Fernando Figueiredo* | opinião
Timor-Leste, país candidato à
ASEAN, vai de novo ser testado de forma democrática, com a realização das
eleições antecipadas apontadas para 12 de Maio depois da crise política e
impasse vivido entre o governo minoritário Fretilin+PD formado apenas no ano
passado e a aliança politica do CNRT+PLP+KHUNTO no parlamento. Mas, enquanto os
comentadores políticos, jornalistas e editores incluindo críticos já conhecidos
da comunidade internacional usam esse facto para questionar os méritos da
democracia e da magistratura do presidente Francisco “Lu-Olo” Guterres, o facto
é que este exercício também é prova suficiente de maturidade numa região onde a
democracia é ainda nalguns casos uma miragem.
Não quero com isto afirmar que a
democracia de Timor-Leste já tem um quadro sólido mas quando comparado com a
maioria do resto da ASEAN, o governo em Díli tem credenciais que o resto do
sudeste da Ásia apenas apregoa.
Das dez nações da ASEAN, o
Vietname e o Laos permanecem estados comunistas de partido único, enquanto
Singapura e Malásia nunca foram sequer testados numa mudança de partidos
políticos no governo. E se atentarmos nas restantes democracias na região,
vemos que a Tailândia não é um país estranho a golpes de Estado, nas Filipinas
a eleição do presidente Rodrigo Duterte minou totalmente a democracia e a lista
podia continuar com a oposição dissolvida no Cambodja. Em Myanmar, as eleições
e uma mudança no governo não conseguiram conter o controle militar e levantam
questões fundamentais sobre o estado de seu povo. O Brunei apesar de algumas
mudanças estéticas do final, incluindo a introdução da lei da Shariah pouco ou
nada tem de democracia enquanto espaço de liberdade e tolerância.
Então, quando o
presidente Lu Olo diz: “Peço às pessoas que votem novamente. Todos
iremos votar. Todos iremos às eleições para melhorar nossa democracia “,
isso é neste espaço da ASEAN um exemplo para todos esses modelos de governo
mais sombrios em toda a região. Muito longe das ameaças de guerra e turbulência
social usadas pelos líderes políticos em outros países próximos para justificar
o poder e o enraizamento das elites governantes, este pequeno país com uma
história de apenas 16 anos e apenas cerca de 1,3 milhões de pessoas, que se
apresentam em grande número para votar nas eleições presidenciais ou
parlamentares, é um exemplo a seguir.
Paradoxalmente, mesmo quando a
democracia de Timor-Leste se tem afirmado como exemplo para os seus colegas do
Sudeste Asiático, a admissão na ASEAN tem sido sucessivamente adiada. Díli
apresentou um pedido para se juntar à ASEAN em 2011, quando a Indonésia assumiu
a presidência do grupo e os países membros concordaram em realizar um estudo de
viabilidade, mas até esta data, o progresso tem sido muito lento e quase nulo.
Alguns podem argumentar que o
actual impasse político reforça a necessidade de a ASEAN ser cautelosa antes de
aceitar a tentativa de Díli de se juntar ao grupo mas, na minha modesta
opinião, essas questões são, sem dúvida, coisas insignificantes quando
comparadas à luz dos problemas e atrasos ocorridos quando o Camboja e, em menor
medida, o Vietname, Myanmar e Laos, se lhe juntaram na década de 1990.
Não há neste momento garantias de
que as novas eleições resolvam o atual impasse político em Timor-Leste mas a
capacidade de aprendizagem e maturidade da democracia em Timor-Leste numa
região onde a estabilidade política está constantemente sob a ameaça de
políticos que procuram subverter os valores cívicos e democráticos deve ser
vista como um grande passo de um país pequeno com um passado tão sofrido e
problemático.
*Fernando Figueiredo | em Rua Direita |Publicado em Página Global
*Coronel na reserva, cidadão no
activo, politico novato à antiga e às direitas, amigo do seu amigo,
inconformado com a injustiça social, intolerante com a incompetência
Na foto: Lu Olo, atual PR no ato
de votar.
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