Díli, 30 ago (Lusa) - O
Presidente de Timor-Leste defendeu hoje, no 19.º aniversário do referendo da
independência, uma reflexão sobre o programa de educação cívica que deve ser
adotado para reforçar a identidade nacional, "que se tem vindo a
perder".
"Encorajo as instituições
relevantes a reunir com professores, famílias, grupos comunitários e religiosos
para debater o tipo de programa de educação cívica que é necessário para as
nossas crianças, começando pela família, passando pelo pré-escolar e etapas
seguintes, e a nível comunitário", disse Francisco Guterres Lu-Olo, numa
mensagem à nação.
"Através deste programa, as
nossas crianças aprenderão desde cedo os princípios e valores que nos
caracterizam como povo com identidade própria. Uma identidade que se formou com
os nossos antepassados e foi reforçada pelo contacto com outros povos e outros
países", sublinhou.
A recomendação foi deixada por
Francisco Guterres Lu-Olo numa mensagem em que relembrou o "grande e
profundo significado histórico" do 30 de agosto de 1999 quando, depois de
uma luta de 24 anos contra a ocupação indonésia, os timorenses puderam votar
pela sua independência.
Mais de 98% dos eleitores
timorenses votaram no referendo de 30 de agosto de 1999, tendo 78,5% optado
pela independência, que seria restaurada formalmente a 20 de maio de 2002.
Agora, disse, importa recuperar o
sentido de identidade timorense que "foi a âncora da nossa unidade
nacional durante a luta pela libertação nacional" e que "pode começar
a desmoronar-se se não houver diálogo sobre como construir o país para as
gerações futuras".
"O que precisamos de
preservar, agora que somos independentes? De que forma podemos integrar os
valores cristãos e os valores da crença animista? Que língua devemos adotar,
que sirva de vínculo nacional para nós, como povo? Que princípios e valores
queremos cultivar para as novas gerações?", questionou.
Lu-Olo destacou em particular a
renovada discussão "em torno da língua no currículo escolar", em
particular sobre as medidas necessárias para o reforço do português no país.
"Tendo em conta que a língua
portuguesa, como língua da resistência, é um elemento importante para a nossa
identidade e unidade nacional, que nos permite adquirir conhecimento científico
e avançar no caminho do desenvolvimento de forma mais rápida, peço aos
deputados e ao VIII Governo que reflitam calmamente sobre a forma como podemos
usar esta língua oficial no nosso sistema de educação", afirmou.
Na sua mensagem, Lu-Olo disse que
30 de agosto foi um dia importante para Timor-Leste que resultou também da ação
dos muitos que em todo o mundo apoiaram a luta pela independência timorense.
"Este dia representa uma
vitória para nós timorenses e para a comunidade internacional, assinalando uma
fase difícil de luta que enfrentámos juntos. Pessoas de todo o mundo, apesar de
não nos conhecerem, pelo seu sentido de justiça e solidariedade humana,
dedicaram-se à nossa luta pela libertação nacional", disse.
"Muitos insurgiram-se contra
o seu próprio governo, encorajando muitos outros a segui-los em campanhas que
realizavam anualmente, financiadas com dinheiro do seu próprio bolso, sem nunca
pedirem nada em troca", sublinhou.
Uma luta que, entre os
timorenses, se fez em três frentes - a armada, a clandestina e a externa -
demonstrando a "capacidade e determinação em alcançar a
independência" da sociedade timorense.
Lu-Olo aproveitou a sua mensagem
para recordar Kofi Annan, o ex-secretário-geral da ONU e Sérgio Vieira de
Mello, o administrador transitório das Nações Unidas em Timor-Leste - que se
mantiveram "empenhados" em apoiar os esforços de tornar o "sonho
da independência em realidade".
O Presidente da República
recordou ainda a importância da unidade nacional como motor do êxito da luta
pela independência, e relembrou alguns dos nomes dos líderes dos comandos
militares e políticos, dos fundadores do país e de muitos jovens ativos na
frente clandestina e internacionalmente.
"Todos estes deixaram um
legado nacionalista considerável às gerações atuais e futuras. Cada um com a
sua capacidade e sabedoria, em diferentes circunstâncias da luta, mas todos
desenvolveram e deram continuidade à luta, guiados por um só objetivo: o povo
de Timor-Leste tem de ser independente", disse.
Hoje, disse, a independência não
significa apenas ter bandeira ou hino ou governar, mas "também viver, pensar,
sentir e agir com orgulho, como cidadãos timorenses" que deve, defendeu,
continuar a afirmar a sua identidade própria.
"É importante percebermos
que a nossa identidade única foi deixada como legado pelos nossos antepassados,
influenciada pelos missionários católicos e pela colonização portuguesa durante
500 anos", disse.
"Durante a ocupação
indonésia, a maioria dos timorenses optou pela religião católica como forma de
resistência. Os nossos líderes optaram pelo português como língua da
resistência", recordou.
ASP // JMC
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