quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O Referendo de 30 de Agosto de 1999


Timor, Timor, tão longe, tão perto! Timor Lorosae! 

No dia do Referendo, a esperança e os sonhos eram imensos! Em Lisboa, a 30 de Agosto de 1999, eu, bem como outros tantos milhares de compatriotas escolhemos conscientemente, quisemos a independência! No estrangeiro, fosse em Lisboa ou em Sidney, o cenário era o mesmo: alegria, abraços, emoção pela certeza de que estávamos a escolher o nosso destino! Naquele dia memorável, materializava-se o sonho! Nós traçámos o nosso destino. Votámos pela independência!

Por essa altura, havia algo que nos enchia de orgulho: éramos todos timorenses! Unidade, era a palavra de ordem trazida da Convenção de Peniche quando, em Abril de 1998, o Conselho Nacional de Resistência Timorense substituiu o Conselho Nacional de Resistência Maubere, num sinal claro de que nada mais nos desunia e todos éramos poucos para defender Timor! Então, ninguém falava de puros ou mestiços, Lorosae ou Loromonu, de dentro ou de fora...

Os grandes males de Timor-Leste herdados do passado recente persistem. Os desafios são enormes. Em todas as áreas: na Justiça, na Saúde, na Educação, na Defesa e na Segurança, nas Infra-estruturas, na Administração Pública ou na Economia. Continuamos com falta de recursos humanos. Lutamos pela consolidação da nossa identidade. Quase nos deixámos levar pelos que apostaram em nos transformar no novíssimo Estado falhado deste milénio! Acordámos a tempo e percebemos que a nossa impreparação enquanto país independente aliada à nossa pequenez geográfica não é entrave para a manifestação da nossa soberania, da defesa dos nossos direitos e aprendemos a defendê-los sem receio de ferir as susceptibilidades e os interesses dos nossos vizinhos.

É verdade que campeiam a corrupção e a impunidade, a violência doméstica, o trabalho infantil, a prostituição, o desemprego. Mas é ainda verdade que, a par da edificação do Estado, a condição de país pós-conflito obriga necessariamente à tarefa hercúlea de recomposição da desestruturada sociedade timorense. Não é uma desculpa para os males que assolam o país nem sequer justifica o ainda mau estado em que nos encontramos. Mas é uma explicação válida para os altos e baixos por que temos passado...

A batalha pela conciliação, pelo desenvolvimento, pela construção da paz e do Estado é lenta, difícil! Não é, contudo, impossível!

Paulatinamente, vamos construindo o Estado de Timor-Leste. Um Estado de direito consagrado na Constituição da República, democrático, soberano, independente e unitário, baseado na vontade popular e no respeito pela dignidade da pessoa humana, com reconhecimento e valorização das normas e dos usos costumeiros. 

Queremos, temos a convicção profunda – ainda que de vez em quando nos ponhamos em causa - que Timor-Leste será terra do leite e do mel e, como costumamos dizer quando as coisas não nos correm de feição, se não for nos nossos dias, será nos dos nossos vindouros. Contudo, e ainda que o leite e o mel tardem a chegar a esta terra, estou certa de que nenhum dos timorenses que votou pela independência naquele dia histórico de 30 de Agosto de 1999 põe em causa a sua escolha. A essa escolha consciente, a essa vontade tão profundamente interiorizada de independência, apenas temos agora de acrescentar determinação, união de esforços e trabalho! Por Timor-Leste! Para que se cumpra na plenitude o desígnio do Referendo de 30 de Agosto de 1999.

Ângela Carrascalão sexta-feira, agosto 28, 2009

- em Timor - blogue convidado de Público

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