Em 2016, só existia praticamente informação
em português na Rádio e Televisão de Timor-Leste (RTTL). Em 2023, cinco órgãos
de comunicação social timorenses escrevem
Era jornalista da Rádio Comunidade Comoro, quando, em 2018, decidiu frequentar o curso intensivo de Português para Jornalistas, níveis A1/A2. A partir daí, nunca mais parou de aprender a língua. Fez a restante formação, dos níveis (B1, B2 e B2+), mas também a Oficina da Escrita Jornalística e cursos de Português Específico para Jornalistas. Octaviano Gomes conta: “Fiquei muito surpreendido com a qualidade da formação. Tínhamos manuais bem elaborados, havia interação entre os formadores e formandos na sala de aula, condições que nunca encontrei em lado nenhum. Os cursos permitiram-me evoluir muito. Aprendi mais do que na própria escola”.
Entretanto, Octaviano já tinha começado o estágio no Grupo Media Nacional, onde fazia cobertura e escrevia para o programa televisivo “CPLP na GMN” e jornal Semanário. O domínio da língua levou-o a uma nova função, em 2021: a de revisor linguístico de informação em português. “Tive o privilégio, que os meus colegas não tiveram, de me cruzar com pessoas extraordinárias (formadores e formandos) que me ajudaram a acreditar nas minhas capacidades e a seguir em frente”, diz.
Isaura Lemos de Deus já tinha algum domínio da língua portuguesa e, por isso, começou o curso no nível B2. Completou depois o seu percurso formativo e iniciou o estágio no Timor Post. Foi com a reportagem que escreveu neste órgão, “Rostos da pobreza em Timor-Leste”, que viria a ganhar o Prémio Adelino Gomes, atribuído pelo Conselho de Imprensa. Em 2021, começou a trabalhar na secção de Português da Tatoli como jornalista. É atualmente editora da mesma secção.
As histórias de Octaviano e Isaura são semelhantes à de Germenino Ximenes que não dominava a língua e é agora tradutor de português do Timor Post. O percurso formativo foi ainda o de centenas de jornalistas e editores timorenses, que, embora não escrevam em português, reconhecem a importância da língua para a compreensão de documentos ou para melhorar a escrita em tétum.
O que têm todos em comum? Foram beneficiários do CLJ. Isaura resume todo o percurso que fez em duas frases: “Este projeto ajudou-me muito. Tive a oportunidade de aprender o português e escrita jornalística, o que mudou a minha vida”. O CLJ não tem mudado só vidas. Está a mudar a comunicação social timorense.
O QUE É O CLJ?
O CLJ é um projeto bilateral que tem como missão melhorar as competências de língua portuguesa e de jornalismo de jornalistas e profissionais do Governo ligados à comunicação (assessores de imprensa, oficiais de comunicação ou tradutores).
Entre 2014 e 2015, o CLJ consistia numa atividade do Programa de Apoio à Comunicação Social (União Europeia/ Camões, Instituto da Cooperação e da Língua). Em setembro de 2016, dada a adesão dos jornalistas timorenses, transformou-se num projeto bilateral do Camões I.P (Portugal), Secretaria de Estado para a Comunicação Social e posteriormente Ministério dos Assuntos Parlamentares e Comunicação Social (Timor-Leste).
A primeira fase, de
O objetivo geral do projeto é capacitar os profissionais de comunicação social timorenses para a transmissão de informação fidedigna ao público em língua portuguesa, contribuindo para o aumento da literacia mediática, económico-financeira e jurídica e para o fomento do conhecimento geral da população.
Os objetivos específicos do projeto passam por: i) fomentar o uso da língua portuguesa por parte de profissionais de comunicação social; ii) promover a correção linguística de conteúdos informativos em língua portuguesa; e iii) promover a transmissão de informação fidedigna pelos profissionais de comunicação social.
O QUE FAZ O CLJ E COMO FAZ?
A intervenção do CLJ, na área da língua, é programada para que os formandos dominem progressivamente o português, numa perspetiva de língua não materna e para fins específicos. Tanto os cursos de Português para Jornalistas como os de Jornalismo envolveram um estudo prévio para que a formação fosse ao encontro das reais necessidades do público-alvo.
Jornalistas com competências em língua portuguesa reforçadas
O CLJ forma jornalistas de órgãos públicos e privados, bem como profissionais ligados à comunicação do Governo, dos níveis de proficiência A1/A2 (elementar), B1 (Intermédio), B2 (Intermédio Superior), cursos com 220 horas de duração cada, e B2+, com 150 horas. Antes de seguirem para o nível C1 (Avançado), os formandos têm de frequentar a Oficina da Escrita Jornalística e os cursos de Português Específico para Jornalistas sobre as áreas da Saúde, Justiça, Educação, Economia, entre outras.
A formação de Português para
Jornalistas foi planeada com base num estudo exaustivo, assente,
entre outras estratégias, na análise sociolinguística do público-alvo
e dos conteúdos na imprensa, rádio e televisão (editorias, línguas
usadas…), na aplicação de testes diagnósticos e na análise de um corpus linguístico escrito
de conteúdos informativos
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