Rangum, 16 set (Lusa) -- Várias
dezenas de pessoas manifestaram-se hoje no centro de Rangum em protesto pela
prisão de dois jornalistas da agência Reuters e para denunciar as restrições à
liberdade de expressão em Myanmar, antiga Birmânia.
Acusados de "atentar contra
o segredo de Estado", os dois repórteres foram condenados no início deste
mês a sete anos de prisão por violação da "lei dos segredos
oficiais", uma legislação de 1923.
Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe
Oo, de 27, detidos desde dezembro de 2017, encontravam-se a investigar a
repressão do exército birmanês sobre membros da minoria muçulmana rohingyas.
O julgamento suscitou indignação
e uma onda de choque na comunidade emergente de jornalistas na Birmânia.
"Nós estamos muito zangados.
Estamos dececionados com o novo Governo", disse hoje à agência
France-Presse Maung Saung Kha, que participa na manifestação de hoje.
Também no desfile de protesto,
outro manifestante considerou que a imagem do país "foi prejudicada pela
decisão do tribunal".
Vários jornalistas têm mostrado o
seu apoio a Wa Lone e Kyaw Soe Oo, usando a 'hashtag' (palavra passe nas redes
sociais) #arrestmetoo (prendam-me também).
Na semana passada, o
Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos afirmou que Myanmar utiliza
uma "campanha política contra o jornalismo independente" que torna
"impossível os jornalistas trabalharem sem medo ou favores".
Um país em que "jornalistas
são detidos apenas por terem visitado uma zona controlada por um grupo
armado", "fontes são detidas por darem informações sobre zonas de
conflito" e "uma mensagem no Facebook pode dar lugar a acusações de
difamação" vive "um ambiente dificilmente propício a uma transição
democrática", afirmou num comunicado a nova Alta-Comissária para os
Direitos Humanos, Michele Bachelet.
"Apelo às autoridades que
ponham fim à perseguição jurídica e judicial dos jornalistas e que iniciem uma revisão
das leis que facilitam os atentados ao exercício legítimo da liberdade de
expressão", acrescentou.
A denúncia consta de um relatório
da ONU sobre liberdade de expressão no país, em que a organização acusa o
Governo e as forças armadas birmanesas de "instrumentalização da lei e dos
tribunais" e o poder judicial de "incapacidade para fazer respeitar o
direito a um julgamento justo dos visados".
ARP (MDR) // VM
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