sábado, 7 de dezembro de 2024

Coreia do Sul: moção de destituição do Presidente condenada ao fracasso

A moção foi votada ao fracasso depois de quase todos os deputados do partido no poder terem abandonado o Parlamento numa tentativa de impedir a obtenção de quórum.

Os deputados sul-coreanos começaram hoje a votar a moção de destituição do Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, devido à tentativa falhada de impor a lei marcial, mas está condenada ao fracasso.

A Assembleia Nacional sul-coreana necessita de, pelo menos, 200 votos num total de 300 para destituir o Presidente. O Partido do Poder Popular (PPP), de Yoon, tem 108 lugares e os partidos da oposição 192.

As imagens em direto da sessão mostraram os deputados do PPP a abandonar o hemiciclo antes da votação, apesar de dezenas de milhares de manifestantes se terem alinhado no exterior do edifício para exigir a saída de Yoon.

De acordo com os meios de comunicação social sul-coreanos, apenas dois deputados do PPP decidiram permanecer no hemiciclo.

Por outro lado, momentos antes, o Parlamento não obteve maioria suficiente para estabelecer uma investigação sobre a primeira-dama, Kim Keon-hee, devido a suspeitas de corrupção.

A moção para investigar Kim obteve 198 votos a favor e 102, pelo que não atingiu a maioria de dois terços necessários, indiciando que apenas seis membros do PPP votaram a favor da investigação.

Yoon Suk Yeol tinha surpreendido a Coreia do Sul na terça-feira à noite ao anunciar a imposição da lei marcial, uma medida sem precedentes desde o golpe de Estado do ditador Chun Doo-hwan, em 1980, e ao enviar o exército para o Parlamento com o objetivo de o amordaçar.

Em circunstâncias fora do comum, 190 deputados conseguiram, no entanto, realizar uma sessão de emergência durante a noite, enquanto os seus assistentes bloqueavam as portas do hemiciclo com móveis para impedir a entrada dos soldados armados.

Estes deputados tinham votado unanimemente contra a lei marcial, obrigando o impopular Presidente conservador a revogá-la ao fim de apenas seis horas.

Na manhã de hoje, e num discurso televisivo à nação, que durou apenas dois minutos, Yoon, 63 anos, anunciou que confiaria ao seu partido a tarefa de tomar "medidas para estabilizar a situação política", incluindo o respetivo mandato.

"Não me furtarei às minhas responsabilidades legais e políticas relativamente à declaração da lei marcial", acrescentou.

O Presidente explicou a tomada de poder pelo seu "desespero enquanto Presidente", uma vez que o Parlamento, maioritariamente dominado pela oposição, torpedeou praticamente todas as suas iniciativas.

"Causei ansiedade e incómodo ao público. Peço sinceras desculpas", concluiu antes de fazer uma profunda vénia aos telespetadores.

O discurso muito curto não serviu para acalmar uma animosidade geral.

O líder do PPP, Han Dong-hoon, afirmou imediatamente que "a demissão antecipada do Presidente é inevitável", uma vez que o exercício normal das suas funções era, na sua opinião, "impossível nestas circunstâncias".

No entanto, após uma reunião realizada na sexta-feira à noite, a maioria dos deputados do partido reafirmou a posição oficial de se opor à destituição, enquanto Han apelou à "rápida suspensão" de Yoon.

"Parece que o partido no poder decidiu opor-se à destituição na votação, na condição de o Presidente entregar o controlo", disse à AFP Chae Jin-won, investigador do Colégio Humanitas, da Universidade Kyung Hee.

"O principal problema é que, embora reconheçam que o Presidente cometeu erros e é um criminoso, simplesmente não querem dar o poder a Lee Jae-myung", o líder do Partido Democrático, a principal força da oposição, acrescentou Chae.

"Neste momento, o maior risco na Coreia do Sul é a própria existência do Presidente. As únicas soluções são uma demissão imediata [...] ou uma saída antecipada por destituição", afirmou Lee Jae-myung após o discurso presidencial.

A declaração "só agrava o sentimento de traição e de raiva do povo", frisou.

Dezenas de milhares de manifestantes alinharam-se hoje à tarde à porta do Parlamento para aguardar o resultado da votação.

"O povo não lhe vai perdoar", disse à AFP Lee Wan-pyo, um reformado de 63 anos que assistiu ao discurso do Presidente na principal estação de comboios de Seul.

A Coreia do Sul "tem de evitar que estes acontecimentos se repitam", afirmou Jeon Yeon-ho, de 19 anos.

Também hoje realizou-se uma manifestação a favor de Yoon na praça central de Gwanghwamun.

Receando uma nova tomada de poder noturna por parte do Presidente, que não aparecia em público desde quarta-feira, os deputados da oposição acamparam no interior da Assembleia Nacional durante toda a noite.

Autocarros e outros veículos foram estacionados nas esplanadas em redor do edifício para impedir a aterragem de helicópteros das forças especiais.

SIC | Lusa 

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