Lisboa
deveria tomar a dianteira na resposta ao convite para participar no Banco
Asiático de Investimento em Infraestruturas, afirma o especialista Enrique
Galán, do Banco Asiático de Desenvolvimento.
Portugal
foi auscultado, juntamente com outros países europeus, a Austrália e o Canadá,
para fazer parte do Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (BAII),
um dos pilares da estratégia da China na Ásia. Portugal deveria ser o primeiro
a responder e a assumir-se como principal parceiro na Europa deste
projeto", refere Enrique Galán, representante de Portugal no Conselho de
Administração do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAS). Galán está radicado
em Manila, na sede do BAS, que é liderado pelo Japão, e, com Luís Mah,
investigador do Centro de Estudos sobre África, Ásia e América Latina (CESA) no
Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, edita o blogue "O Retorno da
Ásia".
Para
Galán, a criação do BAII é um dos pilares da estratégia global da China.
"Aliás, não foi, por acaso, que os EUA e o Japão foram os únicos países
desenvolvidos que não foram convidados, de forma deliberada, a participar nesta
nova instituição. E, para demonstrar que é capaz de liderar uma instituição com
vocação mundial, a China necessita de contar com países não regionais que
contribuam para aumentar a sua reputação", refere, para concluir: "É
a primeira vez que a China contesta a hegemonia americana e japonesa no mundo e
na região. Dezasseis países da região já se comprometeram a ser acionistas do
Banco, que arrancará em meados de 2015".
A
emergência da Ásia Oriental e do Sudeste
O
especialista sublinha a criação do BAII como um dos sinais da emergência da
Ásia Oriental e do Sudeste (AOS) nos fluxos mundiais de investimento direto no
estrangeiro, em que a China já surge em terceiro lugar, tendo ultrapassado, em
2013, a barreira dos 100 mil milhões de dólares de investimento direto no
estrangeiro, um aspeto referido no relatório anual da UNCTAD (Conferência das
Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento) publicado esta semana, a que o
Expresso já se referiu. Aliás, se os fluxos da China forem somados aos de Hong
Kong (que é uma região administrativa especial da China e uma plataforma do
capital financeiro chinês e da diáspora chinesa), o investimento direto no
estrangeiro da economia chinesa (globalmente considerada) em 2013 é já superior
ao do Japão.
Sublinhe-se
que, desde 2012, a AOS ultrapassou a União Europeia como recipiente anual do
investimento direto estrangeiro e como exportador anual de capitais para
investimento direto no estrangeiro. Com a crise da dívida na zona euro e a
estratégia de resposta seguida pela Comissão Europeia e pelo Eurogrupo nos
últimos dois anos, a posição da União Europeia recuou nesses fluxos
internacionais, o que significou uma perda de peso geoeconómico.
A
este propósito refere-nos Enrique Galán: "A meu ver, os fluxos de
investimento direto no estrangeiro com origem na Ásia Oriental e do Sudeste são
um fenómeno relativamente novo que resulta de quatro factos: a concentração das
reservas cambiais mundiais na China (33% do total global, 36% se incluirmos
também Hong Kong); a internacionalização das empresas transformadoras e
intensivas em mão-de-obra chinesas para países com custos mais reduzidos de
trabalho, tendo por destino normalmente países do Sudeste asiático; a
internacionalização da estratégia de desenvolvimento chinesa, quer ao nível do
Governo, quer ao nível das próprias empresas, que passa a ser mais global e a
olhar com mais atenção para o que se passa lá fora e, sobretudo, a preocupação
do gigante asiático em diversificar o seu portfólio de ativos de investimento,
tendo por destino normalmente ativos em países desenvolvidos que apresentem
potencial de crescimento no futuro, algum valor geoestratégico no mercado
mundial e se encontrem relativamente abaixo do valor do mercado. Neste segundo
caso, a aposta em Portugal parece óbvia, pois reúne as três condições".
Jorge
Nascimento Rodrigues, em Expresso de 27.06.2014
PORTUGAL
ADERE AO BANCO ASIÁTICO DE INVESTIMENTO
Instituição
deve estar operacional até ao final do ano com uma capitalização inicial de 50
mil milhões de euros.
Portugal
anunciou oficialmente a intenção de se tornar um dos membros fundadores do
Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII), sendo esta intenção
confirmada por escrito por parte da China.
"A
China saúda a decisão de Portugal", refere a agência Bloomberg. Se a
entrada de Portugal for aprovada, a partir de 15 de Abril o país torna-se
oficialmente num membro fundador do banco de investimento asiático, uma
instituição que está no centro de uma nova celeuma diplomática entre Washington
e Pequim.
Em
comunicado divulgado ao final da manhã, o Ministério dos Negócios
Estrangeiros refere que "a participação de Portugal [no banco] poderá
criar melhores condições para as empresas portuguesas que participam em
projectos na região asiática, região com a qual Portugal tem vindo a
intensificar as suas relações económicas e comerciais".
O
Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas deve estar operacional até
ao final do ano com uma capitalização inicial de 50 mil milhões de euros. Visa
sobretudo o financiamento de projectos de energia, transportes e comunicação na
Ásia. Tem também uma outra função: aumentar a influência da China na
geopolítica mundial.
Por
esta razão, num primeiro momento os EUA, não têm planos para aderir, tendo
mesmo desaconselhado os seus aliados a juntarem-se à instituição, posição
entretanto suavizada tanto pelo FMI como pelo Banco Mundial.
Reino
Unido, França e Itália são alguns dos mais de 50 países que já aderiram contra
as intenções de Washington. Na Europa, a Irlanda é um dos poucos países que
continua de fora.
Da
Espírito Santo Saúde à Fidelidade, os últimos anos têm sido marcados por um
forte crescimento do investimento chinês em Portugal. Ao mesmo
tempo que a relação com os EUA vive dias conturbados devido à anunciada
retirada da base das Lajes, que a própria China admitiu interesse em poder vir
a explorar.
*Notícia
actualizada às 11h17, com referência ao comunicado enviado pelo Ministério dos
Negócios Estrangeiros
Sara
Piteira Mota e Paulo Zacarias Gomes, em Económico de 02.04.2015
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