sábado, 18 de junho de 2016

Aumentam pedidos de esclarecimento sobre caso dos livreiros de Hong Kong "desaparecidos"


Hong Kong, China, 18 jun (Lusa) -- Hong Kong vive hoje um segundo dia de protestos sobre o caso dos cinco livreiros desaparecidos no final do ano passado e que mais tarde reapareceram sob custódia das autoridades chinesas.

Deputados pró-democratas de Hong Kong acusaram o Governo de ser uma marioneta de Pequim e instaram as autoridades locais a responder às preocupações dos cidadãos da antiga colónia britânica, numa altura em que aumentam os receios quanto à alegada interferência de Pequim nos assuntos internos da cidade.

"Pensávamos que o Governo de Hong Kong podia proteger as pessoas de Hong Kong. Não pode", disse o deputado pró-democracia Frederick Fung, que vai participar na manifestação de hoje.

"Eu exijo que o Governo explique claramente o que fez para ajudar Lam ou os outros funcionários da livraria Causeway Bay nos últimos oito meses. Se eles não o fizerem, não são o nosso Governo", acrescentou.

Na sexta-feira, o secretário das Finanças de Hong Kong, John Tsang, que entretanto assumiu funções de chefe do executivo interino, escusou-se a dar uma resposta direta sobre a forma como o Governo vai proteger os direitos e a liberdade do livreiro Lam Wing-kee, segundo a imprensa local.

Membros do Partido Democrata escreveram uma carta aberta ao Presidente chinês, Xi Jinping, na qual afirmam que as autoridades do interior da China "violaram gravemente" o sistema semi-autónomo de Hong Kong e o princípio "Um país, dois sistemas".

O caso dos livreiros desaparecidos voltou novamente à luz do dia esta semana, depois de Lam Wing-Kee -- um dos cinco 'desaparecidos' -- ter regressado a Hong Kong e de ter feito revelações surpreendentes sobre os oito meses em que esteve detido no interior da China.

Os cinco livreiros trabalhavam na mesma editora de Hong Kong, conhecida por publicar livros sobre a vida privada de líderes chineses e intrigas políticas na cúpula do poder, os quais são proibidos no interior da China. Os cinco desapareceram entre outubro e dezembro do ano passado - três dos quais quando se encontravam no interior da China, e outros dois quando estavam em Hong Kong e na Tailândia.

Lam Wing-Kee, de 61 anos, alega que foi detido depois de passar a fronteira de Hong Kong para a cidade chinesa de Shenzhen, à qual se deslocava para visitar a namorada.

O livreiro diz que lhe foi comunicado que ele tinha cometido o crime de distribuição e envio de livros proibidos para a China.

Depois de voltar esta semana a Hong Kong, Lam Wing-Kee deu na quinta-feira uma conferência de imprensa, revelando pormenores dos oito meses em que permaneceu detido sem acesso a advogado ou ao contacto com a família.

Também disse que a sua confissão de crimes, transmitida na televisão estatal, foi orquestrada pelas autoridades chinesas.

Lam Wing-Kee disse que tinha sido autorizado a regressar a Hong Kong na terça-feira sob a condição de dois dias mais tarde atravessar novamente a fronteira para a China, com o disco rígido do computador com a lista de clientes da livraria. O livreiro diz que desobedeceu às ordens de Pequim, preferindo não entregar os registos dos clientes e falar abertamente do seu caso.

Lam Wing-Kee deverá hoje participar numa manifestação em Hong Kong, organizada por deputados pró-democracia, para pedir explicações.

Pequim rejeitou as acusações de Lam, argumentando que o livreiro violou a legislação da China e que por isso tem o direito de prosseguir com o caso.

Por sua vez, Lee Bo, o único livreiro que desapareceu a partir do território de Hong Kong, sem que haja registo de que atravessou a fronteira, mantém o que já tinha dito anteriormente à imprensa sobre o seu caso, afirmando que está simplesmente a ajudar a investigação das autoridades chinesas.

Novamente em Hong Kong, Lee Bo refutou as declarações de Lam, negando que tenha sido levado para o interior da China contra a sua vontade.

O caso de Lee Bo gerou especial polémica por receios de que tivesse sido sequestrado por agentes chineses no território de Hong Kong, o que constituiria uma violação da declaração conjunta assinada com Pequim para a transferência da soberania, que protege o modo de vida de Hong Kong até 2047.

FV // VM

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