segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Várias dezenas em manifestação de protesto pela prisão de jornalistas na Birmânia


Rangum, 16 set (Lusa) -- Várias dezenas de pessoas manifestaram-se hoje no centro de Rangum em protesto pela prisão de dois jornalistas da agência Reuters e para denunciar as restrições à liberdade de expressão em Myanmar, antiga Birmânia.

Acusados de "atentar contra o segredo de Estado", os dois repórteres foram condenados no início deste mês a sete anos de prisão por violação da "lei dos segredos oficiais", uma legislação de 1923.

Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 27, detidos desde dezembro de 2017, encontravam-se a investigar a repressão do exército birmanês sobre membros da minoria muçulmana rohingyas.

O julgamento suscitou indignação e uma onda de choque na comunidade emergente de jornalistas na Birmânia.

"Nós estamos muito zangados. Estamos dececionados com o novo Governo", disse hoje à agência France-Presse Maung Saung Kha, que participa na manifestação de hoje.

Também no desfile de protesto, outro manifestante considerou que a imagem do país "foi prejudicada pela decisão do tribunal".

Vários jornalistas têm mostrado o seu apoio a Wa Lone e Kyaw Soe Oo, usando a 'hashtag' (palavra passe nas redes sociais) #arrestmetoo (prendam-me também).

Na semana passada, o Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos afirmou que Myanmar utiliza uma "campanha política contra o jornalismo independente" que torna "impossível os jornalistas trabalharem sem medo ou favores".

Um país em que "jornalistas são detidos apenas por terem visitado uma zona controlada por um grupo armado", "fontes são detidas por darem informações sobre zonas de conflito" e "uma mensagem no Facebook pode dar lugar a acusações de difamação" vive "um ambiente dificilmente propício a uma transição democrática", afirmou num comunicado a nova Alta-Comissária para os Direitos Humanos, Michele Bachelet.

"Apelo às autoridades que ponham fim à perseguição jurídica e judicial dos jornalistas e que iniciem uma revisão das leis que facilitam os atentados ao exercício legítimo da liberdade de expressão", acrescentou.

A denúncia consta de um relatório da ONU sobre liberdade de expressão no país, em que a organização acusa o Governo e as forças armadas birmanesas de "instrumentalização da lei e dos tribunais" e o poder judicial de "incapacidade para fazer respeitar o direito a um julgamento justo dos visados".

ARP (MDR) // VM

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