quarta-feira, 14 de junho de 2017

"Histórias de coragem" da luta timorense pela independência devem ser registadas -- PR

Liquiçá, Timor-Leste, 14 jun (Lusa) - O Presidente da República timorense defendeu hoje que as "histórias de coragem" da luta timorense pela independência do país devem ser registadas, inclusive para inspirar gerações vindouras.

"Creio que existem muitas histórias de coragem desde o tempo dos nossos antepassados até ao dia de hoje. Temos de registar estas histórias em papel para que as gerações futuras saibam que contributos foram dados para a história que nos identifica como povo", afirmou Francisco Guterres Lu-Olo em Liquiçá, oeste de Díli.

O chefe de Estado defendeu também um maior investimento na preservação de património de "notável valor histórico" como a cadeia de Aipelo e outras "heranças valiosas do tempo colonial português" que permanecem no município de Liquiçá.

"Algumas das construções antigas repletas de história foram recuperadas, outras encontram-se em processo de degradação", disse, dando como exemplo da residência do administrador, construída antes de 1910 e agora "em estado de degradação".

Lu-Olo falava numa cerimónia de sepultamento dos restos mortais de 259 pessoas oriundas daquele município, que foram recolhidos em vários pontos de Timor-Leste e foram agora homenageados.


A cerimónia, que decorreu no Jardim dos Heróis de Liquiçá, pretendia prestar homenagem "àqueles que deram a vida pela luta pela libertação nacional", segundo explicou a Presidência da República.

Os restos mortais destes mártires foram recolhidos em vários locais do país com o apoio dos familiares, da Comissão de Recolha de Restos Mortais do município de Liquiçá e do Ministério da Solidariedade Social.

"A cerimónia de enterro faz parte dos esforços do Estado em dignificar a luta dos heróis para a libertação nacional. O facto de os restos mortais dos 259 mártires terem sido recolhidos em diversos locais do país revela o contributo da comunidade de Liquiçá para o objetivo comum da libertação nacional contra a ocupação indonésia", frisa uma nota da Presidência.

Discursando em nome de todos os órgãos de soberania, mas também como "veterano e combatente" Lu-Olo considerou essencial recordar a história da luta dos timorenses pela sua libertação da ocupação indonésia.

A homenagem de hoje, disse, é uma oportunidade para recordar um período da história que representa o "sonho e vontade coletivos" dos timorenses, construída "não por um ou dois indivíduos", mas por todos.

"Uma história construída com coragem, determinação e sacrifícios. Durante 25 anos, milhares de pessoas perderam a vida. Milhares de pessoas foram presas e sacrificadas. Milhares de pessoas deram a sua vida, no país e no estrangeiro, para fazer do nosso derradeiro sonho uma realidade: a independência", disse.

"Pela sua ação militar ou política merecem a nossa homenagem, porque foi através do seu sacrifício que restaurámos a nossa independência a 20 de maio de 2002. Foi este sacrifício que nos permitiu construir o nosso país", disse o chefe de Estado.

"Foi através deste sacrifício que hoje estamos aqui como um só povo com a sua própria história, a sua cultura, a sua consciência e vontade própria", acrescentou.

O Presidente da República recordou alguns dos 'filhos de Liquiçá' que deram a vida pela independência, entre eles o segundo Presidente, Nicolau Lobato "que, desde o tempo dos portugueses, se debruçava sobre como libertar o povo subjugado".

"Escolhemos um local que se torna hoje parte da nossa memória coletiva, em que os dignificamos como obreiros deste país que é Timor-Leste. Este local torna-se hoje uma grande referência histórica para as gerações vindouras e para aqueles que nos visitam hoje e nos irão visitar, oriundos de países distantes", disse.

A cerimónia contou com a presença de vários líderes nacionais, incluindo o primeiro-ministro Rui Maria de Araújo, o presidente do Parlamento Nacional, Adérito Hugo da Costa e o presidente do Tribunal de Recurso, Deolindo dos Santos.

ASP//ISG

Foto: Dom Norberto Amaral abençoa os restos mortais, iha Liquiça, Kuarta (14/06). FOTO TATOLI: Xisto Freitas

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