Timor-Leste.
Deixam para mim este país que escolhi como Pátria II Saudosa e Amada. Um
português que nunca mais consegue na vida largar a pele adquirida com agrado em
Timor-Leste de certeza que bebeu muita água de coco, mas não só. Não vai ser
fácil abordar Timor-Leste nos mais recentes acontecimentos. É que aconteceu
muita coisa enquanto andámos em período de veraneio e o PG esmoreceu.
Preparem-se para prosa longa.
Pelo
que se percebe em notícias em tétum (a língua oficial do país) a sociedade
civil timorense quer ver Xanana Gusmão investigado e encostado à barra do
tribunal. Julgado. É evidente para a maioria dos timorenses que ele está
envolvido em alguns (ou muitos) crimes. Não foi por acaso que ele expulsou os
juízes estrangeiros, principalmente os portugueses. Mas isso são águas passadas
que só vieram provar que Xanana é um bom toureiro na arena da vida que ele
próprio construiu para si próprio. Nem o touro com os cornos da justiça tem
conseguido colhê-lo, nem de raspão. Ele finta até os cornos do Diabo.
Contorcionista, além de toureiro, prestidigitador, equilibrista, voador de
trapézio e mestre das piruetas, eis o primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana.
O ex-guerrilheiro, o chamado “pai da Nação”. Um pai mau-padrasto que em mais de
uma dezena de anos não afastou a miséria do povo timorense daquelas paragens,
nem a fome, mas conseguiu selecionar uma elite que lhe vai ao beija-mão. Quem
se lhe opuser corre o sério risco de ser assassinado. Foi o que já aconteceu a
alguns, mesmo em tempos da guerrilha (depoimentos) pela libertação, e, como é
apontado, continua a acontecer. Há dias atrás foi a vez do líder do Conselho da
Revolução Maubere, Mauk Moruk, ex-guerrilheiro, como Xanana, aliás, Alexandre
Gusmão.
Numa
publicação timorense, Tempo Timor, onde predomina o tétum, um recente artigo de
opinião de José Câncio da Costa Gomes, um timorense e estudante de pós
graduação no estrangeiro, o perfil do primeiro-ministro-sombra de Timor-Leste,
Xanana, pode ser interpretado como um qualquer mafioso dos tempos de Al Capone,
mas da modernidade e com um staff de apoio que se apoderou dos poderes a seu
bel-prazer numa espécie de “ditadura-democrática”, agora em voga – como se tal
fosse possível de conciliar.
Diz
José Câncio no título “A operação conjunta entre PNTL-FDTL e a morte de Mauk Moruk”,
logo na abertura:
“Neste
artigo simples eu queria manifestar a minha preocupação como um timorense. É
uma expressão de tristeza e de dor dirigida aos dirigentes do meu País que
ainda não deixaram a mentalidade guerrilheira. Admito que o conteúdo deste
artigo não agrada muito a alguns, mas considerando que TL é um país
democrático, cada cidadão tem a obrigação moral de denunciar o mal que acontece em Timor-Leste. Matar um
adversário político em nome do interesse nacional nunca se pode justificar
moralmente. Pior ainda: usam o poder que têm para mobilizar as instituições do
Estado Timorense contrariando a Constituição da República. Com armas pesadas
perseguiram um grupo sem armas e mataram-nos - é muito lamentável. Esta
barbaridade não devia acontecer. Os governantes não podem apontar os dedos ao
Mauk Maruk porque não os ouvia mas ao contrário eles que não queriam ouvi-lo
nem às suas queixas sobre injustiça, má-governação, corrupção, nepotismo,
dinheiro do Povo mal gasto em obras sem qualidade, abuso de poder, etc. Por
isso, a sua exigência para dissolver o Parlamento Nacional é normal num país
democrático. É consequência de um Parlamento onde não há oposição para travar o
Governo. O que Mauk pretendia dizer é que este tipo de Parlamento já não tem
credibilidade de representar o Povo para controlar o Governo. Foi nesta linha
que ele exigia para dissolver o Parlamento. Acho que Mauk era o verdadeiro
opositor ao Governo, mas acabou por ser preso sem julgamento. A perseguição
política contra ele continuou depois de ter sido liberto da prisão, culminando
com a sua morte muito sádica. É muito injusto tratar um cidadão desta maneira,
tão violenta e cruel.”
Então,
em Timor-Leste não existe oposição no Parlamento? Pois não. Aquilo é uma imensa
e única maioria. Uma espécie de Parlamento de Salvação Nacional, que apoia um
Governo de Salvação Nacional. Algo ao estilo do colonialismo Português em
tempos, onde predominava o Partido Único que fingia de vez em quando questionar
o governo de Salazar só para fazer de conta que estava ativamente atento e em
defesa dos interesses do país e do povo. Ou então, por Salvação Nacional, um
esgar do regime de Pinochet mas com eleições quando consideram mais conveniente
e não quando a democracia exige. Recorde-se a dança de cadeiras de há menos de
um ano em que Xanana se
demite de primeiro-ministro e entrega a missão e o cargo a um militante da
suposta oposição, a Fretilin. Rui Araújo, o atual e oficial dito
primeiro-ministro decide e parece que governa mas… É que Xanana ficou a
integrar o governo e apesar de dizerem que não é ele o primeiro-ministro...
Rui
Araújo é um indivíduo sem mácula que se está a submeter a uma provação medonha.
Não podemos acreditar que ele acredite que governa em pleno este governo saído
das piruetas de Xanana com o apoio de Taur Matan Ruak, o presidente da República,
e de Mari Alkatiri, dirigente máximo da Fretilin. Este foi o resultado de um
casamento que levou o Parlamento à paralisia e ao compadrio, quando não á
cumplicidade que prejudica a democracia e os reais interesses de Timor-Leste.
Consequentemente dos timorenses.
Falando
português: o presidente Taur Matan Ruak e Alkatiri são nefastos cúmplices da
estratégia de Xanana Gusmão porque não mudaram a merda nem as moscas ao regime
apodrecido do “pai da Nação”. Por isso não recorreram a eleições - como
democraticamente deviam ter feito após a demissão de Xanana com a ladainha de
que não tinha habilitações para ser primeiro-ministro. E só ao fim de uma
década ou mais é que ele se apercebeu das suas limitações… Coitadinho.
Regressando
ao artigo de opinião no Tempo Timor: “Os governantes, os deputados e o
Presidente da República de Timor-Leste deviam ouvir a prudente opinião do
deputado Manuel Tilman que questionava a constitucionalidade da resolução do
Parlamento Nacional para formar a operação conjunta entre F-FDTL e PNTL. Esta
resolução foi imposta pelo Governo liderado pelo Xanana Gusmão, o homem
todo-poderoso em Timor-Leste. É consequência por não ter oposição no Parlamento
Nacional, o papel da oposição já não funciona. Esta operação revela duas coisas
muito sérias: Inconstitucionalidade e Injustiça. Senhor Manuel Tilmam teve
razão que em Timor-Leste não há guerra para chamar as Forças Armadas envolver
na operação contra o grupo ilegal liderado pelo Paulino Gama, aliás Mauk Moruk.
Isto é o trabalho de Policias, não é de Forças Armadas. Ninguém pode tomar uma
decisão desta natureza contrariando à Lei Fundamental da Nação. Tudo parece uma
propaganda do Governo com cumplicidade do Parlamento Nacional e do Presidente
da República para abater um adversário político. Este cenário político é um
crime contra os direitos fundamentais de cada cidadão, contra a democracia.”
E
prossegue José Câncio da Costa Gomes: “Na minha ótica, a morte de Mauk
Moruk é uma ajuste de contas entre ele e o senhor Xanana, problemas pessoais vindos
do passado. Há sempre muitos espaços para diálogo. Ninguém pode usar o seu
poder mágico, carismático, para justificar os seus atos criminosos mesmo que os
fizesse em nome do interesse nacional. Cada cidadão não deve ter medo de
denunciar os crimes desta natureza. A sociedade civil tem responsabilidade
moral para denunciar o crime dos seus governantes quando os deputados já não
falam em nome do Povo. É absolutamente inadmissível que o Governo tenha imposto
a sua vontade sobre o Parlamento Nacional, Tribunal e ainda por cima a
Presidência da República. A resolução do Parlamento Nacional para formar a
operação conjunta entre F-FDTL e PNTL foi claramente imposta pelo
Primeiro-Ministro então “Xanana Gusmão”. As suas intervenções tanto no
Parlamento como nos tribunais manifestam claramente um ato anti-democrático.
Estas dão-nos impressão de um regime ditatorial que faz tudo em nome do
interesse nacional com outro motivo para calar os seus adversários políticos.
Mauk Moruk era muito vocal contra a má governação do Governo de Xanana,
corrupção, nepotismo, abuso de poder, e ainda por cima denunciava os segredos
do passado. Há evidências, mesmo que sem provas, o Alfredo Reinado foi
assassinado por ter revelado o segredo da figura mágica ao público, através de
um canal televisivo da Indonésia. Agora Mauk foi liquidado por ter denunciado o
segredo deste senhor. Ambos foram vítimas do interesse nacional, um cenário
criado pela mesma pessoa. Eu conhecia também o cenário político de alto nível
deste senhor todo-poderoso, mas não quero revelar por razão de segurança
daqueles que me revelaram. Portanto, a guerra ainda não acabou na cabeça deste
senhor. Neste contexto, eu entendo perfeitamente a posição do Senhor Presidente
da República e Senhor Comandante das Forças Armadas perante este senhor
todo-poderoso.”
Esta
prosa já vai muito longa. Reverto a intenção de reproduzir aqui ainda mais a
opinião de um timorense esclarecido e sentido. Convido para que leiam no
original, no Tempo Timor, o autor deste grito lancinante da reprovação e
indignação causada pelo processo Mauk Moruk e respetivo assassinato de Estado.
Aquele Estado, de Xanana e seus apaniguados e cúmplices.
Que
Mauk Moruk descanse em
Paz. Que aqueles que contribuíram para o seu assassinato
sejam presentes a uma justiça sem medo daquele que no artigo de opinião é
considerado o “todo-poderoso” e a quem é apontado o dedo pelos timorenses e por
alguns estrangeiros que se interessam pela luta de liberdade e democracia de
facto dos timorenses.
Sabemos
que o medo pode ser contagiante. Quem não tem medo de Xanana Gusmão?
De
seguida outros temas em notícias recentes da Lusa em Sapo Timor-Leste . Que mereciam
ser comentadas, principalmente pelo positivismo e objetividade que contêm. Sim,
porque nem tudo é medo, caos e desgraça em Timor-Leste.
Felizmente. Repare-se no primeiro título da notícia que se
segue. Taur Matan Ruak demonstra ter a consciência pesada acerca do assassinato
de Mauk Moruk. Ele sabe bem que já o tentaram assassinar quando ocorreu o golpe
de Estado. Por acaso (?) não estava em casa. Foi morto um seu colaborador.
António
Veríssimo – Página Global
Esclarecimento
Timor Agora
Os
referidos “temas em notícias recentes da Lusa em Sapo Timor-Leste
que mereciam ser comentadas”, como consta no parágrafo anterior, já foram
publicados no Timor Agora há alguns dias. Deixamos os links do Timor Agora para os consultar:
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