Nesta altura pensei que eu estava
enganado, afinal, nem todos os carpinteiros têm a mesma sorte
João Luís Gonçalves | DN Madeira
A sorte de uns é o azar de
outros.
Num dia, em novembro de 2002, em Timor-Leste, ao viajar com uns amigos de Díli para Liquiçá, à entrada desta localidade visitámos uma carpintaria que ali se encontrava ao lado direito da estrada. No estabelecimento havia móveis velhos para consertar e alguns novos (camas, armários, mesas, cadeiras, etc.), até estavam a construir dois barcos de pesca a partir de troncos. O dono do estabelecimento, senhor José da Silva, disse-nos que trabalhava com os familiares e não tinha mãos a medir, tal era o volume de trabalho.
Com a guerra de 1999, em
Timor-Leste, calcula-se que cerca de 80% das casas foram total ou parcialmente
destruídas. Por este motivo eu pensei que a atividade de carpinteiro era uma
das mais prósperas em Timor-Leste. Aliás, em Díli foi visível o aparecimento de
muitas carpintarias nos primeiros três anos de independência.
Carpinteiro de caixões
Num outro dia, ao passar junto a
uma carpintaria de caixões, em Bidau, junto à casa do senhor Bispo, caixões de
vários tamanhos estavam expostos na berma da estrada para venda.
Qual a minha surpresa quando, ao
conversar com o carpinteiro, Marcelino Sarmento, este disse que “o negócio
estava fraco”. Na verdade, com o fim dos massacres, regresso da paz e melhores
condições de vida, o negócio dos caixões caiu a pique.
Nesta altura pensei que eu estava
enganado, afinal, nem todos os carpinteiros têm a mesma sorte.
Negócios da paz e da guerra
A sorte oposta destas duas
carpintarias é o espelho do que se passa com a paz e a guerra. Alguns ganham
com a guerra, como os carpinteiros de caixões, mas o povo perde com a guerra e
muito ganha com a paz. A sorte de uns é o azar de outros.
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