“Em
Timor ... jornalistas portugueses cumpriram o sagrado dever que é o de
emprestar a voz a quem não tem voz ...” (Adelino Gomes).
Timor-Leste
sempre reconheceu o papel decisivo que a imprensa teve no longo percurso para a
independência e, por esse motivo, foram muitos os jornalistas e órgãos de
informação condecorados desde a independência.
No
dia 20 de maio do corrente mês, este país comemorou o 15.º aniversário da
independência e Francisco Lu-olo Guterres tomou posse como o novo presidente da
República. Na semana anterior, o então presidente da República Taur Matan Ruak
voltou e relembrar a importância dos jornalistas na denúncia da opressão a que
os timorenses estavam sujeitos e condecorou mais alguns jornalistas.
Homenagem
a Anabela Góis
Uma
das pessoas condecoradas no corrente mês com a “Ordem de Timor” foi Anabela
Góis. Esta jornalista, entre as muitas ações em que participou ao serviço da Rádio Renascença, em 1997 entrevistou Xanana Gusmão na cadeia em Cipinang,
Indonésia; Acompanhou as negociações Portugal/Indonésia, a preparação do
referendo e o recenseamento em 1999; Assistiu à campanha e à consulta popular
de 30 de agosto de 1999, assim como presenciou pessoalmente e relatou dia a dia
toda a violência que se seguiu à divulgação dos resultados do referendo; Esteve
nos campos de refugiados; Assistiu à libertação de Xanana Gusmão em Jakarta;
Acompanhou as primeiras eleições de Timor-Leste e assistiu à independência do
país em maio de 2002.
Embora
esta homenagem seja pessoal, não deixa de representar um reconhecimento e bom
exemplo, entre muitos outros, de que jornalismo português se orgulha.
Jornalistas
assassinados
O
trabalho da imprensa em Timor-Leste, antes da independência, nunca foi fácil,
os jornalistas sempre foram personae non gratae e alguns pagaram bem cara a sua
missão. Logo de início da ocupação, cinco jornalistas foram assassinados a 16
outubro de 1975 em Balibó (Bobonaro): os australianos Greg Shackleton e Tony
Stewart; o neozelandês Gary Cunningham e os britânicos Brian Peters e Malcom
Rennie. Adelino Gomes, na altura ao serviço da RTP, esteve com estes
jornalistas em Balibó, poucas horas antes de serem assassinados.
Após
a consulta popular de 30 agosto de 1999, outros jornalistas perderam a vida,
como o timorense Bernardino Guterres, crítico da ocupação que foi assassinado
em 26 agosto de 1999 e Sander Thoens, correspondente do Jornal Financial Times,
abatido a tiro em Becora em 22 setembro 1999 quando tentava fazer uma reportagem
sobre um ataque de milícias. Junto à igreja de Becora há uma placa em sua
homenagem e essa rua passou a chamar-se Avenida da Liberdade de Imprensa, uma
das maiores avenidas de Dili.
Coragem
dos jornalistas portugueses
Durante
os ataques e massacres de 1999, os jornalistas que se encontravam em Dili foram
aconselhados e ameaçados para que abandonassem o território. A maior parte
saiu, mas vários jornalistas portugueses, correndo risco de vida, resistiram às
milícias e militares indonésios, não abandonaram a cidade e continuaram junto
dos timorenses a reportar o que se passava. Como atrás se viu, com casos de
jornalistas assassinados, as ameaças eram bem reais e sérias.
Entre
estes jornalistas encontravam-se Hernâni Carvalho, Jorge Araújo, José Vegar e
Luciano Alvarez, sobre os quais Adelino Gomes, que também conviveu com o risco
de vida, mencionou na sessão de apresentação do livro “Timor - O Insuportável
Ruído das Lágrimas”, Campo das Letras, Porto, 2000: Em Timor-Leste os
“jornalistas portugueses cumpriram o sagrado dever que é o de emprestar a voz a
quem não tem voz ... Eles foram os protagonistas de uma das mais belas páginas
de sempre do jornalismo português.”
João
Luís Gonçalves | Diário de Notícias (Funchal)
Sem comentários:
Enviar um comentário