Díli,
19 nov (Lusa) - O campo do Greater Sunrise, no Mar de Timor, com reservas
estimadas de 5.1 triliões de pés cúbicos de gás, é demasiado grande para que a
sua exploração continue a ser adiada, disse hoje um especialista.
"Uma
das lições da história da exploração de petróleo e gás é que quando há
necessidade há vontade", afirmou hoje o advogado português Rui Amendoeira,
sócio da área de Petróleo e Gás da sociedade de advogados Vieira de Almeida e
Associados.
"Apesar
de todas as questões em torno da área conjunta de exploração e da fronteira
marítima, se desenvolver esses campos for economicamente benéfico e lucrativo,
o campo será desenvolvido, apesar das incertezas", considerou o advogado,
que acumula mais de 20 anos de experiência no setor na África lusófona e
francófona e está em Timor-Leste para avaliar as oportunidades existentes.
O
Greater Sunrise é, potencialmente, um dos maiores campos da região mas o seu
desenvolvimento tem estado atrasado por um impasse na definição das fronteiras
marítimas entre Timor-Leste e a Austrália e do modelo de refinação - flutuante
ou em terra, no sul de Timor-Leste.
"Há
petróleo a ser produzido em muitos países em zonas disputadas, onshore e
offshore. A maioria dos países conseguiram resolver disputas e produzir
petróleo e gás. Grande parte da produção vem hoje de zonas offshore onde as
fronteiras não estão claramente definidas", explicou Amendoeira.
Este
advogado recorda que o preço do gás já sentiu praticamente todo o ajustamento a
que poderia ser sujeito pelo aumento da produção doméstica dos Estados Unidos,
nomeadamente devido à técnica de fraturamento hidráulico (fracking).
Além
disso os preços do produto variam de região para região e na Ásia e Pacífico
registam valores mais elevados do que noutros locais, sendo a zona "de
mais crescimento onde o consumo vai aumentar a níveis muito
significativos".
Isso,
considera, cria um mercado potencialmente muito lucrativo pelo que o problema
do Greater Sunrise vai ser resolvido "a tempo e antes das reservas estarem
esgotadas nos outros campos".
"Quando
há estes assuntos no resto do mundo, quando há reservas significativas como o
Sunrise, há sempre grande pressão para os governos chegarem a acordo. Mesmo o
apetite das empresas privadas torna-se menos adverso ao risco", afirmou.
"O
consumo vai aumentar e terá que se explorar petróleo e gás em todo o mundo,
especialmente em zonas onde a produção e exploração é menos cara. O mundo não
está numa posição em que pode ignorar grandes campos", sublinhou.
Os
campos de grande dimensão são "poucos, a maioria foram descobertos em
meados do século passado e a maioria desses campos já estão esgotados".
Nos
bastidores de toda a polémica sobre o Sunrise está o Tratado sobre Determinados
Ajustes Marítimos no Mar de Timor (CMATS) (entre Díli e Camberra), que
Timor-Leste declarou ser inválido devido a atividades de espionagem por parte
da Austrália, mas mediante o qual os 'royalties' do campo seriam divididos ao
meio entre os dois países.
Caso
uma fronteira marítima seja definida, o campo poderia ficar totalmente em águas
timorenses.
Em
causa está ainda a questão da construção de uma unidade de processamento de Gás
Natural Liquefeito (GLN) na costa sul da ilha, opção da qual o Governo
timorense não abdica e que insiste ser a mais barata, tendo já realizado
investimentos significativos na zona.
Esses
investimentos iam ser ampliados significativamente com a assinatura em agosto
do maior contrato de sempre da história do país, de 720 milhões de dólares, com
a coreana Hyundai Engineering & Construction para a construção de toda a
unidade de apoio no sul.
Esse
projeto, conhecido como Tasi Mane, também está atualmente em limbo depois da Câmara
de Contas ter recusado o visto prévio ao contrato, decisão a que o Governo
timorense já recorreu para o Tribunal de Recurso.
A
concessão do Greater Sunrise é controlada pela Woodside (o operador com 33%) a
que se somam a ConocoPhillips, a Royal Dutch Shell e a Osaka Gas.
Sobre
se a produção será on-shore em Timor-Leste ou não, Amendoeira considera que
isso é uma questão que "depende não apenas de fatores económicos, mas de
políticos".
A
Vieira de Almeida e Associados abriu em 2014 o seu escritório em Timor-Leste
onde conta entre os seus clientes com a Timor Telecom, a Fundação Oriente e,
desde mais recentemente, a Autoridade Nacional do Petróleo.
ASP//ISG
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