Washington, 16 jan (Lusa) --
Timor-Leste passou de país "parcialmente livre" para
"livre", após "eleições justas que levaram a uma suave
transferência de poder e possibilitaram a novos partidos e candidatos a entrada
no sistema político", segundo a organização não-governamental (ONG)
Freedom House.
No seu relatório anual sobre
direitos políticos e liberdades civis no mundo, hoje divulgado, a ONG refere
que, ao realizar eleições livres e transparentes, "Timor-Leste, uma das
nações mais pobres do Sudeste Asiático, contrariou a tendência de declínio da
liberdade na região".
"O processo [eleitoral]
ajudou a consolidar o desenvolvimento democrático no país, além de permitir que
novos partidos e políticos mais jovens conquistassem assentos no
parlamento", indicaram os relatores.
No documento, intitulado
"Freedom in the World 2018: Democracy in Crisis" ("Liberdade no
Mundo 2018: A Democracia em Crise"), a organização não-governamental
centra-se sobretudo na crise da democracia a nível global sublinhando que "a
democracia está sob ataque e a recuar em todo o mundo", numa crise que se
intensificou com "a erosão, a ritmo acelerado, dos padrões democráticos
dos Estados Unidos da América".
Segundo a Freedom House, 2017 foi
o 12.º ano consecutivo de queda da liberdade global, com 71 países a sofrerem
"claros declínios" nos domínios dos direitos políticos e liberdades
civis e apenas 35 a registarem avanços.
Dos 195 países avaliados neste
estudo, 88 (45%) foram classificados como "livres", 58 (30%) como
"parcialmente livres" e 49 (25%) como "não livres".
Dos 49 países designados como
"não livres", estes 12 foram os que se posicionaram no fundo da
tabela, com uma pontuação abaixo de dez numa escala de 100 (começando pelo
menos livre): Síria, Sudão do Sul, Eritreia, Coreia do Norte, Turquemenistão,
Guiné Equatorial, Arábia Saudita, Somália, Uzbequistão, Sudão, República
Centro-Africana e Líbia.
"Estados outrora promissores
como a Turquia, a Venezuela, a Polónia e a Tunísia estão entre aqueles que
experimentaram declínios nos padrões democráticos; a recente abertura
democrática em Myanmar (antiga Birmânia) ficou permanentemente arruinada por
uma chocante campanha de limpeza étnica contra a minoria Rohingya", lê-se
no relatório.
Para o presidente da Freedom
House, Michael J. Abramowitz, "a democracia enfrenta a sua mais grave
crise em décadas", com os seus "princípios básicos -- entre os quais
a garantia de eleições livres e justas, os direitos das minorias, a liberdade
de imprensa e o Estado de direito -- sob ataque em todo o mundo".
O estudo refere como "a
China e a Rússia aproveitaram o recuo das maiores democracias não só para
aumentar a repressão a nível interno, como para exportar a sua influência
maligna para outros países".
"Para manter o poder, estes
regimes autocráticos estão a atuar além das suas fronteiras para silenciar o
debate livre, perseguir dissidentes e comprometer instituições assentes em
normas consagradas", apontam os relatores.
Um grande desenvolvimento em 2017
foi, segundo o relatório, "o recuo dos Estados Unidos como defensor e como
exemplo de democracia".
Enquanto, nos últimos sete anos,
a Freedom House identificou um lento recuo nos direitos políticos e liberdades
civis no país, esse declínio acelerou em 2017, "devido às crescentes
evidências de ingerência russa nas eleições [presidenciais norte-americanas] de
2016, à violações de princípios éticos básicos pelo novo Governo e a uma
redução da transparência governamental".
"Embora instituições
norte-americanas como a imprensa e a justiça tenham resistido perante ataques
sem precedentes do Presidente [Donald] Trump, tais ataques poderão
enfraquecê-las, o que terá graves implicações na saúde da democracia
norte-americana e no lugar dos Estados Unidos no mundo", sustentam os
relatores.
Além disso, prosseguem, "a
abdicação dos Estados Unidos do seu tradicional papel de maior defensor da
democracia causa grande preocupação e tem potenciais consequências na luta em
curso contra autoritarismos modernos e suas ideias perniciosas".
"As principais instituições
da democracia norte-americana estão a ser maltratadas por uma Administração que
tem tratado a tradicional separação de poderes do país com desdém",
declarou Abramowitz.
Noutro "desenvolvimento
significativo", a Turquia passou do grupo dos países "parcialmente
livres" para o dos "não livres" quando o Presidente, Recep
Tayyip Erdogan, "alargou e intensificou a perseguição aos seus alegados
opositores, iniciada após uma tentativa falhada de golpe de Estado em julho de
2016, com consequências extremas para os cidadãos turcos", indica o
relatório.
De acordo com a ONG, no período
de 12 anos desde que o recuo de liberdade começou, em 2006, foram 113 os países
que assistiram a um claro declínio dos direitos políticos e liberdades civis, e
só 62 registaram um claro aumento.
ANC // EL
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