Perth,
Austrália, 03 nov (Lusa) - O primeiro-ministro timorense disse hoje que o
Orçamento Retificativo vai contemplar um aumento de cerca de 211 milhões de
dólares nas contas deste ano para pagar projetos adjudicados nos últimos meses
do anterior executivo.
"O
retificativo inclui as dívidas que foram contraídas nos primeiros meses do
segundo semestre deste ano com projetos adjudicados de forma direta a 140 e tal
empresas. No total são 211 milhões de dólares", disse Mari Alkatiri em
declarações à Lusa em Perth, na Austrália.
"Isso
entra já no Orçamento Retificativo. Antes de pagar teremos que nos certificar
que as obras foram feitas, que tudo foi cumprido. Só uma auditoria poderá
revelar o mistério do porquê desta atribuição de tantos contratos em ajuste direto",
referiu.
Globalmente,
Alkatiri disse que a estrutura do novo Governo implica uma "poupança
imediata de 40 milhões de dólares" e garante que a poupança será ainda
maior no próximo ano "em termos de disciplina de despesas".
"Esta
estrutura não existia no Governo passado e por isso é sempre preciso em
mudanças de Governo um retificativo. Não é por causa do primeiro-ministro, esse
cargo fica sempre, ainda que eu não esteja a receber nada. Disse que não queria
receber salário até a situação estar clarificada. Estou a viver da minha
pensão", afirmou.
Mari
Alkatiri falava à Lusa em Perth onde participa, entre hoje e domingo, na
Conferência Regional da Ásia-Pacífico (APRC, na sigla em inglês) cuja abertura
oficial contará com uma intervenção sua, do seu homólogo australiano, Malcolm
Turnbull, e do presidente alemão Frank-Walter Steinmeier.
Durante
a visita, Alkatiri tem previsto encontros bilaterais com o presidente alemão,
com o primeiro-ministro e ministro das Finanças australiano, com o ministro dos
Negócios Estrangeiros de Singapura e com os presidentes da Woodside Petroleum e
da Conoco Philips, entre outros.
Alkatiri
disse que as negociações entre Timor-Leste e a Austrália sobre as fronteiras
marítimas deverão, naturalmente, ser referidas no encontro com Turnbull mas que
não serão abordadas questões concretas.
"Confio
totalmente na equipa que está a negociar e não vou querer interferir no
processo", disse, afirmando que o acordo entre os dois países é "o
possível" com "uma fasquia bastante alta para Timor-Leste".
Alkatiri
negociou com a Austrália um primeiro acordo entre Timor-Leste e Austrália e os
posteriores acordos sobre gestão e partilha de recursos (CMATS).
"Se
não fosse o primeiro tratado não teríamos recursos para fazer este segundo. Sem
o CMATS não teríamos ratificação e sem isso Bayu Undan não teria avançado e sem
isso não teríamos o Fundo Petrolífero que no total já deu a Timor-Leste 20 mil
milhões de dólares", recordou.
A
Conferência Regional da Ásia-Pacífico pretende analisar novas oportunidades de
investimento e comércio quer entre a Austrália e a Alemanha, quer dos dois
países na região da Ásia e do Pacífico.
Alkatiri
admite que, tendo em conta a situação política em Timor-Leste, ponderou se
deveria ou não aceitar o convite para ir a Perth, que é a sua primeira visita
ao estrangeiro desde que tomou posse, em 15 de setembro.
"Havia
uma certa vontade do Governo australiano de ver a minha participação. A
situação política em Timor-Leste não está totalmente clarificada mas depois
considerei que é uma oportunidade para ver até onde Timor-Leste pode beneficiar
desta vontade de se investir no país", disse.
Na
mesa está, entre outros projetos, um investimento alargado na região de Baucau
que abrange além da já projetada fábrica de cimento, um parque solar e outros
projetos adicionais.
"É
um investimento que não se deve perder, que oferece a oportunidade de produção
de energia de fontes renováveis o que pode permitir injetar essa energia na
rede e baixar até os nossos custos energéticos", considerou Alkatiri.
"Baucau
é a porta de entrada da zona leste do país, uma região que tem várias
potencialidades, nas áreas do turismo, mas também na industria extrativa. Para
equilibrarmos um pouco o fundo petrolífero precisamos de outras fontes e as
fontes da indústria transformadora e extrativa são as que mais rapidamente
podemos desenvolver", sublinhou.
ASP
// DM
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