Hong
Kong, China, 18 jun (Lusa) -- Hong Kong vive hoje um segundo dia de protestos
sobre o caso dos cinco livreiros desaparecidos no final do ano passado e que
mais tarde reapareceram sob custódia das autoridades chinesas.
Deputados
pró-democratas de Hong Kong acusaram o Governo de ser uma marioneta de Pequim e
instaram as autoridades locais a responder às preocupações dos cidadãos da
antiga colónia britânica, numa altura em que aumentam os receios quanto à
alegada interferência de Pequim nos assuntos internos da cidade.
"Pensávamos
que o Governo de Hong Kong podia proteger as pessoas de Hong Kong. Não
pode", disse o deputado pró-democracia Frederick Fung, que vai participar
na manifestação de hoje.
"Eu
exijo que o Governo explique claramente o que fez para ajudar Lam ou os outros
funcionários da livraria Causeway Bay nos últimos oito meses. Se eles não o
fizerem, não são o nosso Governo", acrescentou.
Na
sexta-feira, o secretário das Finanças de Hong Kong, John Tsang, que entretanto
assumiu funções de chefe do executivo interino, escusou-se a dar uma resposta
direta sobre a forma como o Governo vai proteger os direitos e a liberdade do
livreiro Lam Wing-kee, segundo a imprensa local.
Membros
do Partido Democrata escreveram uma carta aberta ao Presidente chinês, Xi
Jinping, na qual afirmam que as autoridades do interior da China "violaram
gravemente" o sistema semi-autónomo de Hong Kong e o princípio "Um
país, dois sistemas".
O
caso dos livreiros desaparecidos voltou novamente à luz do dia esta semana,
depois de Lam Wing-Kee -- um dos cinco 'desaparecidos' -- ter regressado a Hong
Kong e de ter feito revelações surpreendentes sobre os oito meses em que esteve
detido no interior da China.
Os
cinco livreiros trabalhavam na mesma editora de Hong Kong, conhecida por
publicar livros sobre a vida privada de líderes chineses e intrigas políticas
na cúpula do poder, os quais são proibidos no interior da China. Os cinco
desapareceram entre outubro e dezembro do ano passado - três dos quais quando
se encontravam no interior da China, e outros dois quando estavam em Hong Kong
e na Tailândia.
Lam
Wing-Kee, de 61 anos, alega que foi detido depois de passar a fronteira de Hong
Kong para a cidade chinesa de Shenzhen, à qual se deslocava para visitar a
namorada.
O
livreiro diz que lhe foi comunicado que ele tinha cometido o crime de
distribuição e envio de livros proibidos para a China.
Depois
de voltar esta semana a Hong Kong, Lam Wing-Kee deu na quinta-feira uma
conferência de imprensa, revelando pormenores dos oito meses em que permaneceu
detido sem acesso a advogado ou ao contacto com a família.
Também
disse que a sua confissão de crimes, transmitida na televisão estatal, foi
orquestrada pelas autoridades chinesas.
Lam
Wing-Kee disse que tinha sido autorizado a regressar a Hong Kong na terça-feira
sob a condição de dois dias mais tarde atravessar novamente a fronteira para a
China, com o disco rígido do computador com a lista de clientes da livraria. O
livreiro diz que desobedeceu às ordens de Pequim, preferindo não entregar os registos
dos clientes e falar abertamente do seu caso.
Lam
Wing-Kee deverá hoje participar numa manifestação em Hong Kong, organizada por
deputados pró-democracia, para pedir explicações.
Pequim
rejeitou as acusações de Lam, argumentando que o livreiro violou a legislação
da China e que por isso tem o direito de prosseguir com o caso.
Por
sua vez, Lee Bo, o único livreiro que desapareceu a partir do território de
Hong Kong, sem que haja registo de que atravessou a fronteira, mantém o que já
tinha dito anteriormente à imprensa sobre o seu caso, afirmando que está
simplesmente a ajudar a investigação das autoridades chinesas.
Novamente
em Hong Kong, Lee Bo refutou as declarações de Lam, negando que tenha sido
levado para o interior da China contra a sua vontade.
O
caso de Lee Bo gerou especial polémica por receios de que tivesse sido
sequestrado por agentes chineses no território de Hong Kong, o que constituiria
uma violação da declaração conjunta assinada com Pequim para a transferência da
soberania, que protege o modo de vida de Hong Kong até 2047.
FV
// VM
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