Jacarta, 04 abr (Lusa) -- A
crescente politização da religião na Indonésia e combate a discursos de ódio
são os principais fatores que contribuem para o elevado aumento no número de
denúncias de casos de blasfémia, segundo uma organização sediada em Jacarta.
O vice-presidente do Instituto
Setara de Democracia e Paz, Bogar Tigor Naipospos, disse hoje aos jornalistas
que no ano passado o número de casos de denúncia por blasfémia mais que
duplicou, para 25, comparativamente a apenas nove contabilizados em 2017.
"O uso da religião como uma
ferramenta na política é o principal fator", disse, referindo que durante
muitos anos, e desde que a lei de blasfémia foi introduzida em 1965, se
registavam apenas um ou dois casos.
"Se a polarização [ao longo
das linhas étnicas e religiosas] continuar e a politização da religião for
usada por partidos políticos concorrentes, veremos o que chamamos da geração
denunciante, com acusações de blasfémia, para superar os seus oponentes
políticos", frisou.
Entre os casos mais sérios, é
destacado o de Meliana, uma mulher budista que em agosto do ano passado foi
julgada e condenada a 18 meses de prisão em Medan, Norte Sumatra, por se ter
queixado do som dos altifalantes, de uma mesquita próxima, que estava muito
alto.
Em resposta às suas declarações,
grupos islâmicos locais atacaram a sua casa e vários templos budistas próximos.
O uso indevido da lei da
blasfémia, explicou Naipopos, citado pela imprensa indonésia, tem vindo a contribuir
para as crescentes denúncias.
A isso soma-se a Lei Eletrónica
de 2016 que proíbe a disseminação do chamado discurso de ódio contra grupos
étnicos, religiões e raças, e que "também desempenhou um papel
significativo ao provocar acusações de blasfémia", acrescentou.
"Ambas [as leis] costumam
ser usadas para reprimir outras pessoas", concluiu.
Um dos casos que contribuiu para
este aumento foi o do ex-governador cristão de Jacarta, Basuki Tjahaja Purnama,
mais conhecido por Ahok, que, depois de protestos de centenas de milhares de
pessoas, foi condenado a dois anos de cadeia por blasfémia.
A sua condenação, fortemente
contestada por grupos de direitos humanos, é considerada um ponto de viragem na
questão da tolerância religiosa na Indonésia.
Ahok foi condenado depois de
comentários que proferiu durante a campanha para a sua reeleição, mas que foram
falsificados, para sugerir que tinha proferido um insulto ao Corão e não aos
líderes religiosos conservadores que citavam o livro.
ASP // JMC
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