e petrolíferas o desenvolvimento do projeto
Greater Sunrise.
Os comentários dos dois líderes
timorenses surgem numa altura em que a delegação de Timor-Leste, liderada pelo
ex-Presidente Xanana Gusmão e pelo ministro de Estado Agio Pereira, está
reunida em Kuala Lumpur com delegações da Austrália e das petrolíferas que
controlam o Greater Sunrise.
"Tenho mantido algum
contacto com o ministro Agio Pereira. Ainda não há informações substanciais.
Mas já disse claramente e repito que como pessoa e como primeiro-ministro
defendo o pipeline [gasoduto] para Timor-Leste", disse à Lusa Mari
Alkatiri.
Também o ministro de Estado José
Ramos-Horta reiterou o apoio total a Xanana Gusmão, considerando
"possível" um acordo sobre o desenvolvimento dos poços de Greater
Sunrise, essenciais para o futuro de Timor-Leste.
"O Governo tem confiança
absoluta no negociador chefe Xanana Gusmão. Qualquer arranjo que ele veja que é
o mais realista e vantajoso para ambas as partes, o Governo apoiará e
endossará", afirmou à Lusa.
As reuniões na Malásia são as
últimas antes do fim do trabalho de uma Comissão de Conciliação solicitada por
Timor-Leste no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre a Lei do Mar
(conhecida pela sigla UNCLOS).
Díli e Camberra conseguiram já,
através da mediação dessa comissão, alcançar um acordo histórico para um
tratado de delimitação de fronteiras marítimas, que vai ser assinado a 06 de
março em Nova Iorque, na presença do secretário-geral da ONU, António Guterres.
Falta, porém, um acordo sobre o
desenvolvimento dos poços de Greater Sunrise.
Em cima da mesa estão três potenciais
cenários, a de uma exploração flutuante, defendida pelas petrolíferas que têm a
concessão do Greater Sunrise - Woodside, ConocoPhillips, Royal Dutch Shell e
Osaka Gas -, a ligação ao gasoduto já existente que liga outros poços no Mar de
Timor a Darwin (norte da Austrália) ou a ligação por gasoduto ao sul de
Timor-Leste.
A decisão determinará a partilha
de receitas do recurso, com Timor-Leste a receber 70% se o gasoduto vier para
território timorense e 80% se for para Darwin, segundo fonte conhecedora das
negociações.
Tanto Alkatiri como Ramos-Horta
se mostram preocupados com o que dizem ser a tentativa de politizar um assunto
que afirmam ser de Estado, mas que está a marcar a pré-campanha para as
eleições parlamentares de 12 de maio.
As redes sociais, incluindo
páginas oficiais dos partidos da oposição, têm atacado Alkatiri pelas
negociações dos anteriores acordos sobre a Austrália, acusando o líder do
Governo de não apoiar a opção do gasoduto para Timor-Leste.
"É demasiada politização.
Quem está a negociar negoceia em nome do Estado e não do partido, mas há quem
queira partidarizar a questão", afirmou Alkatiri.
Já Ramos-Horta defendeu que
"não se deve politizar".
"O Governo não quer
politizar. Está a apoiar 100% Xanana Gusmão nesta tarefa delicada e complexa. E
aí não pode haver qualquer fragilidade por trás. Desde o início, o Governo e o
doutor Mari Alkatiri têm apoiado fortemente tudo o que Xanana Gusmão acha que
deve fazer, pode fazer, até onde pode ir", considerou Ramos-Horta.
Os dois líderes falaram à margem
de um debate com a sociedade civil sobre a política de segurança nacional, que
ambos definem "deve ter uma visão mais global" e na qual a questão do
acordo de fronteiras terá um impacto.
"Se tudo correr como
previsto no dia 06 de março é a assinatura da fronteira marítima com a
Austrália. Depois ficam por concluir apenas as negociações de fronteira
terrestre e marítima com a Indonésia e isso significa que a nossa fronteira
aumenta. É uma linha não de defesa, mas para usar para a paz, para a estabilidade
e para o desenvolvimento, uma ligação. Uma linha de ligação com o vizinho para
a cooperação internacional. É uma visão de segurança mais global",
explicou Alkatiri.
Ramos-Horta disse que se Xanana
Gusmão quiser liderar essas negociações com a Indonésia, quando terminarem as
negociações com a Austrália, "terá todo o apoio do Governo",
relembrando que só o Greater Sunrise dá benefícios ao país.
"Há fronteiras marítimas,
mas isso não tem benefícios imediatos para o sul de Timor. Os benefícios virão
com o desenvolvimento do Greater Sunrise. E é nisso que Xanana Gusmão continua
a trabalhar. Conta com todo o nosso apoio e confiança a 100%, incluindo todo o
apoio com as despesas de toda a equipa negocial", acrescentou Ramos-Horta.
ASP // SR
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