A pandemia da covid-18 ampliou muitas das vulnerabilidades de Timor-Leste, com um agravamento no emprego, rendimentos, segurança alimentar e dificuldades das empresas, segundo uma análise realizada pelas Nações Unidas.
Mais de metade das famílias não tem rendimentos, com o número de agregados familiares vulneráveis a quadruplicar e mais de 80% das empresas a reportarem perdas.
Apresentado hoje em Díli, o estudo mostra que já antes da pandemia o país se debatia com várias dificuldades, como a falta de infraestruturas básicas, riscos climáticos ou acesso limitado a serviços.
Situação ampliada pela pandemia, com impacto particular nos pequenos agricultores, nas populações mais remotas (tanto rurais como urbanas) e nas pequenas e médias empresas.
“As desigualdades
aprofundaram-se, especificamente no que diz respeito ao trabalho não
remunerado, com o fardo a ser carregado pelas mulheres. As famílias pobres e
vulneráveis estão entre os piores atingidos pela crise de covid-
A Avaliação de Impacto Socioeconómico (AISE) foi conduzida pelo sistema das Nações Unidas para entender a dimensão dos impactos em grupos vulneráveis, famílias pobres, e micro, pequenas e médias empresas (MPME).
Entre outros fatores, a avaliação teve em conta alterações nos meios de subsistência, emprego, segurança alimentar, cuidados de saúde, educação e outros serviços básicos, incluindo a proteção social e a igualdade de género.
Os dados foram recolhidos nos municípios de Baucau, Bobonaro, Díli e Viqueque e na Região Administração Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), com inquéritos porta-a-porta em 13 sucos e entrevistas presenciais com 419 agregados familiares – com 2.834 membros.
Foram ainda ouvidas quase 100 MPME em 15 setores de atividade, parceiros de desenvolvimento e líderes comunitários.
O estudo, que envolveu especialistas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da ONU Mulheres, mostra uma “redução drástica” no rendimento das famílias para a maioria dos sondados, com 59% dos que tinham alguma forma de rendimento a dizer que o perderam.
O número de famílias sem qualquer forma de rendimento aumentou “de forma considerável”, para 56,6%, sendo que das restantes, 55% reportaram quedas nos rendimentos.
“O número de famílias vulneráveis sem rendimento quadruplicou de 46 para 185 entre as famílias ouvidas”, refere o estudo.
A análise mostra que uma em cada quatro casas tinha pelo menos uma pessoa que tinha ficado sem emprego devido à pandemia da covid-19, “evidenciando-se a vulnerabilidade de famílias em que, quando um membro perde o salário, a casa fica sem qualquer rendimento”.
“Muitos agregados familiares, especialmente com recursos financeiros limitados, não têm capacidade de lidar com essas perdas”, explica o estudo.
O número de pessoas a obter rendimentos por trabalho por conta própria caiu 85%, tendo 50% de todos os empregados reportado mudanças nos seus locais de trabalho.
Em 17% dos casos, a atividade económica parou totalmente, quer devido às restrições do estado de emergência, quer a restrições em viagens.
O estudo nota que os problemas
estruturais de emprego afetam especialmente os jovens, com apenas 12,3% entre
os 15 e os
Entre as dificuldades, referiram o acesso ao mercado, mas também o impacto climático – cheias, seca e chuvas fortes –, com 86% das famílias envolvidas em produção agrícola a reportarem impactos negativos.
A perda de cultivos, a morte de animais, especialmente devido à peste suína africana, chuvas e condições atmosféricas foram depois agravadas com os choques da pandemia.
O estudo mostra ainda um aumento, especialmente entre as mulheres, nos trabalhos domésticos, incluindo cuidados de crianças, o que afetou a capacidade de obter rendimentos.
Particularmente grave foi a insegurança alimentar, cujos níveis em Timor-Leste são já elevados – 70% das necessidades de consumo de arroz, por exemplo, dependem de importações –, uma situação que se agravou com a pandemia.
Cerca de 80% das famílias reportaram problemas de segurança alimentar, com “37,6% dos agregados afetados por insegurança alimentar moderada ou severa”.
Trata-se de famílias em que houve perdas de rendimento e que reportaram ter de reduzir a qualidade da sua dieta, já fraca em alguns casos, por falta de dinheiro ou recursos.
“Mais famílias nos 20% de riqueza mais baixa ‘tiveram de perder uma refeição’ (21,4% contra 7,9%) e ‘ficaram sem comida’ (42,8% contra 22,3%) em contraste com os mais ricos”, nota.
Para lidar com a falta de alimentos, a estratégia mais comum foi reduzir os gastos essenciais não alimentares (61,7% das famílias) nos transportes, saúde, educação, saneamento e serviços básicos.
O estudo nota ter havido “elevados níveis de coesão social” para responder às dificuldades, com cerca de metade das famílias a reportar ter recebido alguma forma de apoio e 27% ter ajudado outras famílias com dinheiro, alimentos ou outro material.
Porém, o quinto mais rico “recebeu mais apoio em termos de dinheiro, comida e assistência emocional, em contraste com o quinto mais pobre”.
Nas MPME, a maior parte reportou impactos negativos, especialmente nos primeiros dois meses do estado de emergência, com 81% a comunicarem perdas de rendimento e dificuldades em pagar salários. As mulheres foram mais despedidas (representam 61% dos despedimentos) que os homens.
Houve ainda impactos em termos das redes de fornecimento e uma queda de procura que atingiu os 65% fora de Díli e os 18% na capital.
Timor-Leste tem atualmente um caso ativo da covid-19 e está no seu sexto período de estado de emergência de 30 dias.
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