Díli,
03 mar (Lusa) - Deputados timorenses apelaram hoje ao governador-geral
australiano, Peter Cosgrove, para interceder junto do Executivo em Camberra
para que a Austrália aceite, "com justiça e respeitando a lei
internacional", negociar as fronteiras marítimas com Timor-Leste.
Os
apelos marcaram intervenções críticas das quatro bancadas no parlamento
timorense sobre a posição australiana relativamente à negociação das
fronteiras, durante uma sessão solene de boas vindas a Peter Cosgrove, que está
em Díli até sexta-feira.
Natalino
dos Santos, chefe da bancada do Congresso Nacional para a Reconstrução de
Timor-Leste (CNRT) insistiu que a soberania de Timor-Leste "não está
completa até que sejam definidas as fronteiras" com os seus vizinhos.
"Temos
tentado muitas vezes falar com a Austrália sobre isto. Mas a Austrália continua
a ignorar esta questão, que prejudica o nosso desenvolvimento e não cumpre os
nossos direitos a nível do direito internacional", afirmou.
Para
Natalino Santos, a Austrália continua a ter vantagens na exploração dos
recursos de Timor-Leste e a "ignorar a vontade de Timor-Leste fechar esta
questão", respeitando o direito internacional.
"O
Governo australiano deve cumprir as suas normas internacionais nesta matéria e
não pode ignorar a posição de Timor-Leste. Apelo a que leve uma mensagem para
que mude esta posição. A delimitação definitiva das fronteiras é prioridade nacional
para o Estado timorense, mas a Austrália não se quer sentar a negociar",
disse.
"Temos
de resolver esta questão. A bancada do CNRT apela ao povo de Timor-Leste e aos
líderes nacionais para que encorajem o VI Governo a continuar o processo de
negociação de delimitação de fronteiras. Porque é um direito soberano",
considerou ainda.
Aniceto
Guterres Lopes, líder da bancada da Fretilin, dedicou toda a sua intervenção a
esta questão, recordando os esforços dos anteriores Governos para fechar o
dossiê.
Insistindo
na reclamação timorense de uma "linha mediana de acordo com o direito
internacional" para fechar as fronteiras marítimas, o deputado disse que a
Austrália "se apresenta como exemplo na região de democracia e respeito
por direitos humanos e desenvolvimento económico".
"A
Austrália deve seguir o seu próprio exemplo. Tem de mostrar compromisso com a
independência económica de Timor-Leste. O Estado de Timor-Leste nunca se rendeu
na defesa dos seus direitos", disse.
"O
acordo com a Austrália é transitório. Timor-Leste esteve sempre preparado para
colaborar. Mas a Austrália não cumpriu as suas promessas. É altura de assumir o
nosso direito soberano. Mas o Governo australiano não quer negociar sobre os
direitos do nosso povo", acrescentou.
Também
Jacinta Pereira, do Partido Democrático, afirmou que, como no passado, o
Governo australiano não refletiu a posição do seu povo, que esteve ao lado dos
timorenses, apesar de Camberra apoiar a ocupação indonésia.
"A
nossa relação deve reforçar-se e manter-se em vários setores. Mas para que isto
ocorra temos de resolver as questões pendentes nas fronteiras marítimas",
disse.
"Esta
é uma questão de soberania para os dois povos. E no caso de Timor-Leste,
queremos que se cumpra a justiça e o direito internacional. Apelo a sua
excelência para que use a sua influência junto do Governo da Austrália para que
se sente com Timor-Leste para negociar as fronteiras marítimas",
acrescentou.
José
Luis Guterres, líder da bancada da Frente Mudança (FM), deu "calorosas
boas vindas" a Peter Cosgrove, recordando o seu papel em 1999, quando
ajudou a estabilizar Timor-Leste deixando na população "boas
memórias".
Ainda
assim, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros recordou as "memórias
amargas" do passado quando Camberra "era dos poucos a reconhecer a
integração de Timor-Leste na Indonésia", apesar de muitos políticos e
cidadãos australianos "terem sempre dado apoio à autodeterminação para os
timorenses".
José
Luis Guterres apelou também a que Cosgrove intervenha junto do executivo em
Camberra para "fechar as negociações sobre fronteiras".
ASP
// MP
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