sábado, 6 de abril de 2019

Politização da religião na Indonésia causa mais denúncias de blasfémia -- organização


Jacarta, 04 abr (Lusa) -- A crescente politização da religião na Indonésia e combate a discursos de ódio são os principais fatores que contribuem para o elevado aumento no número de denúncias de casos de blasfémia, segundo uma organização sediada em Jacarta.

O vice-presidente do Instituto Setara de Democracia e Paz, Bogar Tigor Naipospos, disse hoje aos jornalistas que no ano passado o número de casos de denúncia por blasfémia mais que duplicou, para 25, comparativamente a apenas nove contabilizados em 2017.

"O uso da religião como uma ferramenta na política é o principal fator", disse, referindo que durante muitos anos, e desde que a lei de blasfémia foi introduzida em 1965, se registavam apenas um ou dois casos.

"Se a polarização [ao longo das linhas étnicas e religiosas] continuar e a politização da religião for usada por partidos políticos concorrentes, veremos o que chamamos da geração denunciante, com acusações de blasfémia, para superar os seus oponentes políticos", frisou.

Entre os casos mais sérios, é destacado o de Meliana, uma mulher budista que em agosto do ano passado foi julgada e condenada a 18 meses de prisão em Medan, Norte Sumatra, por se ter queixado do som dos altifalantes, de uma mesquita próxima, que estava muito alto.

Em resposta às suas declarações, grupos islâmicos locais atacaram a sua casa e vários templos budistas próximos.

O uso indevido da lei da blasfémia, explicou Naipopos, citado pela imprensa indonésia, tem vindo a contribuir para as crescentes denúncias.

A isso soma-se a Lei Eletrónica de 2016 que proíbe a disseminação do chamado discurso de ódio contra grupos étnicos, religiões e raças, e que "também desempenhou um papel significativo ao provocar acusações de blasfémia", acrescentou.

"Ambas [as leis] costumam ser usadas para reprimir outras pessoas", concluiu.

Um dos casos que contribuiu para este aumento foi o do ex-governador cristão de Jacarta, Basuki Tjahaja Purnama, mais conhecido por Ahok, que, depois de protestos de centenas de milhares de pessoas, foi condenado a dois anos de cadeia por blasfémia.

A sua condenação, fortemente contestada por grupos de direitos humanos, é considerada um ponto de viragem na questão da tolerância religiosa na Indonésia.

Ahok foi condenado depois de comentários que proferiu durante a campanha para a sua reeleição, mas que foram falsificados, para sugerir que tinha proferido um insulto ao Corão e não aos líderes religiosos conservadores que citavam o livro.

ASP // JMC

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