Liquiçá,
Timor-Leste, 14 jun (Lusa) - O Presidente da República timorense defendeu hoje
que as "histórias de coragem" da luta timorense pela independência do
país devem ser registadas, inclusive para inspirar gerações vindouras.
"Creio
que existem muitas histórias de coragem desde o tempo dos nossos antepassados
até ao dia de hoje. Temos de registar estas histórias em papel para que as
gerações futuras saibam que contributos foram dados para a história que nos
identifica como povo", afirmou Francisco Guterres Lu-Olo em Liquiçá, oeste
de Díli.
O
chefe de Estado defendeu também um maior investimento na preservação de
património de "notável valor histórico" como a cadeia de Aipelo e
outras "heranças valiosas do tempo colonial português" que permanecem
no município de Liquiçá.
"Algumas
das construções antigas repletas de história foram recuperadas, outras
encontram-se em processo de degradação", disse, dando como exemplo da
residência do administrador, construída antes de 1910 e agora "em estado
de degradação".
Lu-Olo
falava numa cerimónia de sepultamento dos restos mortais de 259 pessoas
oriundas daquele município, que foram recolhidos em vários pontos de
Timor-Leste e foram agora homenageados.
A
cerimónia, que decorreu no Jardim dos Heróis de Liquiçá, pretendia prestar
homenagem "àqueles que deram a vida pela luta pela libertação
nacional", segundo explicou a Presidência da República.
Os
restos mortais destes mártires foram recolhidos em vários locais do país com o
apoio dos familiares, da Comissão de Recolha de Restos Mortais do município de
Liquiçá e do Ministério da Solidariedade Social.
"A
cerimónia de enterro faz parte dos esforços do Estado em dignificar a luta dos
heróis para a libertação nacional. O facto de os restos mortais dos 259
mártires terem sido recolhidos em diversos locais do país revela o contributo
da comunidade de Liquiçá para o objetivo comum da libertação nacional contra a
ocupação indonésia", frisa uma nota da Presidência.
Discursando
em nome de todos os órgãos de soberania, mas também como "veterano e
combatente" Lu-Olo considerou essencial recordar a história da luta dos
timorenses pela sua libertação da ocupação indonésia.
A
homenagem de hoje, disse, é uma oportunidade para recordar um período da
história que representa o "sonho e vontade coletivos" dos timorenses,
construída "não por um ou dois indivíduos", mas por todos.
"Uma
história construída com coragem, determinação e sacrifícios. Durante 25 anos,
milhares de pessoas perderam a vida. Milhares de pessoas foram presas e
sacrificadas. Milhares de pessoas deram a sua vida, no país e no estrangeiro,
para fazer do nosso derradeiro sonho uma realidade: a independência", disse.
"Pela
sua ação militar ou política merecem a nossa homenagem, porque foi através do
seu sacrifício que restaurámos a nossa independência a 20 de maio de 2002. Foi
este sacrifício que nos permitiu construir o nosso país", disse o chefe de
Estado.
"Foi
através deste sacrifício que hoje estamos aqui como um só povo com a sua
própria história, a sua cultura, a sua consciência e vontade própria",
acrescentou.
O
Presidente da República recordou alguns dos 'filhos de Liquiçá' que deram a
vida pela independência, entre eles o segundo Presidente, Nicolau Lobato
"que, desde o tempo dos portugueses, se debruçava sobre como libertar o
povo subjugado".
"Escolhemos
um local que se torna hoje parte da nossa memória coletiva, em que os
dignificamos como obreiros deste país que é Timor-Leste. Este local torna-se
hoje uma grande referência histórica para as gerações vindouras e para aqueles
que nos visitam hoje e nos irão visitar, oriundos de países distantes",
disse.
A
cerimónia contou com a presença de vários líderes nacionais, incluindo o
primeiro-ministro Rui Maria de Araújo, o presidente do Parlamento Nacional,
Adérito Hugo da Costa e o presidente do Tribunal de Recurso, Deolindo dos
Santos.
ASP//ISG
Foto:
Dom Norberto Amaral abençoa os restos mortais, iha Liquiça, Kuarta (14/06).
FOTO TATOLI: Xisto Freitas
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