Díli, 18 out (Lusa) -
Especialistas timorenses defenderam hoje, em Díli, um reforço da capacidade dos
professores e dos alunos dos cursos de educação para que trabalhem com a língua
portuguesa, cabendo ao Estado aplicar uma política clara de língua.
"Não basta evocar a
importância histórica da língua portuguesa nem a sua dimensão global. É
necessário conceber uma agenda política consistente e coerente que permita
responder de modo adequado aos vários obstáculos a ultrapassar", disse
hoje Francisco Martins, reitor da Universidade Nacional Timor Lorosa'e (UNTL).
"Não chega as leis. A nossa
responsabilidade como cidadãos deste país é grande para implementar a política
do Estado como deve ser", afirmou.
Na abertura das 3as jornadas
Pedagógicas do Centro de Língua Portuguesa da Universidade Nacional Timor
Lorosa'e (UNTL), Francisco Martins disse que é necessário um "programa de
ensino público que respeite a formação linguística desde o pré-escolar até ao
terciário".
Um programa que "garanta
formação linguística de base em língua portuguesa para todas as crianças e
jovens, nas cidades e nas áreas mais remotas, através de um processo adequado,
igualitário e democrático de ensino e aprendizagem".
Apesar da política de línguas do
Estado estar bem definida, constitucional e legalmente, Martins diz que a sua
implementação "não está bem clara, não está bem definidade, nem bem
implementada".
"Não há uma política bem
definida, com rigor, pelas nossas autoridades", disse.
No mesmo encontro, Pedro Soares,
decano da Faculdade de Educação, artes e humanidades, destacou a dificuldade
que muitos professores enfrentam por terem material de apoio, incluindo
manuais, em português - recorrendo ao tétum para a instrução.
"Isso causa uma dificuldade
muito grande para os professores que têm, por isso, que melhorar a sua
capacidade na língua portuguesa", disse.
Esse esforço deve ser
particularmente vincado no caso de alunos que tiveram oportunidade de ir
completar a sua formação em Portugal ou no Brasil, mas continuam a recorrer ao
tétum para o ensino.
"Se terminam cursos em
Portugal ou no Brasil, e continuam com a língua tétum, estamos a dar uma margem
aos alunos para não desenvolver o seu português", afirmou.
Já Eugénia Jesus das Neves,
diretora do Departamento de Língua Portuguesa da UNTL, anota que apesar dessa
dificuldade de uso das duas línguas, o facto de muita terminologia ser em
português implica que o aluno "passa a conhecer a ciência e ao mesmo tempo
a língua".
"A língua portuguesa
transmite conhecimento científicos", disse.
No caso do curso de língua
portuguesa em concreto, Eugénia Jesus das Neves explicou que já foram formados
186 graduados a que este ano se somam mais 49.
Marcos Amaral, pró-reitor dos
assuntos académicos e coordenador-geral do projeto de Capacitação em Língua Portuguesa
da UNTL, defendeu, por seu lado, que professores e alunos devem assumir maior
responsabilidade no uso do português.
A constituição e as leis podem
vincar o português e o tétum como línguas oficiais e de instrução, mas falta
que isso seja implementado no espaço de ensino formal.
"Temos que ter coragem para
aprender melhor. No português, mas também no tétum", disse Amaral.
"Porque é que aqui, na universidade,
não falamos português? Qual é o problema, não vamos esquecer o tétum e não
vamos ser portugueses ou ser 'malaes' [estrangeiros]. É preciso aprender e
compreender bem em língua portuguesa e aproveitar a oportunidade que temos de
ter aqui cooperantes portugueses e brasileiros", disse.
O programa das jornadas integra
painéis temáticos sobre Didática, Linguística e Literatura e Cultura, mas
também mesas-redondas sobre o português "enquanto elemento de identidade
cultural e enquanto veículo de transmissão de conhecimentos, as vantagens
pessoais e profissionais de dominar a língua portuguesa e o papel das línguas
maternas em Timor-Leste", explicou.
Promovidas pelo Centro de Língua
Portuguesa da Universidade Nacional Timor Lorosa'e (UNTL) as jornadas decorrem
até sexta-feira no Auditório da Faculdade de Educação Artes e Humanidades
daquele centro educativo.
ASP // FST
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