Jacarta,
29 ago (Lusa) - Timor-Leste vai destruir os barcos apanhados a pescar
ilegalmente e cooperar com a Indonésia na fiscalização nas águas timorenses,
disse hoje o coordenador dos Assuntos Económicos e ministro da Agricultura e
Pescas, Estanislau da Silva.
"Temos
um consenso sobre isso no nosso país. Podemos fazê-lo e vamos fazê-lo",
garantiu o ministro timorense, ressalvando: "Claro que não vamos explodi-los
com as pessoas lá dentro".
O
governante falava aos jornalistas numa curta conferência de imprensa conjunta
com a ministra dos Assuntos Marinhos e das Pescas da Indonésia, Susi
Pudjiastuti, após a assinatura de um memorando de entendimento para reforço da
cooperação entre os dois países na área das pescas, especialmente no combate à
pesca ilegal.
"Fazemos
isso para o benefício da nossa nação e também para o benefício do mundo, porque
esta região é uma área de grande biodiversidade. Creio que em qualquer lugar do
mundo, todos querem manter esta área como uma herança mundial", defendeu
ainda o governante timorense na conferência de imprensa.
Segundo
o responsável pela pasta das Pescas, as atividades relacionadas com a pesca
ilegal traduzem-se em perdas anuais de "cerca de 200 milhões de dólares
(179 milhões de euros)" para o país.
Estanislau
da Silva elogiou várias vezes a postura "dura" da sua homóloga
indonésia ao destruir os barcos apanhados a pescar ilegalmente no maior
arquipélago do mundo, mas sublinhou: "não podemos deixar que a nossa
soberania seja violada".
Desde
que o novo governo indonésio assumiu funções, em outubro do ano passado, foram
destruídas dezenas de embarcações estrangeiras apanhadas a pescar ilegalmente
nas águas indonésias, uma medida polémica que já levou Pequim a exigir
esclarecimentos oficiais a Jacarta.
Susi
Pudjiastuti justificou que o problema vai para além da pesca ilícita, dado que
os barcos ilegais "tornam-se veículos de outros crimes, como tráfico
humano, escravatura, tráfico de drogas e, provavelmente, também tráfico de
armas".
Ao
abrigo do acordo hoje assinado, os dois países vão apostar na troca de
informações e em patrulhas conjuntas.
"Se
trabalhamos juntos, não haverá espaço para [os barcos ilegais] se esconderem.
Neste momento, quando nós os perseguimos, eles vão para Timor-Leste. Quando
Timor-Leste os apanha, eles vão para as nossa águas. Basicamente, eles tentam
fugir e usam as fronteiras", explicou Susi Pudjiastuti.
O
governante timorense admitiu que, neste momento, o seu país não tem "muita
capacidade para controlar" o problema, daí procurar cooperar com os países
vizinhos, "em particular a Indonésia", que "tem muita
experiência e know-how nesta área", referiu.
"Vamos
enviar algumas pessoas para se formarem na Indonésia e adquirirem capacidades
para gerir os nossos recursos e a indústria pesqueira", adiantou.
Timor-Leste
quer ainda trabalhar com "outros parceiros desenvolvidos para fornecer
toda a informação" e "usar tecnologia avançada para detetar
movimentos e barcos", acrescentou.
Estanislau
da Silva disse à Lusa que as duas nações vizinhas vão procurar estabelecer um
acordo com a Austrália e a Papua Nova Guiné, porque "tem de haver um
compromisso político forte dos países vizinhos" para enfrentar o problema.
O
combate à pesca ilegal, recordou, foi um dos assuntos introduzidos recentemente
nos trabalhos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
"Portugal
já tem tecnologia desenvolvida para a deteção de embarcações de pesca
ilegal", lembrou.
Após
a assinatura do memorando, os dois governantes participaram na cerimónia de
formatura da Sekolah Tinggi Perikanan (Escola das Pescas), onde quatro
funcionários públicos timorenses terminaram agora a sua formação.
AYN//
ATR
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