António
Sampaio, enviado da Agência Lusa
Perth,
Austrália, 03 nov (Lusa) - O primeiro-ministro timorense disse hoje que
eventuais eleições antecipadas em Timor-Leste, no caso da possível queda do
Governo se a oposição chumbar pela segunda vez o programa do executivo, terão
um resultado clarificador.
"Em
última análise o povo poderá ter que ser chamado de novo a decidir. Mas não
acho que haverá indecisão depois disso", disse Mari Alkatiri em entrevista
à Lusa em Perth.
"O
povo está consciente de que [nas eleições legislativas de 22 de julho] distribuiu
a sua votação na busca de estabilidade e só criou instabilidade e tem por isso
que concentrar mais os seus votos no partido que achar melhor para governar o
país", considerou.
Afirmando
que ainda é possível "encontrar uma solução dentro do contexto do VII
Governo", Alkatiri considera que todos os líderes políticos têm que pensar
"claramente" no que estão a fazer no atual momento político.
"Toda
esta brincadeira que se está a fazer é de muito mau gosto. Eu ainda sou
otimista, por natureza, e acho que vamos ultrapassar a situação",
considerou.
Mari
Alkatiri falava à Lusa em Perth onde participa, entre hoje e domingo, na Asia
Pacific Regional Conference cuja abertura oficial contará com uma intervenção
sua, do seu homólogo australiano, Malcolm Turnbull, e do presidente alemão
Frank-Walter Steinmeier.
Durante
a visita Alkatiri tem previsto encontros bilaterais com o presidente alemão,
com o primeiro-ministro e ministro das Finanças australiano, com o ministro dos
Negócios Estrangeiros de Singapura e com os presidentes da Woodside Petroleum e
da Conoco Philips, entre outros.
Timor-Leste
vive desde as eleições de 22 de julho um momento de intensa tensão política com
a Fretilin a liderar um Governo minoritário - em coligação com o Partido
Democrático - que controla apensa 30 dos 65 lugares no Parlamento.
A
oposição maioritária - formada pelo Congresso Nacional da Reconstrução
Timorense (CNRT), Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek Haburas Unidade
Nacional Timor Oan (KHUNTO) - anunciaram a criação de uma Aliança de Maioria
Parlamentar (AMP) como alternativa ao Governo.
No
mês passado apresentaram uma moção de rejeição ao programa do Governo que
anunciou entretanto que está a preparar um novo documento que quer apresentar
ao parlamento em conjunto com o Orçamento Retificativo "até final do
ano".
Se
esse programa for novamente alvo de chumbo o Governo cai e o Presidente da
República tem que escolher entre procurar uma nova solução governativa no atual
cenário parlamentar ou avançar para eleições antecipadas.
Alkatiri
insiste que "constitucional e legalmente, a AMP não existe" já que,
sustenta "qualquer coligação político-partidária envolve lideranças
político-partidárias" e, no caso do CNRT, a participação nessa coligação
implica "voltar à sua Conferência Nacional para fazer uma decisão
contrária da que fez" depois das eleições.
"Esta
AMP Não existe. E por isso quando se dirigem ao Presidente da República assinam
os 35 deputados. (...) Xanana Gusmão [presidente do CNRT] está fora do país e
Taur Matan Ruak [presidente do PLP] mesmo estando em Timor-Leste nunca assinou
nada, por isso não existe coligação", afirmou.
"E
mesmo existindo, o Presidente da República não é obrigado a convidar o segundo
partido mais votado [a formar Governo]", disse ainda.
Questionado
sobre a posição de Xanana Gusmão no atual cenário - o líder histórico timorense
está fora do país há várias semanas e tem feito declarações que não clarificam
totalmente a sua postura - Alkatiri admite que a sua posição será
"decisiva".
"As
pessoas andam para aí a dizer que eu menti quando disse que Xanana Gusmão tinha
garantido a viabilização do Governo da Fretilin se houvesse uma coligação que
elevasse o número de cadeiras até pelo menos 30. E ele prometeu. E não foi só a
mim. Disse isso no encontro a três com o Presidente da República e no último
encontro entre os dois partidos", afirmou.
"De
repente dizem que ele nega. Eu não acredito. Isso é invenção deles no
parlamento. Porque é que até agora, ainda não puseram uma declaração em vídeo
de Xanana a desmentir isso?", considerou, admitindo que não sabe
"exatamente o que Xanana vai fazer daqui para a frente".
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// FV
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