Banguecoque,
07 fev (Lusa) -- A ONU questionou hoje a credibilidade da comissão
governamental birmanesa que investigou a violência contra a minoria muçulmana
rohingya, após denunciar que as ações das forças de segurança são passíveis de
se considerar "limpeza étnica".
Adama
Dieng, enviado especial da ONU para a prevenção do genocídio, mostrou-se
"chocado e alarmado" com o relatório, divulgado na semana passada,
pelo Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, que denuncia uma série
de abusos perpetrados desde outubro, altura em que o exército lançou uma grande
ofensiva no estado de Rakhine (oeste) após ataques mortíferos de rebeldes
contra postos fronteiriços.
Esses
abusos incluem execuções sumárias, violações, desaparecimentos forçados,
tortura e tratamento desumano ou detenção arbitrária, de acordo com o relatório
que indica que centenas de membros da comunidade rohingya terão sido mortos.
A
campanha militar levou aproximadamente 65.000 pessoas a fugir para o Bangladesh
e 22.000 outras a deslocarem-se para o interior da Birmânia, segundo calculou o
Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.
A
zona do norte de Rakhine mantém-se fechada ao acesso da ajuda humanitária, da
qual dependem milhares de pessoas, e de observadores e jornalistas
independentes.
Adama
Dieng congratulou-se com o compromisso anunciado pelo governo birmanês de
investigar os abusos denunciados no relatório, publicado depois de uma comissão
liderada pelo vice-presidente Myint Swe não ter encontrado provas dos referidos
abusos por parte das forças de segurança, mas contestou o resultado.
"A
atual comissão não é uma opção credível para levar a cabo uma nova investigação",
disse Dieng, ao mostrar a sua preocupação relativamente às diferenças entre as
conclusões do relatório do grupo governamental e as do organismo das Nações
Unidas.
"Apelo
para que qualquer investigação seja realizada por um grupo realmente independente
e imparcial, que inclua observadores internacionais", afirmou o enviado
especial da ONU.
Em
comunicado, o mesmo responsável insta o governo birmanês a demonstrar a sua
sinceridade em resolver o conflito em Rakhine, onde a organização Human Rights Watch
(HRW) também denunciou, na segunda-feira, novos casos de violência contra os
rohingya.
O
grupo de defesa dos direitos humanos com sede em Nova Iorque documentou
violações de mulheres, incluindo meninas de 13 anos, perpetradas por soldados e
guardas fronteiriços que insultaram, agrediram e ameaçaram as vítimas por
razões étnicas ou religiosas.
"Estes
horríveis ataques a mulheres e meninas rohingya por parte das forças de
segurança acrescentaram um novo e brutal capítulo ao longo e repulsivo
historial de violência contra as mulheres por parte do exército birmanês",
disse a investigadora da HRW, Priyanka Motaparthy.
A
ativista culpou ainda o governo birmanês pelo seu fracasso na investigação das
violações e de outros crimes contra os rohingya, apelando também à realização
de uma investigação internacional e independente.
"O
governo deveria parar de questionar estas denúncias de violações e em troca
oferecer apoio às vítimas e acesso a cuidados médicos", sustentou
Motaparthy.
Mais
de um milhão de rohingya vive em Rakhine e sofre discriminação na Birmânia, de
maioria budista.
A
maioria não tem cidadania e é considerada como imigrante ilegal do Bangladesh,
ainda que alguns vivam no país há várias gerações.
Os
rohingya são uma minoria muçulmana apátrida considerada uma das mais
perseguidas do planeta pelas Nações Unidas.
DM
(PAL) // FV.
Sem comentários:
Enviar um comentário