sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Orçamento retificativo timorense rondará 211 milhões de dólares -- primeiro-ministro

Perth, Austrália, 03 nov (Lusa) - O primeiro-ministro timorense disse hoje que o Orçamento Retificativo vai contemplar um aumento de cerca de 211 milhões de dólares nas contas deste ano para pagar projetos adjudicados nos últimos meses do anterior executivo.

"O retificativo inclui as dívidas que foram contraídas nos primeiros meses do segundo semestre deste ano com projetos adjudicados de forma direta a 140 e tal empresas. No total são 211 milhões de dólares", disse Mari Alkatiri em declarações à Lusa em Perth, na Austrália.

"Isso entra já no Orçamento Retificativo. Antes de pagar teremos que nos certificar que as obras foram feitas, que tudo foi cumprido. Só uma auditoria poderá revelar o mistério do porquê desta atribuição de tantos contratos em ajuste direto", referiu.

Globalmente, Alkatiri disse que a estrutura do novo Governo implica uma "poupança imediata de 40 milhões de dólares" e garante que a poupança será ainda maior no próximo ano "em termos de disciplina de despesas".


"Esta estrutura não existia no Governo passado e por isso é sempre preciso em mudanças de Governo um retificativo. Não é por causa do primeiro-ministro, esse cargo fica sempre, ainda que eu não esteja a receber nada. Disse que não queria receber salário até a situação estar clarificada. Estou a viver da minha pensão", afirmou.

Mari Alkatiri falava à Lusa em Perth onde participa, entre hoje e domingo, na Conferência Regional da Ásia-Pacífico (APRC, na sigla em inglês) cuja abertura oficial contará com uma intervenção sua, do seu homólogo australiano, Malcolm Turnbull, e do presidente alemão Frank-Walter Steinmeier.

Durante a visita, Alkatiri tem previsto encontros bilaterais com o presidente alemão, com o primeiro-ministro e ministro das Finanças australiano, com o ministro dos Negócios Estrangeiros de Singapura e com os presidentes da Woodside Petroleum e da Conoco Philips, entre outros.

Alkatiri disse que as negociações entre Timor-Leste e a Austrália sobre as fronteiras marítimas deverão, naturalmente, ser referidas no encontro com Turnbull mas que não serão abordadas questões concretas.

"Confio totalmente na equipa que está a negociar e não vou querer interferir no processo", disse, afirmando que o acordo entre os dois países é "o possível" com "uma fasquia bastante alta para Timor-Leste".

Alkatiri negociou com a Austrália um primeiro acordo entre Timor-Leste e Austrália e os posteriores acordos sobre gestão e partilha de recursos (CMATS).

"Se não fosse o primeiro tratado não teríamos recursos para fazer este segundo. Sem o CMATS não teríamos ratificação e sem isso Bayu Undan não teria avançado e sem isso não teríamos o Fundo Petrolífero que no total já deu a Timor-Leste 20 mil milhões de dólares", recordou.

A Conferência Regional da Ásia-Pacífico pretende analisar novas oportunidades de investimento e comércio quer entre a Austrália e a Alemanha, quer dos dois países na região da Ásia e do Pacífico.

Alkatiri admite que, tendo em conta a situação política em Timor-Leste, ponderou se deveria ou não aceitar o convite para ir a Perth, que é a sua primeira visita ao estrangeiro desde que tomou posse, em 15 de setembro.

"Havia uma certa vontade do Governo australiano de ver a minha participação. A situação política em Timor-Leste não está totalmente clarificada mas depois considerei que é uma oportunidade para ver até onde Timor-Leste pode beneficiar desta vontade de se investir no país", disse.

Na mesa está, entre outros projetos, um investimento alargado na região de Baucau que abrange além da já projetada fábrica de cimento, um parque solar e outros projetos adicionais.

"É um investimento que não se deve perder, que oferece a oportunidade de produção de energia de fontes renováveis o que pode permitir injetar essa energia na rede e baixar até os nossos custos energéticos", considerou Alkatiri.

"Baucau é a porta de entrada da zona leste do país, uma região que tem várias potencialidades, nas áreas do turismo, mas também na industria extrativa. Para equilibrarmos um pouco o fundo petrolífero precisamos de outras fontes e as fontes da indústria transformadora e extrativa são as que mais rapidamente podemos desenvolver", sublinhou.

ASP // DM

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