quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Tensões militares entre a China e os EUA discutidas em encontro da ASEAN


Redação, 17 out (Lusa) - Os ministros da Defesa da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) reúnem num encontro dominado por disputas de fronteiras marítimas e preocupado com as tensões militares entre a China e os EUA.

O encontro, que decorre de quinta-feira a sábado, em Singapura, dificilmente encontrará soluções para as divergências no delinear de fronteiras marítimas que opõe interesses de vários dos 10 países membros da ASEAN.

Mas a disputa nos mares do sul da China também envolve os interesses de países como a China, o Japão e os Estados Unidos da América, cuja presença de representantes máximos da área da Defesa está agendada para o encontro de Singapura.

Mais pacíficas, nos debates, deverão ser as questões relacionadas com políticas de combate ao terrorismo, o desenvolvimento de pesquisas marítimas, e os planos de prevenção e proteção em caso de desastres naturais.

Os mares do sul da China constituem uma das rotas marítimas mais relevantes na geoestratégia política e militar, sendo palco de diversos contenciosos na delimitação de fronteiras, envolvendo essencialmente a China, mas também vários membros da ASEAN, como o Vietname, as Filipinas e a Malásia.

O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e o primeiro-ministro do Vietnam, Nguyen Xuan Phuc, reuniram na passada semana, na Indonésia para debater fronteiras marítimas disputadas por ambos os países, mas sem resultados visíveis.

Ao longo de décadas, as Filipinas, o Vietname, o Brunei e a Malásia (países membros da ASEAN), bem como a China e Taiwan, têm-se desentendido à volta de disputas sobre fronteiras nos mares do sul da China.

Recentemente, o clima de tensão aumentou nesta região, depois de o governo de Pequim ter transformado recifes em ilhas, onde instalou sistemas de defesa equipados com mísseis terra-ar, sob o protesto de vários países, em particular os membros da ASEAN, e com a evidente preocupação dos EUA.

Nos últimos meses, o presidente dos EUA, Donald Trump, tem aumentado o tom das críticas ao governo de Pequim, por uma crescente militarização das águas dos mares do sul.

A escalada de tensão entre os dois países teve um ponto alto em setembro passado, quando um 'destroyer' da marinha chinesa se aproximou agressivamente de um navio da frota americana destacada nos mares da China, obrigando-o a uma manobra de emergência para prever uma colisão.

O incidente foi reconhecido pelo Governo chinês que, contudo, o atribuiu à atitude ameaçadora da frota norte-americana.

Em declarações à estação televisiva Fox News, no passado domingo, o embaixador chinês nas Nações Unidas, Cui Tiankai, argumentava: "Não são os navios de guerra chineses que estão na costa da Califórnia, ou no Golfo do México. São os navios americanos que estão muito próximos da costa chinesa. Por isso, quem está na ofensiva?".

O secretário de Estado da Defesa norte-americano, James Mattis, chegou a ter uma visita à China marcada para dois dias antes da cimeira da ASEAN, mas cancelou a iniciativa, por causa do aumentar de tensão entre os dois países.

No encontro de ministros da Defesa, alguns países levarão para a agenda a preocupação com esta escalada, com alguns analistas a considerar que a posição da China tem conduzido a uma maior cooperação e envolvimento dos aliados de Washington -- incluindo a Austrália, o Japão e a Nova Zelândia -- na disputa das águas dos mares do sul da China.

Uma investigadora de relações internacionais, Elena Collinson, citada pelo jornal South China Morning Post, concluía que qualquer decisão tomada neste encontro em Singapura "levará em conta não apenas as relações de cada país da ASEAN com a China, mas também com o Oeste".

A ASEAN é uma organização regional de países do sudeste asiático englobando 10 países membros (Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Brunei, Myanmar, Cambodja, Laos e Vietname), com o objetivo de estimular o crescimento económico e assegurar a estabilidade política na região.

RJP // ANP

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